Sem muita pressa e com cara de típica cidade do interior, a vida segue seu curso normal no distrito de Bom Jardim (a 150 km de Cuiabá). Com pouco mais de 2 mil habitantes, a região é uma das antigas promessas em riqueza e glamour, por conta do potencial turístico. Com casas simples e de vida tranquila, o local segue sem a rotina movimentada dos grandes centros, durante a semana. Nas sextas-feiras o movimento da cidadezinha começa a crescer e as poucas pousadas que reúnem ao todo 300 leitos ficam lotadas, conforme informou o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Seneri Paludo.
Embora seja uma das maiores riquezas do ecoturismo com nascentes de águas cristalinas para banhos, piscinas naturais repletas de peixes e quedas d’água de tirar o folego, o distrito ainda não deslanchou. Com estradas de chão e áreas de difícil acessibilidade, aliados à hotelaria que ainda engatinha na área, a região ainda não sabe quando verá seu nome no ranking de pontos mais visitados de Mato Grosso. O estado que é líder na agricultura vive batendo recordes de produção de soja, algodão e milho, mas ainda não é tão conhecido como o vizinho Mato Grosso do Sul, que soube aproveitar o ecoturismo em Bonito e no Pantanal.
O local, que tem tudo para dar certo, ainda nem dispõe de rede de celular. Não é nenhum é exagero, como todos os moradores da cidade dizem: “quer ligar do celular? Só lá na frente do cemitério!”. E é verdade: lá ainda resta algum resquício de sinal para duas operadoras de telefonia. Um luxo, afinal quem quer saber de telefone em uma paisagem deslumbrante que conta com cavernas e grutas com lagos azuis como o céu?
Mas as dificuldades não param por aí: sem táxi ou empresas que aluguem carros adequados (de preferência 4×4), a viagem ganha um ‘extra’ de adrenalina. O turista desavisado também pode se perder pela falta de sinalização. Em tempos em que a gasolina está a um preço bem alto, esse ‘desvio’ pode ser de mais de 60 km (entre trechos de asfalto e estradas vicinais). “Eu e minha esposa fomos para conhecer Nobres, pois sempre falavam bem da cidade e das belezas naturais do local. Partimos de Cuiabá e acabamos nos perdendo, pois a maioria dos atrativos fica em Bom Jardim e não na cidade de Nobres”, contou o estudante Milton Junior.
Para o guia de turismo Verissimo, que é presidente da Associação de Condutores de Turismo de Nobres (Acontur), ainda há um longo caminho para tornar as atividades de lazer e ecoturismo profissionais na região. “Sou morador há muito tempo desta região, que é um assentamento do Incra. Nós desbravamos muitos destes locais e em pouco mais de 10 anos vimos várias destas atrações serem depredadas e mal administradas”, desabafou o profissional, que apesar das boas risadas e grandes histórias segue trabalhando por melhores condições de trabalho.
“Mês passado escorreguei em uma pedra e acabei no hospital com três pontos no rosto após bater a cabeça. Nobres e Bom Jardim precisa se adequar para o turismo de grande proporção”, disse. Ao todo estima-se que 50 guias trabalhem no local, entre moradores e trabalhadores rurais (como é o caso de Verissimo), que atendem em média 500 turistas em tempos de alta temporada.
Belezas naturais e pontos de visitação
Nobres – Com uma hidrografia privilegiada, o estado tem em Nobres sua porção de águas cristalinas em aquários naturais perfeitos para flutuação: os rios Salobra e Triste. A região que engloba o município é ideal para a prática de mergulho de superfície. O Aquário Encantado, por exemplo, possui águas repletas de peixes típicos da região, que nadam ao lado das pessoas. O lugar paradisíaco está a 10 km do distrito de Bom Jardim.
Para aventureiros que buscam uma bela queda d’água, a cacheira da Serra Azul conta com mais de 45 metros de queda livre e é impossível não ficar deslumbrado com a beleza do local. Para ser acessada, é preciso uma caminhada de 25 minutos, em meio à mata. Para os amantes da fauna, um entardecer ao som de araras azuis e amarelas é a grande pedida no Lago das Araras. O local abriga várias espécies das araras e é onde as aves fizeram seus ninhos para dormir e se abrigar dos predadores.
Chapada – Assim como a região de Nobres, a apenas 64 quilômetros de Cuiabá, o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães é um território de paredões de arenito em tons de vermelho e laranja, formações rochosas gigantescas, cachoeiras, cavernas, mirantes e cânions. A localização, no centro geodésico da América do Sul, dá margem a teorias sobre a energia mágica dos desfiladeiros, mas nem é preciso ser místico para se deixar envolver pela paisagem exótica do Cerrado.
Jaciara – O turismo de aventura em Mato Grosso conta com outro ponto alto em Jaciara, a 160 quilômetros da Chapada, na calha do Rio São Lourenço, onde se reúnem os fãs de rafting e rapel, praticados no Rio Tenente Amaral e na Cachoeira da Fumaça.
Pantanal – Por terra, os 150 quilômetros da Rodovia Transpantaneira viraram atração do Pantanal. Em época de chuva, trafegar por essa estrada de cascalho e terra, com mais de 100 pontes de madeira, pode ser uma aventura que desafia até parrudos veículos 4×4. Mas entre abril e setembro, na seca, é certeza encontrar capivaras, tamanduás, jacarés e revoadas de tuiuiús. O Pantanal, a maior planície alagada do planeta, dá lugar também a safáris em jipes que percorrem estradinhas e trilhas pelas fazendas para observação de sua fauna diversificada (a estrela mais esperada para os cliques é a onça-pintada). E, de abril a outubro, grupos de pescadores passam dias e noites a bordo de barcos na captura de pintados, pacus, dourados, piraputangas, entre as mais de 250 espécies de peixes que vivem no labirinto de rios do estado.