Com a revisão dos dados do primeiro trimestre, que também ocorreu nesta sexta e aponta para queda de 0,2%, o Brasil entrou no que se chama de "recessão técnica", com dois trimestres seguidos de queda. Mas o ministro diz que não se deve falar em recessão, que é uma "parada prolongada, como nos países europeus, que ficaram vários trimestres consecutivos com o PIB parado", argumentou. "Aqui (no Brasil) estamos falando de dois trimestres e sabemos que a economia está em movimento. Recessão é quando tem desemprego aumentando e a renda caindo. Aqui temos o contrário".
Entenda o que é o PIB
Mantega admitiu, no entanto, que não será possível fechar 2014 com a economia crescendo 1,8%, que era a previsão mais recente do governo. “Teremos que revisar para baixo a expectativa no relatório (de receitas e despesas do Ministério do Planejamento) de setembro”, disse.
Expectativa para o 3º trimestre
Ao comentar sobre a recessão técnica, o ministro apontou que "alguns parâmetros aceitos mundialmente" dizem que dois trimestres consecutivos de queda configuram recessão. Mas defendeu que uma alta do PIB no terceiro trimestre pode mudar o cenário.
"O primeiro trimestre influencia o segundo. Se tivermos um terceiro em alta, pode ser que os números sejam revisados e tenhamos apenas um trimestre de queda", argumentou Mantega.
O ministro destacou que a inflação – que começou mais alta no primeiro semestre – agora está num patamar “mais razoável” e que o crédito "começou a melhorar" após medidas de incentivo do governo.
“Os salários continuam crescendo. Isto significa que temos um mercado consumidor que potencialmente está crescendo. A inadimplência também está em um patamar razoável, isso cria um cenário onde pode ter uma melhora gradual no consumo", disse Mantega. "Com este cenário, podemos dizer que o segundo semestre será melhor que o primeiro, já estamos com um crescimento positivo no terceiro trimestre (com dados de julho). O ano vai terminar melhor do que começou."
Razões da queda
O ministro relacionou o recuo de 0,6% no segundo trimestre a problemas localizados. "A questão da seca, que se traduziu num aumento de custo do setor energético, afeta a expectativa. Não faltou energia e nem vai faltar, mas afeta a expectativa do custo", destacou.
"Outro fator que prejudicou o crescimento foram os dias úteis. No primeiro semestre, tivemos menos dias úteis em relação ao ano passado. É claro que todo mundo gosta, porque tem feriado, mas acaba tendo repercussão na produção e no consumo", lembrou o ministro. "As causas que levaram a isto não vão se repetir no segundo semestre."
No contexto global, Mantega também se disse decepcionado com o cenário internacional, que não trouxe o impacto positivo esperado pelo governo. A indústria, que teve queda de 1,5% na atividade do segundo trimestre, é o setor que mais sofre. "O mercado externo não absorve nossas exportações. (O setor industrial) só vai melhorar quando houver recuperação no exterior", disse o ministro.
Previsão para o ano
Antes dos 1,8% de crescimento previstos em julho passado, o governo chegou a projetar que a economia neste ano teria alta semelhante à de 2013, que foi de 2,5%.
O mercado financeiro acredita em crescimento de 0,7%, segundo o boletim divulgado pelo Banco Central na última segunda-feira (25). Essa projeção vem caindo desde o início do ano e motivou o jornal "Financial Times" a comparar o movimento à "dança da cordinha", desafio em que é preciso passar sob a corda colocada cada vez mais perto do chão.
G1