Cidades

Mães denunciam ‘golpe’ de vagas em escolas de Cuiabá

Nas últimas semanas circulam boatos em Cuiabá de que uma associação estaria “oferecendo” vagas para crianças carentes estudarem nas melhores escolas particulares de Cuiabá e Várzea Grande. A informação chegou à reportagem do Circuito Mato Grosso por meio de duas mães que ficaram sabendo da notícia e rapidamente se entusiasmaram com a possibilidade de poderem colocar os filhos para estudar em uma escola tradicional da capital. 

A associação em questão é chamada de Mães Peniel Elshaday, localizada no bairro Cidade Alta, n° 04, próximo ao Colégio Notre-Dame de Lourdes. As mães, que são empregadas domésticas, procuraram a associação e uma delas recebeu um encaminhamento para seus dois filhos, cuja matrícula seria realizada no Colégio São Gonçalo. 

Segundo contou à reportagem, para conseguir as duas vagas (gratuitas), ela precisaria trabalhar nos semáforos da cidade das 6h às 20h, arrecadando dinheiro para esta associação. Ela mostrou também o encaminhamento que recebeu já preenchido com seus dados pessoais. 

A reportagem foi até o local, informalmente se passando por uma possível ‘associada’ para mais explicações sobre este programa oferecido por eles. Chegando à associação, nos deparamos com uma fachada completamente branca, sem identificação visível no primeiro momento. No interior, um local bem simples com algumas mesas e cadeiras, na área da residência, havia alguns armários de arquivos e algumas impressoras e cadeiras sendo carregadas para dentro de um carro. 

Ainda assim, fomos recebidos primeiramente por uma “voluntária”. Após pedir informações sobre o programa, a mulher disse que realmente eles ofereciam as bolsas escolares, mas afirmou que no momento não teria mais vagas disponíveis. 

Perguntamos então sobre a senhora Raquel Beatriz de Oliveira, que se apresenta como diretora da instituição. Raquel nos recebeu e contou que a instituição funciona desde 2008 com a finalidade de ajudar crianças da periferia, cujos pais não têm condições de colocar os filhos em escola particular e, segundo ela, consequentemente ficam nas ruas, expostos ao consumo de drogas, por exemplo. Raquel afirmou também que a associação conta hoje com 8 mil crianças atendidas nas melhores escolas particulares de Cuiabá e Várzea Grande – entre as instituições ela citou o colégio Cema, Escola Adventista, Colégio Coração de Jesus, Colégio Máxi, as redes Master e Master Junior. “Já tive também ‘convênio’ com colégios como o São Gonçalo, o antigo Dom João de Lara, que agora é Colégio Fato, e vários outros”, disse ela. 

Escolas acusam calote

O Circuito Mato Grosso entrou em contato com algumas escolas citadas por Raquel para confirmar a existência dos convênios citados por ela.

Com uma história de mais de 120 anos, o Colégio São Gonçalo, um dos mais tradicionais de Cuiabá e considerado um dos ‘sonhos de consumo’ para qualquer mãe, negou parceira com a associação. A escola disse ter informações de outras unidades que já foram associadas e acabaram sem receber os devidos pagamentos. “Tivemos conhecimento de que as vagas eram reservadas, as crianças eram matriculadas, mas não eram efetuados os pagamentos”, disse o representante do colégio. 

A reportagem procurou, inclusive, o Padre Júlio, diretor da instituição e que foi citado pela presidente da associação. Por meio da direção do colégio, ele disse: “A Raquel deixou uma pasta com documentos na escola, mas a instituição não quer nenhum tipo de ligação com a associação”. A direção afirmou ainda que, ao contrário do que foi dito por Raquel à reportagem, ela não entrou em contato com o Padre Júlio e, ainda assim, continua encaminhando mães à instituição.  

O Colégio ICE afirma já ter feito parceria com a associação de Mães Peniel Elshaday no ano de 2013 e disse que ainda tem alunos vinculados à associação e que estão matriculados na unidade. No entanto, a direção pedagógica relata que, devido a uma série de atrasos nos pagamentos, a escola transferiu a responsabilidade financeira dos alunos – que era da associação – para os pais das crianças. Neste ano, não foram feitas outras parcerias com a presidente.

No facebook da Associação são postadas fotos de crianças em algumas escolas – supostamente conveniadas – entre elas, o colégio Master Júnior. Procurado pela reportagem, a instituição negou a “parceria”. O Colégio Cema também negou qualquer tipo de vínculo com a associação de Mães Peniel Elshaday. 

Uma colaboradora do Colégio Coopec disse que a escola presta serviço a essa associação, de modo que tem alguns alunos matriculados por meio da parceria: “A associação é responsável pela situação financeira dos alunos e os pagamentos foram feitos à vista, referentes a um ano letivo de cada criança. Tanto que a situação em relação à associação está normal”. 

Confira reportagem na íntegra. 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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