Política

Locais de difícil acesso são ignorados por candidatos

Nascida e criada na localidade de Baixius, cerca de 80 km de Barra do Bugres (163 km de Cuiabá), a dona de casa Maria Lourença da Costa está totalmente alheia a campanha eleitoral. Mal sabe quem são os candidatos a senador e deputado federal. Sabe quem é o candidato Pedro Taques (PDT) porque é filho de Nego Ribeiro e nasceu no distrito de Currupira, que fica a cerca de 40 km de Baixius. No local onde mora, as imagens da antena parabólica transmitem a campanha eleitoral de outros estados. A definição do voto dela é apenas para presidência da República.

A situação de Maria não é muito diferente de moradores das áreas remotas do Estado, aldeias indígenas e assentamentos que devem votar no dia 05 de outubro. Com exceção de um candidato a deputado estadual, nenhum outro concorrente visitou a comunidade rural para pedir votos para pelo menos um dos 170 eleitores de Baixius. São lembrados em época de campanha municipal em Barra do Bugres quando estes votos podem ser definitivos na decisão pelo comando da prefeitura.

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) tem a receita de R$ 14 milhões para gastar na realização das eleições em Mato Grosso, um custo de R$ 6,41 por eleitor. Mas em Baixius o custo pode ser ainda maior. A localidade é um dos 95 pontos em que a Justiça Eleitoral vai utilizar Bgans, que são equipamentos de transmissão de dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para utilização em regiões distantes e de difícil acesso e que não contam com serviço de internet ou telefonia.

Cada equipamento desse tem custo médio de R$ 5 mil e cada eleitor da localidade pode custar quatro vezes mais ao TRE, isso sem contar com a alimentação dos mesários, o transporte da urna eletrônica e o deslocamento dos técnicos de satélite.

Baixius é considerado um dos 90 locais de difícil acesso pela Justiça Eleitoral, pelos 30 km de estrada de chão e a distância do município sede. Ao lado do assentamento Antônio Conselheiro, de acesso por Barra do Bugres, é um dos locais complicados para o Cartório Eleitoral da cidade. Na eleição de 2012, a equipe do TRE se perdeu no retorno do assentamento para a cidade e quase que a Polícia Militar foi acionada para encontrar os perdidos.

A chefe do cartório Geovana Rodrigues Pereira diz que a equipe sairá às 5 horas de Barra para instalar os equipamentos em Baixius para evitar contratempos.

O pequeno agricultor Odilon Silva Costa comenta que se sente desprestigiado pelos candidatos que buscam se eleger. Apesar de juntos os três principais candidatos ao governo de Mato Grosso, Pedro Taques (PDT), Lúdio Cabral (PT) e Janete Riva (PSD) terem previsão de gasto muito superior ao da Justiça Eleitoral – não mandaram nem assessores para ir a localidade. O mesmo tem ocorrido nas aldeias indígenas. Pelo difícil acesso, são votos ignorados.

Ignorados – Contudo reivindicações da comunidade rural não faltam: acesso a rede de água com qualidade, dentista para atender aos moradores, médicos, conclusão da reforma da escola estadual iniciada em 2010, que está até hoje inacabada. “O pessoal tá indeciso. Eu também nem sei em quem votar, mas o pessoal aqui tá escaldado com políticos também. Eles vem aqui nessa época, dessa vez nem vieram, e só daqui a quatro anos ou mais”, contou Odilon.

O motorista Manoel Benedito Bento comentou que já se habituou com esse esquecimento da comunidade nas eleições gerais. “Quando vem é só candidato a deputado, às vezes é só o assessor que chega até aqui”.
Há certos locais que nem isso, até pelo nível de isolamento. Antes de assumir a chefia do cartório de Barra do Bugres, Geovana trabalhou no Cartório Eleitoral de São Félix do Araguaia e conta a dificuldade que era para chegar a aldeia dos índios Kawaiweté, no Parque Indígena do Xingu. “São cerca de 250 km de estrada de terra e mais duas horas de barco para chegar a seção eleitoral, que tem 42 eleitores”, explicou.

Na comunidade de São Lourenzo, localizada a 207 km de Aripuanã, por exemplo, é preciso usar carro e barco para o transporte das urnas. O chefe de cartório de Juína, responsável pelo município de Aripuanã, Francisco Lima, conta que são tomadas precauções para que a urna chegue em boas condições. “Sempre vamos de carro e uma moto atrás, caso precise de alguma ajuda. No barco utilizamos uma caixa plástica, que não deixa a urna afundar se cair. Aqui temos muito locais de difícil acesso, mas sempre conseguimos cumprir nosso dever”, afirmou.

A entrega das urnas nos locais de votação acontece entre os dias 3 e 5 de outubro. ‘O trabalho é imenso e crítico e envolve ações coordenadas do TRE-MT com todos os Cartórios e seus colaboradores. O planejamento minucioso e o acompanhamento pleno da execução são fundamentais para sucesso do projeto‘, concluiu Salomão Fortaleza, coordenador de sistemas eleitorais do TRE-MT.

Gazeta Digital

Redação

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