Mestre Clovis é imortalizado em livro infantojuvenil
A vida e as andanças do criador do projeto Inclusão Literária em Mato Grosso agora
poderão ser conhecidas em uma narrativa literária. Rosiceli de Arruda (Madona) é a
proponente de Clovis Matos como Mestre da Cultura pelo edital da Lei Aldir Blanc,
promovido pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso.
Um dos resultados desse trabalho poderá ser conhecido a partir do dia 12 de agosto,
as 19 horas, no Cine Teatro Cuiabá, quando “Vovô Clovis: o espalhador de livros” estará
sendo lançado.
Quem nos conta sobre como o livro foi realizado, é a autora Anna Maria:
“A escolha por esse projeto foi certeira! Sem dúvida! Dados na área da
formação escolar de crianças e jovens, já sabemos, são alarmantes. O Brasil possui
11 milhões de pessoas que não sabem ler e escrever. Apresenta uma média anual
de 2,43 livros lidos por pessoa, número considerado baixo se comparado a Índia e
a China, países que mais leem no mundo. O número de crianças e adolescentes entre
4 e 17 anos fora da escola atinge 2,8 milhões. Sem falar de outro número assustador
de crianças e adolescentes que deixam a escola sem concluir as etapas do Ensino
Fundamental e Médio.
Para além do âmbito do Estado, muitas iniciativas têm contribuído para
reverter essa situação envolta em desigualdades sociais que parecem ser
insuperáveis. Nesse quadro, Clovis Rezendes Matos há mais de uma década vem
incentivando crianças e jovens a gostar de livros, a adquirir o hábito de leitura. À
frente do Projeto Inclusão Literária, com Furiosa, Branquinha e Lobo Guará,
veículos que conduzem o vovô conhecido por “espalhador de livros”, semeia novos
leitores por este Mato Grosso afora e outros Estados.
Clovis, radiante de alegria ao saber que seu nome fora contemplado no Edital
Conexão Mestres da Cultura, me convidou para escrever sua biografia. Logo logo
formamos uma equipe integrada por Ruth Albernaz, ilustradora, e Maria Teresa
Carrión Carracedo, da Entrelinhas Editora, na arte de ligar afetivamente escrita e
desenhos e realizar o sonho de ver a história do “espalhador de livros”
cuidadosamente guardada nas páginas de um livro, ávido por leitores.
Em tempos de pandemia, por meses nossos encontros aconteceram em
reuniões on-line, nas tardes das sextas-feiras. De comum acordo, eu e Clovis
elegemos uma menina traquina de cabelos longos e ondulados para narrar a história.
Na leitura do livro, sua identidade é revelada logo na primeira página.
Nossos encontros semanais, que duravam quase duas horas, não foram
gravados. Assim, mais à vontade, em estado de fantasia, nos imaginamos
presencialmente juntos. Os primeiros encontros foram em torno de seus dados
biográficos: sua infância em São Gonçalo do Abaeté junto aos seus pais Bolivar e
Iracema e seus sete irmãos. Depois em Uberaba, São Luís de Montes Belos, Iporá,
Goiânia até chegar em Cuiabá.
Em um caderno de capa azul celeste, anotei, anotei, anotei. Memórias de sua
cidade natal, conheci pelos vívidos olhos verdes de Clovis uma Uberaba, São Luís
de Montes Belos, Iporá, Goiânia, Cuiabá. Nessa caminhada, revisitou seu percurso
de escolha profissional, sua passagem pelo curso de Engenharia Elétrica até sua
formação em História; seus encontros com Marília Beatriz, Moema, Epaminondas,
Márcio, Fábio Rogério, Flávio do Cena Onze, José Limeira, Maria Antônia, Tânia,
Zilda Zompero, Luciano Huck e tantas outras pessoas. A vida em família com
Martha e as filhas Maíra e Luíza. Depois, a netinha Júlia.
Para mim, o ponto culminante das tardes encantadas de sextas-feiras foi
identificar nas lembranças de Clovis a circunstância em que os livros passaram a
fazer parte de seu dia a dia. Identificar o momento em que se apegou aos livros e,
de ora em diante, não os largou mais. E a folhear páginas e páginas dos livros,
conheceu tantos lugares, tantas pessoas, tantas histórias. Chegou até à cidadezinha
Macondo, do colombiano Gabriel García Marquez. Também, com um pai chamado
Bolivar e uma mãe Iracema, não podia dar em outra coisa…
Dedicamos o livro à Júlia e às crianças e jovens tocados pelo projeto Inclusão
Literária. Às crianças que vivem no coração das gentes grandes, todos a caminhar
com os livros e seus poderes mágicos…
Sem dúvida, um livro escrito a quatro mãos, narrado por uma garotinha muito
esperta que conta as peripécias literárias de Clovis e seu Projeto de Inclusão
Literária, seu instrumento de militância em apoio à democratização do acesso ao
livro e à leitura,” conclui a autora Anna Maria.
Trecho do livro destacado na quarta capa:
“Gosto mais da distribuição de livros ao ar livre. É bem mais divertida. Vovô
estaciona Furiosa, Branquinha ou Lobo-guará em um lugar bem central da cidade
visitada, para chamar a atenção das pessoas. As crianças que já conhecem o projeto saem
de suas casas e, às carreiras, seguem o carro atrás de livros. É tão bonito de ver.”
Sobre as autoras
Anna Maria Ribeiro Costa
[ Rio de Janeiro, RJ • 1957 ] Pós-doutora em Ciências Sociais,
professora e escritora.
Anna é uma waluta, uma espécie do Cerrado. Nome que
recebeu dos indígenas da etnia Nambiquara ao
observarem seus hábitos alimentares. Em 1982, ao deixar
o Rio de Janeiro, sua cidade natal, com o canudo de
professora de História nas mãos, chegou em Mato Grosso
para morar com o povo Nambiquara. A vivência de Anna
com seus amigos indígenas e com a natureza do Cerrado
a transformaram. Aprendeu que os jeitos tão diferentes de
viver dos indígenas estavam em misturas com o Cerrado, com seus bichos, rios de águas
cristalinas, buritizais e, ao fundo, a majestosa floresta Amazônica. Dedica-se aos livros e a
escrever histórias de seres sobrenaturais e de gentes que querem mudar o mundo, colorir com
revelações de respeito ao próximo e à natureza. Esse caminhar levou Anna até Clovis e ao
seu projeto Inclusão Literária, a espalhar livros por este Mato Grosso afora e em outros
estados do Brasil.
Ruth Albernaz Silveira
[ Cuiabá, MT • 1972 ] Doutora em Biodiversidade e artista visual
interdisciplinar.
Ruth é “uma grande passarinha”, como muitos acreditam.
Sua espécie? Talvez seja do Cerrado, do Pantanal. Ou dos
dois. Ou de outros mais biomas, por ter nascido em
Chapada dos Guimarães, região desenhada por vegetação
muito variada. Pode ser também porque sabe do que
pássaros e outros bichos gostam, não gostam. Pode ser
porque sabe das plantas em seus tantos tons de verde. Ruth
é uma estudiosa da biodiversidade amazônica,
conhecimento que se junta às Artes Plásticas e à Educação Ambiental. Para entender sua Arte
basta movimentar os olhos para acompanhar o voo de seu pincel. Para quem quiser conhecêla,
se deixe levar pelo vento do bater das asas de seus pássaros imaginários que deixam rastros
frescos de poesia. Pensando bem, Ruth deve pertencer à espécie Arara Amarela, por seu
parentesco com o povo indígena Rikbaktsa, da metade Arara Amarela.