A deflação apurada no mês de junho fez a taxa de juro real da economia brasileira superar a marca de 10% pela primeira vez desde o fim de 2016. Tal movimento confirma as expectativas do mercado financeiro e reforça a pressão pelo corte da taxa Selic no mês de agosto.
Mantida em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado, quando os juros reais eram de 4,53%, a taxa básica exerceu seu papel de principal ferramenta de política monetária para conter o avanço da inflação.
Com o movimento, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado nos 12 meses encerrados em junho recuou para 3,16%. O percentual, abaixo da meta preestabelecida pelo governo para este ano, é o mais baixo desde setembro de 2020 e eleva para 10,17% o nível do juro real (descontada a inflação) do Brasil, patamar em ascensão desde maio do ano passado.
A última vez em que os juros reais haviam superado a marca de 10% foi em novembro de 2016, quando a inflação rondava 3% e a taxa Selic figurava em 13,15% ao ano. De lá para cá, as taxas operaram em patamares mais baixos e até ficaram no campo negativo quando os juros básicos foram derrubados, em 2020, para 2% ao ano, o menor nível da história.
Marianna Costa, economista-chefe do TC, afirma que a adoção de uma política monetária restritiva, com os juros em níveis elevados, tem o objetivo de conter o avanço dos preços no médio e longo prazo. "O que o BC procura é ancorar as expectativas inflacionárias para conseguir direcionar a inflação para o centro da meta”, explica ela.
"Olhando para a frente, devemos observar uma queda da taxa real de juros, principalmente porque é esperado um ciclo de afrouxamento monetário, que deve começar na segunda metade deste ano. […] A partir de então, caberá ao BC observar, com toda atenção, os efeitos da taxa de juros menor e menos restritiva sobre a atividade econômica e a dinâmica de preços”, diz Marianna.
Para André Meirelles, diretor de alocação e distribuição da InvestSmart XP, o arrefecimento da inflação confirma a abertura de espaço para o corte dos juros. "A divulgação da deflação de junho, já amplamente esperada pelos agentes de mercado, só confirmou que, finalmente, tenhamos o início da trajetória de queda na Selic", avalia ele.
Ritmo da queda
Com o primeiro corte em um ano já precificado pelo mercado financeiro, o governo agora pressiona para que a taxa Selic seja reduzida em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), não em apenas 0,25 ponto percentual, como estima a maioria dos analistas.
"Não é possível que o BC não comece a baixar a partir de agosto, e que o corte não seja de 0,5 ponto, porque 0,25 vai mostrar uma sinalização de que não vamos chegar a 12% até o fim do ano”, disse a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, na última quinta-feira (13).
Carlos Caixeta, economista e membro do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), avalia a redução da Selic em agosto, provavelmente, em 0,25 ponto percentual. Ele, no entanto, ressalta que o corte pode chegar a 0,5 ponto, a depender da influência dos novos diretores indicados pelo governo.
"A queda da Selic, na hora certa, é benéfica para a economia, pois estimula os investimentos, o consumo, reduz o custo para o acesso ao crédito e contribui para a redução da inadimplência", destaca Caixeta. Na ata da última reunião, o Copom admitiu, pela primeira vez, a possibilidade de reduzir a taxa básica de juros em agosto após sequência de sete manutenções no maior nível desde 2017.
"A avaliação predominante foi a de que a continuação do processo deflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião", ressalta o documento.
De acordo com as projeções mais recentes do mercado financeiro, apresentadas pelo Boletim Focus antes do anúncio da deflação de junho, a taxa Selic deverá recuar a 13,5% ao ano no próximo mês. Após a primeira baixa, os analistas preveem recuos nos meses de setembro (0,5 ponto), novembro (0,5) e dezembro (0,5), movimento que, se confirmado, levará a Selic a 12% ao ano na entrada de 2024.