Cidades

Juiz interroga mais um sócio da Kiss nesta quinta-feira

Incêndio na boate Kiss causou a morte de 242 pessoas em 2013 (Foto: Estêvão Pires/G1)

O último depoimento dos réus no processo que apura as responsabilidades pelo incêndio na Kiss será realizado nesta quinta-feira (3) em Porto Alegre. Outro sócio da boate, Mauro Londero Hoffmann será interrogado pelo juiz Ulysses Louzada, no Foro Central da capital.

Na terça-feira (1) foi ouvido em Santa Maria Elissandro Spohr, o Kiko, também sócio da boate, onde um incêndio ocorrido no dia 27 de janeiro de 2013 deixou 242 mortos e mais de 600 feridos.

Os réus são acusados de homicídio e tentativas de homicídio com dolo eventual. Os dois chegaram a ser presos após o incêndio, mas desde o fim de maio de 2013 respondem ao processo em liberdade.

Em depoimento de mais de oito horas, Kiko disse que o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, deveria estar junto com ele no banco dos réus, "deveria estar aqui comigo", disse, para depois completar: "Eu posso dizer que não queria que isso acontecesse. Eu posso ter culpa, mas eu não sou assassino. Deveria ter mais gente aqui comigo”.

A prefeitura disse que já foi investigada e que nada que a responsabilizasse pela tragédia foi comprovado.

Já no final de seu depoimento, que se estendeu até o final da noite de terça, Kiko afirmou ainda que, na fiscalização realizada pelo Ministério Público, a espuma instalada na boate poderia ter sido vista. "Se olhou, eu não sei, mas deveriam ter olhado", disse o advogado de defesa do réu, Jader Marques.
As chamas do material se alastraram pelo forro com a espuma, o que gerou uma fumaça tóxica com cianeto que matou pelo menos 234 das vítimas na casa noturna.

Músico e produtor também foram ouvidos
Na terça (24) e quarta-feira (25), o juiz Ulysses Fonseca Louzada ouviu Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, respectivamente vocalista e produtor de palco da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava na boate no momento que começou o incêndio. Eles também são acusados de homicídio e tentativas de homicídio com dolo eventual.

Primeiro a ser ouvido, Marcelo de Jesus dos Santos disse que "se tinha que falar alguma coisa, era pedir perdão”. O vocalista segurou no palco artefato pirotécnico que provocou o incêndio. Em um dos questionamentos, ele observou que a ideia do uso durante as apresentações da banda foi do gaiteiro Danilo Jacques, que morreu durante a tragédia.

No dia seguinte, foi a vez do produtor de palco da banda depor no Fórum de Santa Maria. Luciano Bonilha Leão teria acendido o sinalizador que iniciou no incêndio. Durante o depoimento, respondeu apenas aos questionamentos do juiz, negando-se a responder perguntas proferidas pela acusação e pela defesa.

Emocionado, o réu chorou, disse ser inocente e também vítima, e que pensou várias vezes em acabar com a própria vida. "Muitas vezes pensei até em me matar. Jamais ia provocar alguma coisa que tirasse a vida de alguém", declarou.

Após as oitivas, as defesas dos réus poderão apresentar as argumentações finais.

Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.

O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, foram: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.

Ainda estão em andamento os processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Segundo ele, o julgamento deve ocorrer até o final do ano. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.

Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de "dolo eventual", estão os sócios da boate Kiss,Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória a eles em maio de 2013.

Atualmente, o processo criminal ainda está em fase de instrução. Após ouvir mais de 100 pessoas arroladas como vítimas, a Justiça está em fase de recolher depoimentos das testemunhas. As testemunhas de acusação já foram ouvidas e agora são ouvidas as testemunhas de defesa. Os réus serão os últimos a falar. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.

No dia 5 de dezembro de 2014, o Ministério Público (MP) denunciou 43 pessoas por crimes como falsidade ideológica, fraude processual e falso testemunho. Essas denúncias tiveram como base o inquérito policial que investigou a falsificação de assinaturas e outros documentos para permitir a abertura da boate junto à prefeitura.

Fonte: G1 

Redação

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