Depois de quase dois meses de tratativas, a J&F, holding que reúne os negócios dos irmãos Batista, concluiu a venda da fabricante de lácteos Vigor para a mexicana Lala por R$ 4,325 bilhões.
O valor é um pouco inferior aos R$ 5,7 bilhões inicialmente anunciados, porque a mineira Itambé -que pertence 50% a Wesley e Joesley Batista e 50% à CCRP (Cooperativa Central de Produtores Rurais de Minas Gerais)- deve acabar realmente ficando de fora do negócio.
Gilberto Xandó, atual presidente da Vigor, vai permanecer no comando da empresa durante um período de transição. Os dois lados viraram a noite para acertar os últimos detalhes do contrato.
Segundo pessoas próximas às discussões, a CCPR, que já havia informado sua intenção de exercer o direito de preferência e recomprar os 50% da Itambé vendidos aos Batista em 2013, pediu uma prorrogação do prazo.
A cooperativa está estruturando um financiamento bancário para levantar os R$ 700 milhões necessários para concretizar a aquisição. Executivos envolvidos dizem que a CCPR deve contar com a ajuda do governo de Minas Gerais e do BNDES.
O banco estatal, que é sócio da J&F no frigorífico JBS, está em pé de guerra com os Batista desde que Joesley acusou o presidente Michel Temer de corrupção em sua delação premiada.
A CCPR decidiu ficar de fora do negócio, porque não concordou com a avaliação da Itambé feita pela Lala. Os mexicanos estimaram que a Itambé valeria R$ 1,4 bilhão, enquanto a Vigor sairia por R$ 4,3 bilhão, incluindo dívidas. Para os produtores, as duas empresas são equivalentes.
A negativa da CCPR atrasou o fechamento do negócio. Sem a inclusão da Itambé no pacote, os mexicanos tentaram negociar um desconto com os Batista pela Vigor, mas não tiveram sucesso.
A perspectiva do acordo de leniência da J&F não ser mantido após a prisão dos irmãos Joesley e Wesley também chegou a preocupar a Lala. Os mexicanos, no entanto, decidiram seguir em frente, porque o Ministério Público não dá sinais de que vai fazer mudanças significativas no acordo.
Além da Vigor, a J&F já vendeu a Alpargatas, dona das Havaianas, e a uma fatia da fabricante de celulose Eldorado. Os negócios foram selados a preços considerados atrativos pelo mercado e os recursos estão sendo usados para pagar dívidas.