Fonte de pesquisa para historiadores e universitários, o arquivo do Fórum de Cuiabá guarda muitas relíquias para a população de Mato Grosso. Prova disso é a existência, por exemplo, de processos envolvendo grandes personalidades do Estado, que se destacaram durante a sua trajetória e deixaram profundas marcas de sua existência. Como o arcebispo Dom Francisco de Aquino Corrêa, cujo busto ilustra uma das principais praças de Cuiabá – a Alencastro, em frente à Prefeitura – e cujos restos mortais estão guardados na cripta da Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.
É no Fórum que se encontra arquivado o inventário de bens deixados pelo arcebispo, a fim de que fosse promovida a devida transmissão, em processo autuado em 18 de julho de 1968. Dom Aquino nasceu em Cuiabá em 2 de abril de 1885 e faleceu em São Paulo, em 22 de março de 1956, aos 71 anos, no hospital Santa Catarina. Foi sepultado em Cuiabá. A lista de bens deixada por Dom Aquino, que também dá nome a um dos principais bairros da Capital, teve como testamenteiro o advogado e desembargador aposentado José Barnabé de Mesquita.
Filho de Antonio Tomás de Aquino Corrêa e de dona Maria d’Aleluia Gaudie de Aquino Corrêa, Dom Aquino assumiu, em 1922, o Governo do Arcebispado de Cuiabá. Segundo narrou em seu testamento, seu primeiro empenho foi “constituir-lhe um patrimônio, e tudo que consegui a esse fim, em prédios, em apólices de Dívida Pública Federal, em obrigações do Tesouro Nacional, em bônus de guerra e outros títulos acha-se já inscrito em nome de Arquidiocese”, salientou.
No documento, escrito à mão em 31 de março de 1949, estão descritos bens que ainda estavam registrados em nome do arcebispo, como um terreno no Rio de Janeiro (que à época ainda era o Distrito Federal), deixado em herança à Arquidiocese de Cuiabá. Ou ainda um anel de ouro com ametista e chuveiro de brilhantes, que ganhara quando do Jubileu Arquiepiscopal de Prata (1922-1947), uma cruz peitoral de ouro, com cinco esmeraldas, e outra cruz peitoral com cinco ametistas, deixadas também para o patrimônio da Arquidiocese, para uso de seus sucessores.
Joias de menor valor, como anéis, cruzes peitorais com correntes, relógios de algibeira com correntes, jarro e bacia de prata para o serviço do altar, bem como uma biblioteca e móveis, foram legados ao sucessor dele no Arcebispado. No testamento, diz ainda que se algum outro objeto fosse encontrado, deveria ser deixado para o arcebispo sucessor.
Já os direitos autorais dos livros publicados pelo religioso foram deixados em benefício da Arquidiocese. Vale destacar que Dom Aquino foi um dos fundadores da Academia Mato-grossense de Letras e também membro da Academia Brasileira de Letras (Cadeira 34), eleito em 9 de dezembro de 1926, na sucessão de Lauro Müller. Inclusive, sua posse foi prestigiada pela presença do presidente da República, Washington Luis (1926/1930), e por ministros de Estado.
Dom Aquino também deixou registrado seu desejo, posteriormente concretizado, de ser sepultado na Catedral de Cuiabá. “Quero que meu enterro seja feito a vontade do meu testamenteiro, com a maior simplicidade permitida pela igreja, e é meu desejo, embora disso não me julgue digno, que meu corpo seja sepultado na capela-mór da Catedral ao lado dos meus antecessores”. Ele foi enterrado, em 24 de março de 1956, com todas as honras de Chefe de Estado e da Igreja Católica.
Ao final do testamento, o religioso deixou registrado uma interessante mensagem. “Só me resta pedir publicamente perdão a Deus e ao próximo; a Deus pelos meus inúmeros e enormes pecados de pensamento, palavras, obras e omissão principalmente nos deveres de ofício; e ao próximo a quem tenha ofendido, especialmente com maus exemplos e escândalos, suplicando a todos, irmãos no sacerdócio e na Congregação, filhos e filhas espirituais em Nosso Senhor Jesus Cristo, parentes e amigos, enfim, que me ajudem, com suas orações, encomendar a Deus minha alma”.
Breve trajetória – Com apenas 29 anos de idade, foi nomeado, pelo Papa Pio V, Bispo titular de Prusíade, consagrando-se em 1º de janeiro de 1915, na Catedral Metropolitana de Cuiabá, ocasião em que adotou oficialmente o nome de Dom Francisco de Aquino Corrêa.
Na política, em 1917, ele assumiu a Presidência do Estado de Mato Grosso, com apenas 32 anos, quando o momento político exigia um governante ponderado e com feições apartidárias.
Dom Aquino foi elevado ao posto de Arcebispo de Cuiabá, pelo Papa Bento XV, em 16 de abril de 1922, quando contava com 37 anos de idade.
Em 1952, no bojo das comemorações do seu Jubileu de Ouro Sacerdotal, foi inaugurado um busto dele, colocado na Praça Alencastro.
145 anos – Essa matéria integra a série especial lançada pela Coordenadoria de Comunicação em homenagem ao aniversário de 145 anos do TJMT, celebrado em 1º de maio. Intitulado “145 anos: o Judiciário é história”, o projeto busca divulgar matérias especiais produzidas pela equipe de jornalistas num minucioso trabalho de pesquisa realizado no Fórum de Cuiabá.