“Será uma noite de celebração”, antecipa o maestro Murilo Alves, diretor artístico e presidente do Instituto Ciranda. Ele se refere à próxima sexta-feira (07), quando o Teatro Zulmira Canavarros será palco de um concerto especial, a partir das 20h, em comemoração aos 20 anos do Instituto Ciranda – Música e Cidadania. Os ingressos são limitados e podem ser adquiridos na Casa de Bem Bem, sede da instituição (R. Barão de Melgaço, 3963, Centro Norte), basta levar um quilo de alimento não perecível e simbólicos dois reais.
O evento também marca uma década de estrada da Orquestra CirandaMundo, que promete uma apresentação que faça jus à história. “O concerto tenta sintetizar o que foi o Ciranda nesse período todo. A proposta artística apresenta esse diálogo entre a música popular e a tradicional”, explica Murilo. E para celebrar a instituição, nada melhor do que convidar quem já é de casa. Os solistas Phellyphe Sabbo e Lindi Mariani, ex-alunos do Ciranda e hoje instrumentistas com carreiras consolidadas, são os convidados especiais da noite.
A iniciação musical de Phellyphe se deu aos 13 anos, na banda musical da Escola Cooperar, onde teve contato com seu primeiro instrumento, o trombone de vara. No ano seguinte já começou a estudar saxofone no Projeto Ciranda. Hoje, além do sax, estuda uma série de instrumentos de sopro: flauta transversal, flautim, flauta em sol clarinete e clarone baixo. Na formação acadêmica, cursou Licenciatura Plena em Música na UFMT.
“Eu e outros alunos da minha época, quando relembramos toda essa trajetória do Ciranda, ficamos muito gratos, pois não tínhamos a noção do que estava se construindo. Que a sociedade mato-grossense reconheça cada vez mais esse grande movimento social musical. E agora é uma felicidade compartilhar conhecimento com alunos da nova geração”, pontua Phellyphe.
Lindi Mariani, que já acumula longa trajetória dedicada ao violino, iniciou seus estudos musicais aos dez anos no coral infantil e na orquestra de flautas de sua igreja. Dois anos depois ingressou no Instituto Ciranda, onde se desenvolveu tecnicamente no violino. Considerada um talento da nova geração de violinistas mato-grossenses, aos 16 anos começou a se apresentar como solista em recitais, concertos orquestrais e de música de câmara. Aos 18, ingressou no curso de Licenciatura em Música da UFMT. Hoje é Mestre em Performance Musical pela Universidade do Novo México – Estados Unidos, onde se desenvolveu enquanto performer e como violinista do Abe Franck String Quartet.
Repertório
O repertório dessa noite especial procura traduzir musicalmente essas duas décadas de trabalho do Instituto Ciranda. A abertura será com uma versão fantasiosa do Hino Nacional, com arranjos do pesquisador e compositor Kleberson Calanca. Na sequência, vão executar Baião de Lacan, composta por Guinga e com arranjos de Hudson Nogueira.
Então entra em cena o saxofone de Phellyphe Sabo, que será solista em “Zanzibar”, de Edu Lobo. “É um arranjo que dialoga demais com a orquestra, justamente por ser de um outro parceiro nosso de longa data, que é o grande Nelson Ayres. Essa música representa bem o que a gente acredita como proposta, sobretudo para uma orquestra jovem, porque tem abertura para improvisação e para criação musical coletiva”, comenta Murilo. Phellyphe ainda segue como solista em dois rasqueados do Mestre Albertino, “Lambari na Cuia” e “Lá no bairro do Areão”, arranjados para orquestra por Kleberson Calanca e Murilo Alves.
O espetáculo continua em uma linha da música mais tradicional de orquestra, com destaque para os solos de Lindi Mariani. Será executado o clássico “Vivace”, de “Concerto para dois violinos”, do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), bem como a virtuosística peça “Introdução e Tarantella”, do violinista e compositor espanhol Pablo Martín de Sarasate (1844-1908).
Após as participações especiais dos convidados, a orquestra segue com “Bachianas brasileiras n°4”, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). “ Vamos ter um momento denso de uma música bem elaborada e muito conhecida, talvez uma das mais tocadas mundo afora de um compositor brasileiro. É um desafio, mas dialoga com a nossa proposta pedagógica de mesclar um repertório mais confortável tecnicamente com temas mais desafiadores”, avalia Murilo Alves.
Por fim, fecham a noite com “Um pouquinho de Brasil”, do pianista, saxofonista, professor, compositor e arranjador Kleberson Calanca, outro parceiro de longa data da instituição. Calanca atua, há uma década, como arranjador no Instituto Ciranda. Além da peça em questão, também assina os arranjos de "Hoje é dia de Domingos", "Fronteiras", "Beatles Again", dentre outras que figuram constantemente no repertório da Orquestra CirandaMundo.
Duas décadas de música e cidadania
Criado em fevereiro de 2003, o Instituto Ciranda – Música e Cidadania formou alunos, edificou sonhos e transformou vidas. São histórias que enchem de orgulho quem passou pela instituição e quem ainda está no quadro de profissionais da casa. Nestes 20 anos, muitas dessas narrativas pessoais ajudaram a humanizar o projeto. Todavia, dada a relevância sociocultural do Instituto Ciranda, é inevitável não destacar sua história em uma data tão simbólica.
“A grande história desses vinte anos é a gente ter conseguido passar todo esse período de maneira ininterrupta, ensinando música gratuitamente para crianças, adolescentes e jovens, mesmo sabendo que vivemos em um país com necessidades ainda basilares em questões como saúde, infraestrutura e saneamento. A história da instituição e o impacto dela nesses vinte anos é o que articula todas as vivências das pessoas que passaram pelo instituto e que seguiram suas vidas na música ou em outras áreas”, comenta Murilo.
Ao longo dessas duas décadas, o Instituto Ciranda tem desenvolvido ações ligadas à educação e cultura, utilizando a música como ferramenta de cidadania. Pela instituição já passaram mais de 20 mil alunos, que hoje atuam profissionalmente em orquestras, escolas e outras organizações musicais espalhadas pelo Brasil e o mundo. “A música é um poderoso instrumento de transformação social nos mais diversos aspectos do desenvolvimento humano. Pensamos no desenvolvimento musical, mas sobretudo no desenvolvimento humano pleno, antenado e conectado com a realidade do nosso tempo”, avalia Jéssica Gubert, diretora de Desenvolvimento Institucional do Ciranda.
Atualmente, a instituição atende cerca de 800 crianças, adolescentes e jovens de diferentes classes sociais e cidades mato-grossenses. “Creio que chegamos aos 20 anos com o peso da maioridade, com a sensação de ter encontrado um caminho onde os cursos são bem aplicados e os resultados são visíveis. Conseguimos fazer a diferença na vida das pessoas e da comunidade”, acrescenta o maestro.
Os alunos dispõem gratuitamente de condições para que possam se desenvolver plenamente. Além de aulas práticas, também são ofertados conteúdos teóricos, métodos e partituras. A instituição conta com três orquestras para aprendizes em diferentes níveis (Cirandinha, Primeira Ciranda e CirandaMundo). Essa proposta inclusiva tem possibilitado que muitos alunos continuem os estudos musicais em universidades do Brasil e exterior.
Embora os resultados alcançados já sejam muito significativos, a perspectiva futura é de aprimorá-los cada vez mais. “Esperamos fortalecer as atividades do ponto de vista social, pedagógico e artístico. Esse é o nosso norte, chegar ao artístico passando pelo trabalho social muito bem feito. Essa tem sido a nossa vocação e o nosso trabalho ao longo dessas duas décadas”, conclui Murilo.
O Instituto Ciranda conta com parcerias para a manutenção dos programas. A empresa Bom Futuro, Eletrobrás Furnas, Energisa, Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), Eletrobrás Eletronorte, Associação Matogrossense dos Produtores de Algodão (AMPA), Instituto Saga e Instituto Sicoob são alguns destes parceiros.