A inflação sob controle e a necessidade de encontrar alternativas para reaquecer a economia transformaram a queda dos juros básicos em um novo “mantra” entre os economistas. A taxa Selic está em seu patamar mais baixo, de 6,5% ao ano – mas, para analistas ouvidos pelo jornal O Estado de São Paulo, há espaço para cortar ao menos um ponto porcentual. E, ainda que o ciclo de corte dos juros não seja suficiente para tirar o País da letargia, pode ajudar.
No Brasil, a Selic tem sido o maior mecanismo de controle da inflação. Segundo o último Boletim Focus, do Banco Central, no entanto, a perspectiva é de que a inflação pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique este ano em 3,82%, bem abaixo da meta de 4,25%. As previsões também são de inflação abaixo da meta no ano que vem (4%).
Esse cenário de preços controlados reforça os argumentos para a queda maior dos juros.
Na visão do ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, as incertezas quanto à melhora da situação fiscal do País têm reduzido a potência da política monetária. “Por isso, o BC sublinhou em seus comunicados que um novo ciclo de quedas de juros é esperado só após o andamento das reformas, sobretudo a da Previdência.”
Ele avalia que o aparente conservadorismo no corte de juros é compreensível. “Os juros podem encerrar o ano em 5,5%, o que não resolve as incertezas econômicas, mas ajuda.”
Já o professor da Universidade de Brasília (UnB) José Luís Oreiro considera que o BC tem sido conservador demais. “Deve ser o terceiro ano seguido em que a inflação fica abaixo da meta. Isso quer dizer que há muito tempo tem espaço para corte.”
Para ele, se os juros básicos estivessem em 5% há um ano, a atividade econômica hoje estaria respondendo mais fortemente. “Se isso não é sinal de uma política monetária conservadora demais, não sei o que seria. São três anos. O BC não está seguindo o protocolo do regime de metas de inflação.”
Mesmo com a Selic em seu menor patamar histórico, os juros reais do Brasil (já considerada a inflação) estão entre os dez maiores dentre 40 economias.
Segundo a Infinity Asset Management, os juros reais no Brasil eram de 2,31% ao ano. Ao mesmo tempo, as maiores economias do mundo experimentam juros reais negativos. Nos Estados Unidos, eles estão em -0,58%; no Japão, -0,75%; nos países da União Europeia, variam de -1,2% (Portugal) a -2,87% (Hungria).
“Se tiver espaço para cortar, sem prejudicar a inflação, não tem motivo para não fazer”, diz José Júlio Senna, responsável pelo Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Mas a atividade econômica não depende só dos juros, como mostra o exemplo internacional.”
Ele diz que os problemas de crescimento do País precisam ser atacados no médio e longo prazos. “Tem de melhorar a infraestrutura, reduzir a burocracia e a complexidade do sistema tributário.”