Economia

Inflação abaixo da meta não é resultado de demora no corte dos juros

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, negou nesta quarta-feira (10) que tenha havido atraso no processo de corte da taxa básica de juros, a Selic, e que isso tenha levado a inflação em 2017 a ficar abaixo do piso da meta.

Mais cedo nesta quarta, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, ficou em 2,95% no ano passado. Pelo sistema de metas, deveria ter ficado entre 3% e 6%.

Goldfajn foi obrigado a enviar ao ministro da Fazenda uma carta aberta para explicar as razões para o descumprimento da meta. No documento, ela afirma que isso ocorreu devido à queda no preços de alimentação no domicílio acima da esperada.

"Há uma crítica de que, se a inflação ficou baixa, poderia reduzir o juro mais cedo. Nossa visão é outra. Nossa atuação no começo [do ciclo de corte de juros] é que propiciou a inflação mais baixa", afirmou Goldfajn a jornalistas.

"Estou falando de expectativas. Isso reduziu preços de serviços. Nossa visão não é que houve atraso, mas aquilo é que permitiu a inflação ficar baixa", completou o presidente do Banco Central.

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação. Quando a inflação está alta, o BC aumenta os juros, o que deixa o crédito mais caro e inibe o consumo, fazendo com que os preços baixem. Mas os juros altos também prejudicam a economia e geram desemprego.

Por conta crise econômica, porém, o consumo do país estava em queda nos últimos meses, o que permitiu ao Banco Central baixar a Selic.

Entre outubro de 2016 e o fim de 2017, a taxa recuou de 14,25% ao ano para 7% ao ano, a mínima histórica.

A inflação abaixo do mínimo fixado no sistema de metas de 2017 significaria, portanto, que o Banco Central poderia ter baixado os juros mais cedo.

Inflação vai subir em 2018

Segundo Goldfajn, porém, a inflação vai voltar a subir um pouco em 2018 e deve fechar o ano próxima da meta central de 4,5%. A última estimativa, considerando a trajetória da taxa básica de juros e da taxa de câmbio estimados pelo mercado, é de que o IPCA subirá para 4,2% neste ano fechado.

"O benéfico para a população de a inflação ficar na meta [próxima de 4,5% em 2018] é que isso está associado à retomada do crescimento, à volta do emprego, do poder de compra. O crescimento neste ano é maior. Se imagina 2,5% [de alta do PIB]", declarou.

Ilan Goldfajn observou que há analistas estimando um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de até 3% em 2018.

"A volta da inflação para a meta tem a ver com a volta do crescimento. É normal ter essa volta porque vem com o benefício do crescimento. Você só imagina a inflação voltando porque tem crescimento", acrescentou ele.

O presidente do BC afirmou, porém, que o objetivo da autoridade monetária é manter a inflação baixa.

"Para a população, a inflação caiu e é como perder peso. Nosso objetivo é manter o peso menor. Vamos comemorar a queda e vamos trabalhar para manter a inflação baixa", declarou.

Interpelado por jornalistas se o cenário do último relatório de inflação ainda está válido, o presidente do BC não disse que sim nem que não. "Vamos avaliar", se limitou a responder. Quando o relatório foi divulgado, no mês passado, analistas passsaram a projetar queda dos juros básicos, abaixo de 7% ao ano, em fevereiro. A inflação de dezembro, porém, surpreendeu, pois mostrou uma alta maior do que a estimada nos preços dos alimentos.

Dólar em 2018

Questionado se, em um cenário de maiores tensões nos mercados por conta da corrida eleitoral neste ano, o dólar não pode ter uma alta maior e pressionar a inflação, Goldfajn observou que o BC tem uma "posição confortável" de instrumentos para evitar essa alta, como os contratos de "swaps cambiais" – operações no mercado futuro.

Mas acrescentou que o regime de câmbio é flutuante no Brasil, com o dólar oscilando de acordo com as operações de compra e venda dos operadores do mercado financeiro.

"O câmbio não é um instrumento de controle da inflação. Deixou de ser há muito tempo. Não foi no ano passado e não vai ser neste ano. Para controlar a inflação, temos a taxa básica de juros, o instrumento principal", concluiu ele.

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Economia

Projeto estabelece teto para pagamento de dívida previdenciária

Em 2005, a Lei 11.196/05, que estabeleceu condições especiais (isenção de multas e redução de 50% dos juros de mora)
Economia

Representação Brasileira vota criação do Banco do Sul

Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela, além do Brasil, assinaram o Convênio Constitutivo do Banco do Sul em 26