Ao longo da história, diversos momentos marcantes da humanidade influenciaram diretamente no desenvolvimento da aviação. O motor a jato foi herança da Primeira Guerra, chegando à aviação comercial sete anos após o fim do conflito. Os procedimentos de segurança, cada vez mais rígidos, talvez não existissem não fosse o 11 de setembro.
Foi o ataque de 2001 que trouxe à tona uma demanda por aviões mais econômicos e, consequentemente, menos poluentes. Com clientes morrendo de medo de voar e com a sua principal despesa a níveis estratosféricos, a conta não fechava.
Menos de dois anos após o ataque, surgia o Boeing 787: a primeira aeronave feita principalmente com fibra de carbono, um material resistente e ultraleve que possibilita uma economia de combustível de até 20% em relação à geração anterior. É a mesma taxa de economia prometida hoje, quase 20 anos depois, pelo Flying-V, projeto de aeronave “diferentão” da Airbus cujo protótipo voou pela primeira vez em setembro.
Turning point
Marca desta virada de década, a pandemia de covid-19 certamente entrará para a história também como um ponto de inflexão no desenvolvimento da aviação, que aposta numa operação agressivamente verde para se recuperar a pior crise da sua história. Na pauta há alguns anos, devido às mudanças climáticas, a busca por uma operação menos dependente de emissões de carbono será a prioridade do setor na retomada das atividades.
É o que projetam as principais lideranças da aviação mundial, que se reuniram na última quarta-feira (30) para discutir o futuro sustentável dessa indústria no Fórum Global de Aviação Sustentável, em Genebra, na Suíça.
Responsável por 3,6% do PIB global, a aviação deve acumular 4.8 milhões de demissões até o fim deste ano. “No entanto, a recuperação da conectividade aérea deve priorizar o progresso ambiental”, frisou Michael Gill, diretor executivo da ATAG, coalizão para o desenvolvimento sustentável do setor, que tem como meta cortar as emissões de carbono pela metade até 2050. “Algumas partes do mundo alcançarão essa meta mais cedo, e muitas empresas têm metas definidas nesse sentido.”
Segundo Gill, com a transição para um combustível de aviação mais sustentável, e mais trabalhos de pesquisa e desenvolvimento de aeronaves elétricas, híbridas ou até mesmo movidas a hidrogênio, a aviação poderia até zerar suas emissões de carbono na década de 2060. A tarefa depende, entretanto, do avanço da ciência e também da cooperação dos governos – citados por todos os executivos como agentes importantes para a concretização da “retomada verde”, uma vez que a pandemia impactou fortemente a capacidade de investimento da indústria em pesquisa e desenvolvimento.
“Os líderes do governo e da indústrias devem encontras novas maneiras de colaborar no financiamento do desenvolvimento de tecnologias inovadoras para enfrentarmos as mudanças climáticas”, sugeriu Eric Fanning, presidente do Conselho Internacional de Coordenação das Associações da Indústria Aeroespacial.
CEO da Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA), Alexandre de Juniac aproveitou o evento para criticar os impostos ambientais cobrados por emissões de carbono. Na União Europeia, por exemplo, as maiores companhias aéreas pagaram mais de cinco bilhões de euros para o “Sistema de Comércio Emissões”, 58% a mais do que em 2018.
“Esse não é o momento para mais taxas ambientais, que acabam punindo os próprios passageiros”, disse Juniac no evento para lembrar que, numa indústria com margens apertadas, qualquer aumento no custo da operação é repassado ao consumidor final. “Para nós, o combate às mudanças climáticas continuam sendo os investimentos em combustíveis sustentáveis e tecnologias verdes radicais.”