Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) fechou 2022 com alta de 10,9% – a segunda maior taxa nos últimos oito anos. Parte deste aumento foi provocado por Mato Grosso. Isso porque, o estado teve as maiores taxas do país referentes aos custos para construção – de 20,52% – e ao acumulado da parcela dos materiais – 22,39%.
Segundo o relatório, o preço médio por metro quadrado na região Centro-Oeste é de R$ 1.722,72.
Em dezembro último, a taxa apresentou variação de 0,08%, mantendo a tendência de desaceleração no ano e registrando o menor índice de 2022. O gerente do Sinapi, Augusto Oliveira, destaca que mesmo com a ligeira oscilação, o acumulado no ano passado ficou abaixo apenas do que foi captado em 2021, com taxa de 18,65%, e pouco acima de 2020, com 10,16%.
“Mesmo com quedas desde julho, o acumulado no ano ainda tem influência das altas captadas no momento atípico de pandemia”.
Materiais e mão de obra mais caros
Ainda de acordo com o boletim, o custo para aquisição de materiais subiu mais de 10% no período. A disparada é fruto de problemas logísticos provocados pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Além das dificuldades com transporte marítimo, os seguros, combustíveis das embarcações e o frete saltaram de forma expressiva. Tanto que o coque, principal combustível da indústria do cimento, foi majorado em 92% no acumulado dos últimos anos.
No caso da mão de obra, o aumento registrado em 2022, de 12,1%, foi quase o dobro em relação ao ano anterior. “Acordos coletivos passaram a repor os salários das categorias profissionais do segmento da construção civil, que tiveram poucos ganhos nos anos da pandemia. O aumento da inflação, base para a reposição dos salários nos dissídios, acabou influenciando nos valores acordados”, analisa o representante do Sinapi.
Para a economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Ieda Vasconcelos, a escalada inflacionária é o maior ponto de atenção para o setor porque o indicador deve se manter em patamar elevado, pelo menos nos primeiros meses do ano. (Com informações da assessoria)
Venda de cimento despenca
Encarecimento acentuado da construção civil derruba vendas de materiais básicos para obras e reformas. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC), 63,1 milhões de toneladas do produto foram comercializadas em 2022, índice 2,8 pontos percentuais inferior a 2021.
“Enfrentamos um ano com muitas adversidades. Já estimávamos um recuo de até 2% considerando os impactos das eleições e a Copa do Mundo. As fortes chuvas, o crescimento da inflação, as altas taxas de juros, o elevado endividamento das famílias e o conflito no leste europeu fizeram com que a indústria do cimento registrasse uma queda que se manteve durante todo o ano”, analisa o presidente da SNIC, Paulo Camillo Penna.
A retração interrompe o bom desempenho do setor durante os anos de 2019, 2020 e 2021. No último ciclo, mesmo em meio à crise do coronavírus, o segmento chegou a crescer quase 11% ao ano, além de recuperar 12 das 19 milhões de toneladas perdidas no triênio anterior.
Diante da instabilidade nos ambientes nacional e internacional, provocada, principalmente, pela crise inflacionária e elevação dos juros no mercado global e pelas incertezas relacionadas às políticas de controle da situação fiscal no Brasil, a entidade projeta fechar 2023 no azul. A expectativa é de crescimento tímido (+1%), atingindo um patamar próximo a 64 milhões de toneladas.
Programa habitacional popular deve aquecer demanda
Dificuldades político-econômicas enfrentadas pelo setor de construção civil se traduz em números decepcionantes, especialmente nos programas de política habitacional popular. O Casa Verde e Amarela teve retração de 26,2% nos lançamentos nos primeiros nove meses de 2022.
Já o percentual de vendas despencou 9 pontos percentuais de janeiro a setembro do ano passado.
Especialistas destacam que a baixa demanda é fruto dos graves problemas financeiros vivenciados pela maioria da população. Mesmo com a retomada do mercado de trabalho e do rendimento, o poder de compra se deteriorou com a inflação e a disparada dos juros, elevando também os índices de endividamento e inadimplência.
“Com a situação de momento, o trabalhador passou a se preocupar com as necessidades básicas e reduziu drasticamente a realização de grandes investimentos”, diz o economista Jorge Mendes.
Na visão do diretor do Sindicato das Indústrias da Construção de Mato Grosso (Sinduscon-MT), Fausto Echer, a mudança de governo pode estimular a construção civil. “Acreditamos que a demanda vai aquecer porque a atual gestão tende a aumentar o acesso às linhas de financiamento por meio do novo ‘Minha Casa, Minha Vida’”, destaca.
O crédito facilitado é fator decisivo para a aquisição de moradias, aponta pesquisa da Brain Inteligência Estratégica. Metade dos entrevistados pelo levantamento revela que pretende comprar imóveis para sair do aluguel caso a conjuntura econômica se mantenha estável, o que favorece a oferta de empréstimos.
Conforme Echer, a disponibilidade do crédito para investimento imobiliário é fundamental para realizar o sonho da casa própria e fomenta o mercado de trabalho com a geração de emprego e renda. “Como o setor não exige alto nível de qualificação, a criação de postos de trabalho se dá de forma muito rápida, o que ajuda os profissionais das classes mais humildes”.