Peter Burke é professor emérito de história cultural da Universidade de Cambridge, tendo escrito dezenas de livros traduzidos para mais de trinta línguas, estando entre essas traduções as obras “Cultura popular na Idade Moderna”, “Testemunha ocular: o uso de imagens como evidência histórica” e “O polímata”.
Burke no prefácio de “Ignorância: uma história global” diz que o tema poderia não soar nem um pouco como um tópico a ser discutido, pois a ignorância, definida como a ausência de conhecimento levaria a um assunto que não conteria nada. Mas, estimulado pelos marcantes exemplos de ignorância de vários presidentes, como Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro no Brasil, o assunto desperta um interesse crescente.
Ele esclarece que a tarefa multidisciplinar de “estudos da ignorância” tem ganhado força nos últimos trinta anos, ainda que os historiadores não tenham se envolvido com o assunto até pouco tempo, sendo uma boa hora para visão geral do papel da ignorância no nosso passado, incluindo a ignorância ativa, com o que o livro espera mostrar tanto os tipos de ignorância quanto os tipos de desastre que dela resultam de forma variada.
Segundo o autor, o livro foi escrito para dois tipos de pessoas. O primeiro é composto dos leitores em geral, como indivíduo de combinação única de conhecimento e ignorância, cujo tema é de interesse geral. O segundo é composto pelos estudiosos, não apenas os da própria área de atuação de Burke, mas de todas as disciplinas nas quais a ignorância é hoje objeto de estudo, encorajando os mais jovens a entrar no campo de estudo e criticar, qualificar e refinar as pesquisas constantes da sua obra.
Suas pesquisas e conclusões abarcam o período dos últimos quinhentos anos do Ocidente, ainda que exemplifique algumas situações da Ásia e da África, o que pode colocar Burke a críticas por não levar em conta o resto do mundo e os séculos anteriores, afirmando que a razão dele assim ter agido seria simples: “ignorância, madame, pura ignorância”, como o escritor Samuel Johnson certa vez explicou a uma senhora que apontou um erro em um de seus livros.
Os últimos anos mostraram a expansão da ignorância de forma inédita, com a difusão do que é errado ou falso numa escala global, sendo o ponto alto o negacionismo da covid e seu vírus mortal, numa ignorância gêmea do conhecimento, aquela onde a cada descoberta científica desponta o desafio seguinte a ser pesquisado. Como Yuval Harari dá a entender, numa lembrança socrática “nunca a humanidade soube tanto, e isso justamente porque nunca teve uma consciência do que não sabe”.
Então, a obra de Peter Burke vale a leitura para compreender a ignorância e sua história na busca de preencher essa ausência de conhecimento sobre o tema e suas repercussões no mundo moderno.
Ignorância: uma história global
Peter Burke
Tradução de Rodrigo Seabra
Editora Vestígio