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Ibovespa perde força no fim e sobe apenas 0,26%; dólar tem leve alta com ajustes

Sem a referência dos mercados de Nova York nesta abertura de semana, em feriado nos EUA, o Ibovespa se reaproximou mais um pouco dos 130 mil pontos, alcançando na máxima do dia a marca de 129.534,45 pontos. Ao fim, contudo, perdeu força, em ganho limitado a 0,26%, aos 128.552,13 pontos, após os investidores terem mostrado um pouco mais de propensão a risco em ativos brasileiros, mais cedo, o que colocava o avanço no intradia perto de 1% – distante, contudo, da alta de 2,70% vista no fechamento da sessão anterior.

O ânimo maior vem desde a tarde da última sexta-feira, quando pesquisa Datafolha trouxe popularidade do presidente Lula no menor nível de seus três mandatos, reforçando a percepção de que 2026, embora ainda muito à distância, possa trazer alternativa de poder mais alinhada ao pensamento de mercado.

Dessa forma, o Ibovespa saiu de mínima na abertura aos 128.229,39, mantendo o sinal positivo ao longo da sessão, com giro a R$ 18,7 bilhões nesta segunda-feira. No mês, acumula ganho de 1,92%, colocando a alta do ano a 6,87%. Foi o terceiro ganho diário consecutivo do Ibovespa, o que mantém a referência da B3 no maior nível de encerramento desde 11 de dezembro, então perto dos 129,6 mil pontos. Em fechamento, o nível de 130 mil pontos não é visto desde 6 de novembro passado.

Entre as ações de primeira linha, Vale mudou de direção e fechou em baixa de 0,54%, tirando ímpeto do Ibovespa no fechamento. Por sua vez, Petrobras encerrou em alta de 1,13% na ON e de 0,61% na PN, em enfraquecimento de ritmo também observado entre os grandes bancos. Itaú, que subia mais de 1%, fechou com ganho de apenas 0,20%, na mínima do dia, enquanto Banco do Brasil, que avançava perto de 2%, encerrou em alta um pouco mais contida, de 1,43%.

Na ponta ganhadora do Ibovespa, Magazine Luiza (+7,86%), Vamos (+5,80%) e CVC (+4,55%). No lado oposto, JBS (-2,77%), WEG (-2,51%) e BRF (-2,50%).

“O Ibovespa continuou em alta por conta da desaprovação do governo – o que resultou também em redução de prêmios na curva de juros”, observa Felipe Papini, sócio da One Investimentos, destacando a baixa volatilidade na sessão por conta do feriado americano. “Por mais que a expectativa de inflação do mercado, divulgada hoje pelo Focus, tenha aumentado de 5,58% para 5,60% para 2025, o mercado ainda está animado com a queda de popularidade do governo Lula”, acrescenta.

“Expectativa é de que a Bolsa siga em alta após o Ibovespa ter rompido a linha de tendência de baixa na última sexta-feira, apontando para um teste de topo nos 130.898,89 pontos”, diz Robert Machado, analista da CM Capital, chamando atenção para as ações de empresas do setor de supermercados, como Carrefour e Pão de Açúcar, que divulgam balanços amanhã, e Assai, na quarta-feira, também com resultados trimestrais.

Dólar

O real não conseguiu acompanhar hoje tom positivo que tomou conta da bolsa e do mercado de juros futuros diante de especulações em torno da corrida presidencial de 2026, na esteira da perda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelada por pesquisas recentes, em especial o levantamento do Datafolha divulgado na última sexta-feira, 14.

Em sessão morna e de liquidez reduzida, com as bolsas em Nova York fechadas em razão de feriado nos EUA, o dólar apresentou leve alta em relação ao real, alinhado ao comportamento da moeda americana no exterior. Operadores afirmam que o pregão foi marcado por ajustes técnicos e realização de lucros, após o rali recente da divisa brasileira.

No início dos negócios, o dólar chegou a esboçar um avanço mais forte, ultrapassando os R$ 5,72 para registrar máxima a R$ 5,7222. A moeda americana desacelerou os ganhos em relação ao real ainda pela manhã, à medida que o Ibovespa subia e os juros futuros recuavam, sob o impacto do chamado “trade eleitoral”.

Com mínima a R$ 5,6959, o dólar à vista fechou a R$ 5,7125, em alta de 0,29%. Após ter recuado 5,56% em janeiro, a moeda já apresenta baixa de 2,13% em fevereiro, o que leva a uma desvalorização de 7,57% em 2025. O real tem o segundo melhor desempenho no ano entre as principais moedas, atrás apenas do rublo russo.

O chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos, Alexandre Viotto, afirma que o feriado nos EUA comprometeu a liquidez e deixou a formação da taxa de câmbio mais sujeita a operações pontuais. Com os investidores, em especial os estrangeiros, retraídos, houve um ajuste técnico no mercado de câmbio local.

“O movimento hoje é muito baixo. Amanhã será o dia mais adequado para ver se esse ‘trade eleitoral’ vai continuar tendo efeito no câmbio, como parece ter acontecido na sexta-feira”, afirma Viotto, que vê potencial para dólar se firmar abaixo de R$ 5,70 no curto prazo, com entrada de investidores estrangeiros em especial para renda fixa. “É aquela coisa de chegar primeiro para aproveitar a oportunidade, porque o Brasil ainda está barato”.

A leitura predominante de analistas ouvidos pelo Broadcast é que a perda de popularidade de Lula abre espaço para o crescimento de um candidato da oposição, mais à direita do espectro político e, em tese, mais comprometido com políticas de austeridade fiscal – o que se traduziria em redução dos prêmios de risco.

Pesquisa do Datafolha mostrou na sexta-feira que a aprovação de Lula caiu de 35% em dezembro de 2024 para 24%. Já a desaprovação saltou de 34% para 41%. Trata-se dos piores índices entre os três mandatos do petista pelo histórico do Datafolha.

Circularam informações hoje de que Lula ainda não definiu se concorrerá à reeleição em 2026. O presidente teria expressado a auxiliares o desejo de evitar uma candidatura em condições físicas debilitadas, mencionando o exemplo do ex-presidente americano Joe Biden. De outro lado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, teria sinalizado que pode concorrer à presidência caso receba o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Para o time de estrategistas de ações do JP Morgan para a América Latina e Brasil, as pesquisas recentes mostrando queda de popularidade de Lula levaram os investidores que não têm posições em Brasil (ou alocações modestas) a experimentar o chamado “medo de ficar de fora” (Fomo, na sigla em inglês).

“O Brasil é um dos mercados de melhor desempenho, tanto no lado das ações quanto no câmbio, levando os investidores a perseguir o ‘momentum'”, afirma o time do JP Morgan. “Quando os preços estavam mais baixos do que agora, não havia compradores, mas, à medida que os preços subiam, mais pessoas se interessavam. E isso vem junto com notícias no cenário político, um dos pouquíssimos gatilhos locais”.

Em relatório, o Itaú afirma que a queda do dólar do pico de R$ 6,30 em dezembro para nível próximo a R$ 5,70 se deve, em parte, à melhora do ambiente externo, com um início de governo Donald Trump “mais ameno”. O principal indutor da apreciação do real, contudo, foi o aumento do diferencial de juros interno e externo.

“Apesar de algum alívio no curto prazo, os fundamentos ainda apontam para uma taxa de câmbio depreciada, principalmente diante do risco fiscal que deve seguir em patamar elevado”, afirma o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, que mantém projeção de dólar em R$ 5,90 no fim deste ano e de 2026. “O dólar deve seguir se fortalecendo globalmente, sendo apenas parcialmente atenuado pelo aumento do diferencial de juros”.

Juros

Os juros futuros deram sequência ao rali iniciado em meados da tarde da sexta-feira, 17, e fecharam a sessão com queda firme, com destaque para o alívio de mais de 20 pontos na ponta longa da curva. O recuo do IBC-Br acima do consenso deu combustível à redução das apostas num Copom mais agressivo no ciclo de aperto monetário, influenciando as taxas curtas, enquanto a perspectiva de que Lula esteja fora da disputa eleitoral em 2026 derrubou os vencimentos a partir de 2029.

As principais taxas terminaram o dia não somente no piso, como também nos níveis mais baixos desde meados de dezembro, e com volume atipicamente elevado para uma sessão sem mercados em Nova York. As bolsas por lá estiveram fechadas em função de um feriado nos EUA.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 caiu de 14,79% no ajuste para 14,57%, enquanto a do DI para janeiro de 2029 recuou a 14,31%, de 14,54% (ajuste). O DI para janeiro de 2026, que capta as expectativas para a política monetária em 2025, terminou em 14,66%, de 14,80% no ajuste e 14,76% no fechamento de sexta-feira. Manteve-se como o DI mais negociado da sessão, com giro de 1.335.600 contratos, mais que o dobro da média diária dos últimos 30 dias (567.581).

A segunda-feira prometia ser de correção em alta para curva, com o boletim Focus mostrando majoritariamente piora nas estimativas de IPCA – exceção para a mediana 12 meses à frente que caiu de 5,87% para 5,77% e o salto do IGP-10 de fevereiro, de 0,53% para 0,87%, muito acima do teto das projeções (+0,50%). Mas o resultado fraco do IBC-Br de dezembro, lido em conjunto com os das vendas do varejo e dos serviços prestados daquele mês, prevaleceu.

Nos últimos dias vem crescendo a percepção de que o arrefecimento da atividade pode dispensar o Copom de apertar a Selic até os 16%, ou mais, como a curva já chegou a precificar, uma vez também que o dólar devolveu parte da escalada recente ante o real. “A desaceleração vai ser maior do que pensam e em algum momento o mercado deve precificar uma mudança na função de reação do BC, com o Copom reagindo mais à desaceleração da economia do que à desancoragem das expectativas”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.

A projeção de Selic terminal, que na sexta-feira estava ao redor de 15,50%, nesta tarde caía para 15,20%, já mais perto de 15% do que de 15,25%. Para a reunião de março, as apostas seguem em 104 pontos, ou seja, 84% de chance de alta de 100 pontos e 16% de chance de 125.

O sócio-fundador da gestora Oriz Partners Carlos Kawall vê excesso de otimismo do mercado com a perspectiva de que a desaceleração da atividade seja capaz de trazer a inflação para a meta. “Não estamos em uma situação em que uma desaceleração do crescimento por si só resolva. Seria preciso uma economia se contraindo, o que é diferente. Precisaríamos de uma sucessão de PIBs negativos. Aí sim teremos o fechamento do hiato “, aponta.

A ponta longa seguiu respondendo ao quadro político eleitoral para 2026, com o mercado precificando redução das chances de Lula concorrer, não somente pelos resultados ruins no Datafolha. O jornal O Globo trouxe que Lula teria dito a pessoas próximas que a depender de sua condição de saúde, poderá não disputar a reeleição. Ao mesmo tempo, segundo a CNN Brasil, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, já admite a aliados sua disposição para concorrer à Presidência em 2026, mas condiciona sua candidatura ao apoio de Jair Bolsonaro.

No raciocínio do mercado, Tarcísio é um nome competitivo, mesmo se Lula decidir concorrer, e, com a direita no poder, cresce a possibilidade de uma política econômica mais ortodoxa, que coloque o fiscal nos trilhos, segundo avaliações de profissionais.

Estadão Conteudo

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