Cidades

Ibama diz que quase 1,5 mil hectares foram destruídos por desastre

Fotógrafo registra imagens dos impactos da lama da Samarco no Rio Doce (Foto: Leonardo Merçon/ Últimos Refúgios)

Um laudo técnico preliminar do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aponta que 1.469 hectares de vegetação – ao longo de 77 quilômetros de cursos d’água, inclusive em áreas de preservação permanente – foram destruídos pelo rompimento da barragem da Samarco, cujas donas são a Vale a BHP Billiton, em Mariana. O documento, com data de 26 de novembro, abrange áreas afetadas em Minas Gerais e no Espírito Santoe foi uma das bases para proposição da Ação Civil Pública, que cobra criação de um fundo no valor de R$ 20 bilhões.

Além dos danos à vegetação, o estudo, divulgado nesta terça-feira (1º) pelo jornal 'O Estado de S.Paulo', também destaca os impactos à fauna, à qualidade água e socioeconômicos. O laudo indica que, a execução das medidas de reparação de danos, quando viáveis, durará pelo menos dez anos.

Em relação aos animais, o documento não traz dados animadores. “O nível de impacto foi tão profundo e perverso ao longo de diversos estratos ecológicos, que é impossível estimar um prazo de retorno da fauna ao local, visando o reequilíbrio das espécies na bacia do rio Doce”, traz o documento.

Segundo informações apresentadas pelo Ibama, mais de 80 espécies habitavam a bacia hidrográfica antes do desastre ambiental. Dentre elas, 11 estavam ameaçadas de extinção e 12 são exclusivas ao rio. Somente no período entre 16 e 23 de novembro, no trecho entre as cidades capixabas de Baixo Guandu e Linhares, quase 7,5 mil peixes mortos foram recolhidos.

Entretanto, de acordo com o laudo, a mortandade de animais pode ser ainda maior do que a aparente. Como a maioria dos peixes do rio é de pequeno porte, eles podem se decompor rapidamente ou talvez não flutuem após perderem a vida. Além disso, o rompimento da barragem ocorreu justamente na época de reprodução de peixes e crustáceos.

Segundo o Ibama, os danos chegam a toda cadeia alimentar, afetando desde plânctons até os mamíferos. “Essas alterações poderão até provocar um aumento no grau de ameaça de extinção das espécies [já ameaçadas] (…), bem como tornar ameaçadas espécies antes abundantes”.

O Parque Estadual do Rio Doce, maior área preservada de Mata Atlântica de Minas Gerais, também está ameaçado, conforme o estudo.  A lama de rejeitos, segundo o Ibama, tem potencial de extravasar a calha do rio e atingir o sistema de lagoas e florestas ciliares da reserva.

Conforme o relatório, 34 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério vazaram da barragem de Fundão, no dia 5 de novembro.  Outros 16 milhões de metros cúbicos seguem sendo carreados por mais de 663 quilômetros e, por isso, segundo o Ibama, “pode-se dizer que o desastre continua em curso”.

De acordo com o laudo, em Bento Rodrigues, em Mariana, das 251 edificações do subdistrito, 207 estão na área atingida pelo mar de lama. Esse levantamento, entretanto, ainda não foi feito em outras localidades como Paracatu de Baixo, a segunda mais atingida.

Ao longo do caminho percorrido pela lama, ao menos 1.249 pescadores foram afetados em mais de 40 cidades mineiras e capixabas.

Em relação ao impacto na qualidade da água, além da suspensão do abastecimento nos municípios afetados, a presença de metais e alteração de outros parâmetros indica a necessidade de monitoramento contínuo do ambiente afetado.

O laudo é finalizado com uma enumeração de medidas de recuperação que devem ser tomadas. Entre as ações voltadas para o meio ambiente, estão a elaboração de planos de recuperação e conservação do solo e da água, de gerenciamento do material retirado do rio Doce e de monitoramento ambiental da bacia.

Com relação aos impactos sociais, além da reconstrução das estruturas afetadas e realojamento de pessoas, o estudo recomenda a execução de pesquisa social, visando ao conhecimento da percepção de riscos de rompimento de barragens. O laudo ainda ressalta que deve ser dada atenção especial a populações indígenas, àqueles que trabalham com ecoturismo e a comunidades de pescadores e de pequenos agricultores.

Fonte: G1

Redação

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