Ao acertar a venda de seu negócio de fraldas à belga Ontex por R$ 1 bilhão, a Hypermarcas dá mais um passo para se concentrar somente no mercado de medicamentos. Após fazer dezenas de aquisições na tentativa de se tornar uma espécie de “Unilever brasileira” no fim da década passada, a companhia tomou, em 2011, a decisão de se desfazer dos segmentos de consumo ao perceber que sua operação de remédios – representada pelo laboratório NeoQuímica, atual vice-líder em faturamento no Brasil – era bem mais rentável.
Nesta quinta-feira, 22, a Hypermarcas divulgou fato relevante relatando que está em negociações com a companhia belga, que também confirmou as conversas. Segundo apurou o Estado, o negócio estaria fechado, faltando alguns detalhes para a assinatura do contrato, que pode ocorrer nos próximos dias. O principal conselheiro da Hypermarcas no negócio foi o Bank of America Merrill Lynch.
Segundo uma fonte de mercado, a negociação veio um pouco abaixo do que a empresa e o mercado esperavam, mas a operação é considerada saudável dentro da estratégia de longo prazo da Hypermarcas. O grupo vinha procurando um comprador para o negócio havia alguns anos.
No ano passado, a Hypermarcas teria chegado a negociações avançadas com a Kimberly Clark, dona da marca Huggies. O negócio acabou não saindo, por temores de que, por causa da forte participação da americana no segmento, o negócio pudesse enfrentar barreiras no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Ao contrário da gigante Kimberly Clark, a Ontex é uma espécie de empresa “emergente” no mercado. A aquisição de R$ 1 bilhão é considerada um passo importante para a companhia, que no ano passado faturou cerca de US$ 1,7 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões). Fundado em 1979, o grupo iniciou sua expansão internacional ao abrir uma fábrica na China, em 2006.
Diante da expectativa de crescimento expressivo de sua receita – já que a Hypermarcas tem receita de cerca de R$ 1,2 bilhão com fraldas, considerados dados de 2015 –, as ações da Ontex fecharam ontem em alta de 3,46%, cotadas a ¤ 27,04. Já os papéis da Hypermarcas na BM&FBovespa, que chegaram a subir 4% pela manhã, acabaram encerrando o pregão em baixa de 1,51%, a R$ 24,21.
Classe C. Assim como ocorria com o restante de portfólio de perfumaria e beleza da Hypermarcas, as marcas de fraldas da empresa também eram mais fortes entre o público da classe C. A área de perfumaria da Hypermarcas foi vendida em bloco para a espanhola Coty, por R$ 3,8 bilhões, em novembro do ano passado.
A venda à Coty incluiu uma fábrica de cosméticos localizada no município de Senador Canedo, em Goiás, que empregava 2,5 mil trabalhadores no ano passado, além de marcas como Bozzano, Monange, Paixão, Risqué e Cenoura & Bronze, entre outras. O negócio com a Coty foi considerado uma vitória para Hypermarcas, pois veio bem acima do que era esperado por analistas de mercado.
Uma fonte de mercado disse que, embora o valor não tenha sido considerado tão alto no caso das fraldas, a empresa conseguiu repetir a estratégia de forma eficiente: atraiu um grupo que queria entrar no mercado brasileiro para um ativo que estava no mercado havia tempo.
Estratégia. No portfólio da antiga Hypermarcas ainda resta um ativo à venda: o negócio de adoçantes, que inclui marcas relevantes, como ZeroCal, Adocyl e Finn. Ao focar na área de medicamentos – em especial genéricos e isentos de prescrição médica –, a empresa conseguiu crescer em faturamento mesmo com a crise. Nos primeiros nove meses do ano, a companhia faturou R$ 2,44 bilhões, alta de 11% em relação ao mesmo período do ano passado, em bases comparáveis.
Fonte: Estadão