Dica da Academia

História da loucura na Idade Clássica

Michel Foucault lançou em 1961 a História da Loucura na Idade Clássica e desde seu lançamento trouxe evidente a ideia de realizar a arqueologia do domínio da desrazão e de narrar com crítica as mudanças de estatuto dos loucos na sociedade desde a idade média, para buscar assim explicitar como se operam as técnicas de exclusão.

Foucault confronta a dialética da história fundada na dinâmica conflitual entre a razão e seu outro às estruturas imóveis do trágico, ou seja, o espaço de uma implicação confusa de polos que ainda não são exatamente opostos sem serem totalmente indiferenciados.

A obra destaca que não foi a medicina quem definiu as fronteiras entre a razão e a loucura, mas desde o século XIX, os médicos foram os que se encarregaram de vigiar essa fronteira e montar guarda nessa porta de passagem, afixando a rotulação “doença mental”, que vale como maldição e interdição.

Nesse horizonte geral de objetivação da loucura sob a figura da doença mental, pergunta-se como seria ainda possível as nossas formas de vida se abrirem a outros regimes de experiência de loucura. Regimes que recuperariam aquilo que Foucault nomeia certeiramente no início do livro de “experiência trágica da loucura.

Ele ainda fornece duas datas que marcariam a história da loucura na idade clássica, ou seja, seu início e seu fim. A primeira seria a criação do hospital geral em Paris no ano de 1657, com suas exigências de internamento dos loucos, libertinos e desempregados. A segunda a liberação por Pinel dos loucos acorrentados em Bicètre, sua singularização dessa conjunção anterior com a pobreza e libertinagem na França revolucionária de 1794.

História da loucura celebriza Michel Foucault e dá início a uma polêmica que ainda persiste, pois ao traçar uma história dos limites, divisão que se produz por meio de muitas outras, como as definidas por produção, estrutura familiar, coações morais, sexualidade pelos quais uma cultura rejeita algo que será para ela o exterior, o autor põe em questão a racionalidade e, assim, os próprios fundamentos de nossa época.

Esse livro é uma crítica da razão ensimesmada e da loucura encarcerada, colocando-se como clássico da filosofia moderna, mantendo-se tão vivo quanto a controvérsia que desencadeou desde o seu lançamento.

Título Original: Histoire de la folie à l´age classique.

História da loucura na Idade Clássica

Michel Foucault

Tradução

José Teixeira Coelho Netto

Revisão da tradução

Newton Cunha

São Paulo: Perspectiva, 2019

Antonio Horácio da Silva Neto

About Author

Antonio Horácio da Silva Neto é juiz de direito do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e presidente da Academia Mato-grossense de Magistrados. Colaborador especial do Circuito Mato Grosso desde 2015.