Economia

Guedes afirma não ter desistido de criar novo imposto sobre transações

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta sexta-feira que não desistiu da implementação de um imposto sobre transações, nos moldes da antiga CPMF, para bancar a ampla desoneração da folha das empresas dentro de plano para impulsionar a geração de empregos.

Em evento promovido pela XP Investimentos, ele também negou que o governo irá estender o auxílio emergencial para 2021, frisando que haverá respeito à regra do teto de gastos após o período de calamidade neste ano em função da pandemia de Covid-19.

Na véspera, Guedes havia dito à CNN Brasil que talvez desistisse do novo imposto. Nesta noite, contudo, ele justificou ter dado uma informação equivocada no lugar da sua usual explicação sobre a necessidade de um tributo dessa natureza para promover um bem maior –a geração de postos de trabalho.

“Eu não me importo se o tributo é feio desde que ele funcione criando novos empregos. É válido. Mas então eu dei uma informação errada ontem, porque é esse o sentimento. Primeiro eu disse: ‘Bem, talvez eu deveria ter falado com ela (repórter)’. Aí quando eu falo com ela, é o mesmo assunto, a mesma porcaria, que é: ‘Você está criando uma nova CPMF?’. Não, de jeito nenhum. Ao invés de explicar, eu disse: ‘Escute bem, eu esqueci, eu desisti'”, afirmou ele, em participação em inglês.

O ministro disse que “de modo algum” desistiu da investida.

“Eu não sou um homem de desistir facilmente das coisas”, emendou.

Guedes sempre se mostrou a favor da instituição de um imposto sobre transações de base ampla para bancar a desoneração da folha de salário das empresas, mas a equipe econômica ainda não chegou a formalizar sua proposta.

Sobre a eventual extensão do auxílio emergencial para o próximo ano, o ministro se posicionou após preocupações nesse sentido terem novamente mexido com o mercado financeiro nesta sexta-feira.

“Não há qualquer plano para estender o auxílio, nenhum. Isso não é verdade. Isso não é nossa intenção, não é o que o presidente disse. Não é o que o ministro da Economia quer. De jeito nenhum”, afirmou ele.

“A doença (Covid-19) está diminuindo e, à medida que diminui, o Brasil está em recuperação em ‘V’, e nós devemos ter responsabilidade quanto ao nosso orçamento e devemos mostrar que somos responsáveis, e fortes, e resilientes o suficiente para pagar pela nossa guerra ao invés de rolar para nossas crianças no futuro”, completou.

Ecoando falas recentes, o ministro voltou a defender que, caso o país seja novamente atingido por uma pandemia num outro ano, a reação será rápida e forte tal qual em 2020. À parte essa possibilidade, ele reiterou que é necessário respeitar o teto de gastos, que limita o crescimento dos gastos públicos à inflação medida no ano anterior.

“Quando a pandemia nos atingiu, nós criamos um regime emergencial. Agora, nós não podemos utilizar a desculpa do regime emergencial para explodir o teto de gastos”, disse.

ESTRESSE NO MERCADO DE DÍVIDA
Quanto à reação recente do mercado de dívida, com elevação dos prêmios e inclinação da curva de juros, Guedes avaliou que isso está acontecendo porque os agentes estão vendo problemas na disposição de “pessoas” de quebrar o teto e de “políticos ruins” de usar o coronavírus como desculpa para a implementação de políticas populistas.

Guedes destacou que o governo não irá fazer uma operação “twist” para endereçar o problema, em referência a eventual compra de títulos longos pelo Banco Central numa tentativa de achatamento da curva.

“Nós não queremos falsificar o negócio. Queremos dar ouvidos aos sinais do mercado e reagir corretamente para criar expectativas apropriadas”, afirmou ele.

PROMESSAS QUEBRADAS
Em meio a cobranças de que não estaria entregando compromissos firmados publicamente, o ministro voltou a dizer que o “timing” da apreciação de reformas é dado pela política.

Sobre promessa feita no início de julho de que quatro grandes privatizações ocorreriam em 90 dias, ele afirmou ter feito a previsão após conversas com a base política para operações envolvendo Correios, Eletrobras, os contratos de petróleo da PPSA e o Porto de Santos.

Mas Guedes sinalizou que, nesse ínterim, as aspirações foram barradas pela política.

“Nós concordamos politicamente entre nós. E, então, eu falo de novo: ‘Em 90 dias nós vamos anunciar quatro grandes privatizações’. E, então, 90 dias se passam e não há anúncio. O que ocorreu? Política novamente”, disse.

O ministro defendeu que, em meio à turbulência da crise, avanços que têm sido feitos pelo governo acabam despercebidos.

De acordo com Guedes, apesar da gravidade do surto de Covid-19, o governo não abandonou seus planos de domar a explosão dos gastos previdenciários (com a reforma aprovada no ano passado), as despesas com juros da dívida pública (com a Selic em seu menor patamar histórico) e o aumento dos salários do funcionalismo –em relação a essa última frente, o congelamento foi aprovado até o próximo ano em troca da ajuda extraordinária a Estados e municípios neste ano.

Guedes disse também que algumas medidas já implementadas, como para o mercado de gás, estão surtindo efeito.

“As pessoas cegas não veem nada, elas continuam gritando e reagindo aos ruídos. Elas não veem nada. Elas não veem que o gás natural já está caindo, futuros contratos já estão sendo feitos com 30%, 40%, 50% de redução de custos”, disse.

O ministro pontuou que os gastos públicos em função do quadro de pandemia chegarão a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, mas afirmou que não há arrependimento quanto a esse volume.

“Nós faríamos tudo de novo, provavelmente até mais, caso pudéssemos, mas agora nós devemos retornar à agenda de reformas. Nós saímos do caminho para apagar o incêndio na floresta e estamos de volta ao caminho, o caminho de reformas”, disse.

Guedes afirmou que tanto as reformas quanto as privatizações serão aceleradas nos próximos dois anos da gestão Jair Bolsonaro e que o governo está “só começando”, após os dois primeiros anos do mandato terem sido marcados pela “tentativa de sobrevivência” e “fuga do escuro”.

A avaliação do ministro foi de que uma maioria de centro-direita está sendo construída e que o Congresso está fazendo “grande e maravilhoso trabalho”. Ele voltou a elogiar a atuação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também citando os deputados Ricardo Barros (PP-PR), que é líder do governo, e Arthur Lira (PP-AL), líder do centrão.

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Economia

Projeto estabelece teto para pagamento de dívida previdenciária

Em 2005, a Lei 11.196/05, que estabeleceu condições especiais (isenção de multas e redução de 50% dos juros de mora)
Economia

Representação Brasileira vota criação do Banco do Sul

Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela, além do Brasil, assinaram o Convênio Constitutivo do Banco do Sul em 26