Foto: Ahmad Jarrah
Promovida de ‘elefante branco’ a ponto de encontro dos mato-grossenses, a Arena Pantanal é hoje um dos lugares mais visitados da capital. Com média de público de 5 mil pessoas por dia, o estádio já se transformou em um lugar de prática esportiva, passeios, feiras, jogos e shows. Contudo o local que é gerido pela Secretaria de Cidades (Secid) não cobra nenhuma taxa de manutenção para os organizadores de eventos que utilizam o local. Exemplo disso é o projeto “Vem pra Arena”, do governo estadual, que já está em sua terceira edição e objetiva realizar eventos culturais, gastronômicos e de lazer para a população.
Atualmente o estádio mato-grossense consome por mês a cifra média de R$ 700 mil, com gastos de iluminação e manutenção em geral. Dinheiro que sai dos cofres públicos e até o fechamento desta matéria já gastou cerca de R$ 7 milhões, em 2015, só com manutenção, além do valor pago pelo empréstimo junto ao BNDES.
O investimento para construção do estádio foi de R$ 620 milhões, dos quais R$ 342 milhões foram financiados pelo BNDES e R$ 280 milhões foram à contrapartida do próprio governo, bem acima dos R$ 342 milhões inicialmente previstos. Um ano e meio após sua inauguração, a Arena Pantanal ainda não conseguiu uma gestão autossustentável.
Tendo abrigado menos de 100 jogos de futebol este ano, o estádio mato-grossense não arrecada nem 15% do valor com a renda das bilheterias. “A Arena vive de futebol? Mas nem pensar! Ela precisa entrar no circuito nacional de grandes shows, precisa sediar jogos de grandes times da série A”, explicou o secretário de cidades Eduardo Chiletto, em entrevista ao Jornal Circuito Mato Grosso.
Conforme o secretário, a estratégia é não deixar o espaço ocioso e vazio. “Hoje não cobramos nada para um time sediar jogos no estádio. Pois é muito mais fácil manter a ‘casa’ mais arrumada enquanto se tem morador, do que uma ‘casa abandonada’. Pedimos apenas aos promotores do evento que entreguem a arena limpa”, pontuou o secretario.
Polêmicas
Palco de várias polêmicas que envolveram desde a morte de um eletricista (eletrocutado na época das obras no estádio), uma égua (também eletrocutada, na área externa), incêndios (de materiais de vedação), atrasos e suspeitas de superfaturamentos (com uma cadeira saindo pelo preço de R$ 400) a Arena Pantanal, em Cuiabá, agora possui eventos agendados até abril de 2016.
Apesar disso o local ganhou a simpatia da cuiabania, tal qual um grande parque, com prática de lazer e esportes como corrida, ciclismo, patinação e outras atividades.
De corridas a eventos religiosos, shows e reuniões de negócios, uma das doze sedes da Copa do Mundo de 2014 é palco de feiras gourmet a eventos musicais, reunindo, diariamente um trânsito de 5 mil pessoas (média de público informada pela Secretaria de Cidades – pasta que administra o estádio).
O estádio – que ainda não foi entregue oficialmente pela construtora – depende de um projeto de concessão à iniciativa privada, que está sendo realizado pelo Gabinete de Assuntos Estratégicos (GAI). Além disso, apesar dos inúmeros eventos marcados no local, nenhum arrecadará fundos para o pagamento da sua manutenção milionária.
Segundo dados da própria Secid, o local não cobra nenhuma taxa para seu uso. Isso implica dizer que nem shows, nem jogos e qualquer outro tipo de evento seja pago – o que não significa que não sejam lucrativos para seus realizadores. A secretaria exige apenas a assinatura de um termo de responsabilidade que cobra a limpeza e segurança do local pelo realizador do evento.
Ao contrário da maioria das sedes brasileiras, o estádio mato-grossense não conta com uma concessão e é gerido pelo estado. Neste mesmo estilo de gestão estão o Mané Garrincha (Distrito Federal) e Arena Amazonas (Manaus). Os outros nove estádios que foram sede do mundial estão sob responsabilidade dos times, da Série A, ou com grandes corporações.
Enquanto que em Cuiabá o valor é zero, para tentar exemplificar, o Maracanã, que também foi reformado para a Copa do Mundo, cobra o valor de R$ 300 mil, por jogo, aos times que quiserem uma partida lá. Sem contar com os termos de responsabilidade como limpeza e segurança.
Outra tentativa de reaproveitar o local, foi a tranferências de algumas secretarias para o interior do estádio. Conforme a assessoria de imprensa do governo (Gcom) atualmente estão alocado no estádio equipes do GAI, defesa civil, Secretaria adjunta de obras da baixada cuiabana, alunos dos Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Arena Corinthians
Há entre os 12 estádios feitos ou reformados para o mundial, três privados, seis que fazem parte de iniciativa público-privada e três estatais. O estádio do Corinthians é um dos que optaram pela iniciativa privada. Seu custo era inicialmente de R$ 820 milhões, mas já chegou a 1,2 bilhão devido a gastos extras.
O clube tem 15 anos para pagar ao BNDES e à empreiteira e fará isso através de um fundo criado com a própria Odebretch (responsável pela obra e acionista do time) para onde irão todas as receitas com o estádio. Sobrando algum valor, 50% é do clube. O Corinthians ainda não conseguiu vender os direitos do nome da arena, mas espera-se R$ 400 milhões com essa negociação. Tampouco se iniciaram até aqui a venda de espaços comerciais e camarotes, outra fonte de renda importante.
A administração do campo é toda do Corinthians e estima-se que a administração da nova casa alvinegra custe R$ 100 milhões anuais. Em contrapartida ela gera R$ 200 milhões por ano em receita.
Maracanã
A terceira reforma do Maracanã nos últimos 14 anos foi a mais cara de todas. Depois de gastar R$ 253 milhões com o estádio antes do Mundial de Clubes de 2000 e R$ 428 milhões sete anos depois, para o Pan-Americano de 2007, o governo do estado do Rio de Janeiro dispendeu R$ 1,1 bilhão para deixar pronta a casa da final da Copa do Mundo, valor 40% maior do que o previsto.
Recursos do BNDES correspondem a 57% do investimento total e o restante saiu do Tesouro Estadual do Rio de Janeiro. O Maracanã foi concedido até 2048 a um consórcio formado por Odebrecht, pela IMX e pela norte-americana AEG.
Pelo acordo, o conglomerado deve pagar R$ 5 milhões anuais e investir R$ 600 milhões no entorno do complexo do estádio. Botafogo, Flamengo e Fluminense já assinaram contrato para utilizarem o Maracanã nos próximos anos, cada um com suas especificidades e com duração diferente.
Contudo, a assessoria de imprensa do consócio Maracanã disse, por meio de nota, a título de exemplo, que cada partida no local custa cerca de R$ 300 mil, para o time mandante.
Arena Beira Rio
O último dos três estádios privados da Copa do Mundo, o Beira-Rio, a casa do Internacional, também passou por reformas, pelo custo de R$ 330 milhões, com financiamento federal de R$ 275,1 milhões via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Inter desembolsou R$ 26 milhões decorrentes da venda do terreno do antigo Estádio dos Eucaliptos, e o restante do investimento veio da Brio, empresa criada pelo clube em parceria com a empreiteira Andrade Gutierrez, responsável também pelas obras.
Em contrapartida, o Inter cedeu à Brio o direito de explorar por 20 anos as receitas dos 7 mil lugares de camarotes e áreas VIPs, área comercial para publicidade, placas de publicidade – exceto aquelas em volta do gramado -, parte das vagas de estacionamento, venda do marketing esportivo do estádio, exploração de shows e eventos. O Inter permanece com os direitos sobre bilheteria e com 2,1 mil vagas do atual estacionamento.
O Inter não tem, portanto, débitos referentes à reforma do campo a quitar nos próximos anos. O estádio, que teve capacidade de 50 mil lugares durante a Copa do Mundo, volta a comportar 56 mil espectadores depois do Mundial com a liberação de espaços exigidos pela Fifa.
Mané Garrincha
O estádio mais caro da Copa sofre do mesmo problema que a Arena Pantanal: não há times do Distrito Federal nem mesmo na terceira divisão nacional.
O governo estadual fala em R$ 1,4 bilhão gastos pela Terracap, empresa pública com autonomia administrativa e financeira, na reconstrução do Mané Garrincha, mas o Tribunal de Contas do Distrito Federal diz ter identificado sobre preço em compras e pagamentos por serviços não executados, entre outras irregularidades e garante que o valor final se aproxima dos R$ 2 bilhões.
Para impedir que o estádio vire um ‘elefante branco', o governo estadual conta para o período pós-Copa, no segundo semestre do ano, com a realização de jogos de futebol e shows no local. Os eventos estão em processo de agendamento e só após confirmação poderão ser divulgados.
Além disso, Brasília foi confirmada como sub-sede das Olimpíadas de 2016, e o Mané Garrincha vai receber partidas de futebol feminino e masculino e, em 2019, receberá a “Universidade”, segundo maior evento esportivo universitário do mundo.
O modelo de gestão do estádio após a Copa do Mundo está em fase de estudos técnicos na Terracap. Nas obras do Mané Garrincha ocorreu a primeira das oito mortes registradas nas obras dos estádios para a Copa.
A assessoria não informou o valor médio cobrado por evento realizado no local.
Arena Amazonas
A Unidade Gestora do Projeto Copa, UGP, afirma que a obra da Arena Amazonas custou 594 milhões a serem pagos em 20 anos. Já a Fundação declara que R$ 669,5 milhões foram investidos no projeto com prazo de reembolso de 30 anos. A verba veio do BNDES, R$ 400 milhões, e o restante, do governo estadual.
Amazonas também tem a missão de não deixar a Arena da Amazônia virar um 'elefante branco'. Como em Cuiabá e Brasília, em Manaus não há equipe no primeiro escalão do futebol brasileiro. Nem mesmo na terceira divisão do campeonato nacional.
O governo estadual contratou a empresa britânica Ernst Young para realizar uma consultoria que apontará opções viáveis de utilização do estádio. Apesar de a consultoria ainda não ter sido concluída, foi divulgada uma prévia que apontou duas alternativas para a gestão da Arena da Amazônia: operação por empresa terceirizada e concessão onerosa por duas décadas.
Enquanto isso não ocorre, a Fundação Vila Olímpica organiza um calendário de eventos solicitados por empresas locais, como shows musicais, eventos futebolísticos e religiosos. Durante as obras da Arena da Amazônia faleceram três trabalhadores. A assessoria também não divulgou os valores cobrados pela utilização do espaço.
Isso implica dizer que nem shows, nem jogos e qualquer outro tipo de evento seja pago – o que não significa que não sejam lucrativos para seus realizadores.
Confira a reportagem na integra no Jornal Circuito Mato Grosso