Walcyr Carrasco é o primeiro autor a ter três novelas exibidas ao mesmo tempo na emissora: "O Cravo e a Rosa", "Caras & Bocas" e "Amor à Vida".
Esses são apenas alguns dos casos de repetição de talentos em produções consecutivas e/ou simultâneas na rede. Segundo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que por mais de 30 anos comandou a Globo, criando seu famoso "padrão de qualidade", o canal vive um "um descontrole do aproveitamento do casting [elenco]".
"[Antes] Havia controle rigoroso para evitar o que chamávamos de 'conflito de escalação'. Não era admitido ocorrer esses conflitos com atores de novelas e até com os convidados de programas, como cantores etc", afirma o executivo, que atualmente dirige a TV Vanguarda, afiliada da Globo no Vale do Paraíba, em São Paulo, ao "F5".
"Além disso, para os principais atores havia a determinação de quarentena entre uma atuação e outra. Casos de repetição só eram admitidos no 'Vale a Pena Ver de Novo', mesmo assim somente para papéis do terceiro escalão para baixo."
De acordo com o Boni, que trabalhou na Globo até 1997, essas regras foram adotadas em 1972.
Casos como o de Gabriel Braga Nunes, que desde que retornou à Globo, em 2011, emendou quatro produções –"Insensato Coração", "Amor Eterno Amor", "O Canto da Sereia" e "Saramandaia"– e está escalado para um dos principais papeis de "Em Família", próximo folhetim das 21h, que estreia em fevereiro, estavam fora de cogitação.
"Anteriormente [a 1972], quando o elenco era ainda restrito, tínhamos que escalar alguns dos principais atores para emendar novelas. Mas desde o início de nosso trabalho, nunca admitimos esse conflito. O controle ia além, evitando tramas e personagens parecidos em cada produção", lembra.
"A liberação total para uso de artistas em diferentes papéis ao mesmo tempo e mesmo para trabalhos seguidos é seguramente a canibalização do elenco", diz Boni.
Segundo ele, o aumento de produções exibidas pela Globo não justifica a repetição do elenco.
"O planejamento da produção observando as datas em que os produtos serão exibidos pode perfeitamente permitir um controle bastante eficiente, fazendo dos conflitos uma exceção", finaliza o executivo.
Procurada pela reportagem, a Globo não quis comentar.
F5