Após ser considerado a "personalidade do ano" na premiação do GW100 Awards, que ocorreu na noite de sexta-feira (1º), o desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) Orlando Perri comentou e sua intensa atuação na Operação Esdras, que investigou o esquema de escutas ilegais ocorrido em Mato Grosso e que ficou nacionalmente conhecido como grampolândia pantaneira. Segundo o magistrado, diversas foram as pressões em relação ao caso. Ainda, ele afirma que os delegados poderiam chegar à uma conclusão se tivessem recebido mais 24 horas de prazo.
“Foi um dos casos mais emblemáticos e mais difíceis de conduzir que eu tive nos meus 34 anos de magistratura”, afirmou o desembargador na ocasião. O escândalo dos grampos tomou grandes proporções após ter sido denunciado pelo promotor de Justiça Mauro Zaque à Procuradoria-Geral da República (PGR). À época, o caso foi à tona no dia 14 de maio, quando o programa nacional Fantástico, da Rede Globo, divulgou reportagem de seis minutos na qual explicava como funcionava o caso em Mato Grosso.
Segundo as investigações, o caso teria acontecido entre 2014 e 2017, um esquema de grampos ilegais que teria como alvo jornalistas, juristas, políticos e empresários. Ainda conforme as apurações, as escutas eram promovidas por membros do alto escalão do governo do Estado, incluindo secretários e coronéis da Polícia Militar.
Em razão das proporções, diversas foram as pressões sofridas pelos investigadores, conforme Perri. Segundo o desembargador, até mesmo delegados de polícia chegaram a temer o rumo das investigações. “Tivemos dificuldades inclusive de ter delegados de polícia que aceitassem participar dessas investigações”, comentou. “As pressões foram muitas e de todos os lados. A verdade é que não havia interesse nenhum de se investigar a situação da grampolândia pantaneira”.
Apesar das dificuldades, porém, o desembargador agradeceu aqueles que se juntaram às investigações e garantiu que as respostas estavam muito próximas, a 24 horas de distância. “Digo a vocês que nós estivemos próximos, muito próximos, de desvendar toda a situação da grampolândia pantaneira”, comentou.
Desde outubro de 2017, o caso dos grampos está sob investigação do Superior Tribunal de Justiça, na responsabilidade do ministro Mauro Campbell Marques. O processo subiu de instância após pedido do governador Pedro Taques (PSDB), que chegou a ser investigado no caso. Sobre o fato, Perri comentou confiar no trabalho do colega magistrado. “Tenho convicção de que o real desejo da sociedade mato-grossense é obter respostas sobre todas as interceptações realizadas no Estado”, finalizou.