Servidores da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) foram flagrados batendo ponto e indo embora logo em seguida, em Goiânia. Mesmo não trabalhando, eles continuam recebendo salários que chegam quase a R$ 10 mil, conforme apurou a reportagem da TV Anhanguera. A maioria deles é comissionada.
Os funcionários da Assembleia começam a bater o ponto 6h30. Todos os servidores devem passar o crachá e seguir para o trabalho. Porém, alguns voltam para a entrada do prédio e vão embora. Uma das pessoas que foi filmada cometendo a irregularidade chega a deixar o carro ligado na rua enquanto registra sua chegada na Casa.
Em outro caso, um homem deixa a mulher esperando na moto enquanto bate ponto e sai em seguida. Ao ser abordado pela equipe de reportagem da TV Anhanguera, ele nega inicialmente que trabalhe na Assembleia Legislativa. Porém, depois assume. “Eu trabalho no gabinete de um deputado. Eu vou e volto. Eu deixo ela [esposa] no serviço e volto”, disse.
Lotado no gabinete do deputado Paulo Cezar Martins, com o cargo descrito como assessor nível 8, Geraldo Marques também foi flagrado batendo ponto sem trabalhar. Ele recebe R$ 9.879, de acordo com o portal da transparência do órgão.
Após deixar a Alego, ele segue de carro até uma ONG. Inicialmente, ele diz que trabalha na instituição. Porém, quando é perguntado se é funcionário fantasma da Assembleia, ele nega.
“Eu fico mais é lá [Assembleia]. Eu fico com o deputado lá. Eu vim aqui só para trazer uns papéis, mas não fico aqui não. Venho aqui às vezes trazer um documento. Eu não trabalho aqui não”, afirma.
Em nota, o deputado Paulo Cezar Martins explicou que o servidor trabalha com ele há mais de dez anos, é um dos assessores de maior confiança e que, por isso, as atividades não são apenas de motorista, mas também de assessoria em diversos assuntos parlamentares. Ao contrário do que alegou o funcionário inicialmente, o parlamentar afirma que o homem não trabalha na ONG, e sim no gabinete e que todos os prestadores de serviço são rigorosamente fiscalizados.
Flagrante
Assessora nível 3, Edinair Maria dos Santos Moraes foi flagrada durante três dias registrando a presença na Alego, mas saía sem trabalhar. No portal da transparência, ela aparece lotada no gabinete do deputado Marlúcio Pereira da Silva. O salário dela é de R$ 2 mil.
Em um dos dias, ela toma café da manhã em uma padaria, faz caminhada em um parque e passa quase duas horas sentada em um banco. Em seguida, ela retorna à Assembleia, mas fica do lado de fora.
Para a equipe de reportagem, ela disse que trabalhava como secretária, mas que estava desempregada no momento. Sobre sua ida à Assembleia, ela disse que foi participar de um evento. “Me avisaram de uma homenagem. Eu gosto muito do médico, e aí vim”, justificou. Ao ser questionada porque bate o ponto diariamente e sai sem trabalhar, ela diz que nunca fez isso e foge correndo.
De acordo com o deputado Marclúcio Pereira, não há nada irregular com a servidora. De acordo com o parlamentar, ela presta serviços de assistência social ao gabinete. Ele afirma que às segundas-feiras é repassada uma relação de tarefas a ela e que o fato da servidora registrar a presença e deixar a Alego é normal, pois o trabalho dela é em campo, principalmente em Aparecida de Goiânia.
Punição
O ponto eletrônico na Assembleia Legislativa passou a funcionar em outubro de 2014 e, segundo a norma, o servidor que sai antes do horário deve justificar a ausência à chefia. O presidente da Casa, Hélio Costa, explicou que serão tomadas as medidas cabíveis para conter essas irregularidades.
“Ele [funcionário] está cometendo um ato inaceitável. Para mim, só temos dois caminhos: se for um servidor efetivo, será aberto um processo administrativo disciplinar para que ele se defenda e pague o que ele possa ter cometido de ato ilícito. Se ele for comissionado, a sentença já está pronta, ele será exonerado”, garante.
Já o Ministério Público de Goiás (MP-GO) disse que vai denunciar os servidores identificados na reportagem. “Isso pode configurar uma falta funcional, o ato de improbidade administrativa e até mesmo o crime de peculato, que é receber o dinheiro público sem fazer a contra prestação”, explicou o promotor Fernando Krebs.
Fonte: G1