A Ford vai pagar cerca de R$ 2,5 bilhões como indenização ao governo do Estado da Bahia por fechar a fábrica de Camaçari, após ter recebido incentivos fiscais desde o início de suas operações no Estado, em 2001. O acerto deve ser anunciado nos próximos dias, segundo fontes dos setores automotivo e jurídico.
O governador Rui Costa (PT) ainda teria tentado convencer a Ford a manter a operação da fábrica, onde eram produzidos os modelos Ka e EcoSport, mas, como a decisão veio da matriz americana, não teve jeito.
É possível, contudo, que a própria Ford, ou um de seus fornecedores, mantenha uma ala da fábrica baiana para produzir peças para o mercado de reposição, projeto a ser confirmado.
Procurado nesta quarta-feira, 16, o governo da Bahia não deu retorno sobre o assunto. A Ford disse que "não vai se manifestar sobre o tema". A empresa informou ainda que tem recebido vários contatos de interessados em adquirir as instalações da fábrica, mas nada conclusivo.
A Ford anunciou o fechamento das fábricas da Bahia e de Taubaté (SP) em janeiro, alegando que operavam com prejuízo havia vários anos. Em 2019 o grupo já havia fechado a unidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que produzia caminhões e o modelo Fiesta.
A planta da Troller em Horizonte (CE), onde é feito o jipe T4, vai funcionar até o fim do ano e também está à venda.
Construída por empresários brasileiros, a Troller foi adquirida em 2007 para que a fábrica da Bahia – que já tinha recebido incentivos por ter sido palco de uma guerra fiscal nos anos 2000 – pudesse desfrutar do regime especial de tributação para montadoras do Nordeste.
O governo do Ceará acompanha as negociações com dois interessados na Troller, e torce para que o eventual comprador mantenha a produção do jipe, assim como os 500 empregos.
Reservas
Após mais de 100 anos como fabricante no Brasil, a Ford agora apenas importa modelos da marca. Ainda assim, o grupo disse que vai manter seu centro de desenvolvimento de produtos em Camaçari.
Quando decidiu deixar de produzir automóveis no País, onde foi a quarta maior montadora no ranking de vendas, a Ford disse que havia reservado US$ 4,1 bilhões para pagar despesas com baixa de créditos fiscais, depreciação, rescisões e indenizações de governos, trabalhadores, fornecedores e concessionários. Fontes ouvidas pelo Estadão acreditam que o valor já foi ultrapassado.
Trabalhadores
A Ford já fechou acordos de indenização com os cerca de 5 mil trabalhadores de Camaçari e Taubaté, após entendimento os sindicatos de metalúrgicos locais. Cada um deles recebeu no mínimo R$ 130 mil, além de direitos normais de rescisão de contratos.
A fábrica de Taubaté atualmente passa por processos de desligamento e desmontagem de equipamentos, com menos de 60 funcionários. Não há informações de interessados em adquirir as instalações.
Após quase um ano de negociações lideradas pelo governador de São Paulo, João Doria, que queria outra montadora para o lugar da Ford, a fábrica do ABC foi adquirida por um grupo da área imobiliária que está transformando o local em um grande centro logístico.
Não há informações de como está o acerto de contas com os fornecedores de peças. Já com os concessionários, que ameaçaram ir à Justiça, a empresa preferiu fazer acertos individuais. A Ford informou que "continua com excelente progresso nesta questão, mas ainda tem negociações à frente".
Do total de 283 lojas, a Ford vai ficar com 120 para vender os modelos importados, entre eles os utilitários-esportivos Territory, da China, e o Bronco, do México. As demais buscam novas bandeiras para representar e algumas fecharão as portas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.