As perspectivas do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o desempenho da economia brasileira neste ano pioraram e os técnicos já veem uma retração de 3%, o dobro da estimativa anterior. A queda prevista é até mais intensa que a dos economistas do mercado financeiro brasileiro, que acreditam em um recuo de 2,85%.
Para 2016, as perspectivas também ficaram negativas. No último relatório, o FMI apontava que o Brasil cresceria 0,7%. No entanto, neste boletim atualizado, a previsão é de queda de 1,7%, acima da estimada pelos economistas brasileiros, que preveem uma baixa de 1%.
Essa não é a primeira vez que o fundo reduz suas expectativas para o crescimento do país. No relatório de abril, a previsão era de queda de 1% do PIB brasileiro em 2015 e de alta de 1%, em 2016. No relatório de janeiro, o FMI estimava que a economia avançaria 0,3% em 2015 e 1,5%, em 2016.
“No Brasil, a confiança dos empresários e dos consumidores continua a recuar, em grande parte por causa da deterioração das condições políticas, e os investimentos estão caindo rapidamente. A necessidade de “apertar” as políticas macroeconômicas também está colocando para baixo a demanda doméstica”, disse o FMIx, acrescentando que a crise no Brasil foi mais profunda do que o esperado.
O FMI estima ainda que a inflação no Brasil chegue a 8,9%, “acima do teto de tolerância do Banco Central, de 6,5%. Em relação às previsões dos economistas brasileiros, que vem uma inflação de 9,53% no final do ano, a estimativa do FMI é menos pessimista.
Commodities
Maurice Obstfeld, diretor do Departamento de Pesquisa do FMI, aponta que a queda nos preços das commodities acelerou recentemente, resultando em efeitos dramáticos em países emergentes exportadores desses produtos. Para esse grupo de países (do qual o Brasil faz parte), o crescimento deve desacelerar de 4,5% em 2014 para 4% este ano, no quinto ano seguido de perda de "fôlego".
"Mas claro, ainda que as commodities sejam uma grande parte da história, não são toda a história: em alguns casos, a instabilidade política pode ser um fator maior, ou um excesso de dívidas depois da entrada de capital e super-investimento no começo da década", afirmou.
Outras economias
As perspectivas também são desfavoráveis para a América Latina como um todo. Neste ano, a economia do bloco deverá recuar 0,3% e no próximo, deverá crescer 0,8%. Nas economias avançadas, o FMI prevê números positivos – porém, abaixo do que foi anteriormente previsto, chegando a 2% em 2015 e a 2,2%, em 2016.
No final de setembro, a diretora do FMI, Christine Lagarde já havia adiantado que as avaliações não eram positivas para países emergentes como Brasil e Rússia. "Economias emergentes deverão ver seu quinto ano consecutivo de taxas de crescimento em declínio. Países como Brasil e Rússia estão enfrentando sérias dificuldades financeiras. O crescimento na América Latina, em geral, continua a desacelerar rapidamente", afirmou Lagarde, na ocasião.
O grupo dos países emergentes e em desenvolvimento também viu a estimativa do FMI recuar. Ainda assim, os números não são negativos. Para este ano é previsto um avanço de 4%, e para 2016, de 4,5%.
“O crescimento nas economias emergentes e em desenvolvimento de mercado é projetado para uma recuperação em 2016. Isso reflete principalmente a recessão menos profunda além de uma normalização parcial das economias dos países em dificuldade(incluindo o Brasil, a Rússia e alguns países da América Latina e do Oriente Médio)”, afirmou o fundo, ressaltando, porém, que o crescimento da China deverá desacelerar ainda mais. Para este ano, a previsão de avanço é de 6,8%, e para 2016, de 6,3%.
“Nós projetamos uma retomada para o próximo ano, com crescimento de 4,5% em economias emergentes e em desenvolvimento, e um crescimento ainda maior nos anos seguintes. Essa retomada reflete principalmente uma normalização gradual das condições em países que passam por fortes recessões este ano – como o Brasil e a Rússia – assim como algumas economias que atualmente estão crescendo pouco, inclusive na América Latina”, apontou Maurice Obstfeld, do FMI.
Diante da redução da expectativa de crescimento de grande parte dos países, as previsões de avanço da economia mundial também foram reduzidas para 3,1% e 3,6%.
"Esses números agregados refletem destinos diferentes entre as economias avançadas e as em desenvolvimento. Para as economias avançadas nós projetamos uma aceleração moderada do crescimento este ano frente ao ano passado, especialmente nos Estados Unidos e na zona do euro. Infelizmente, o crescimento do Japão parece vacilar depois de um primeiro trimestre forte", apontou Obstfeld. "As economias avançadas cresceram a uma taxa de 1,8% no último ano, mas prevemos crescimento de 2% este ano, acelerando para 2,2% em 2016".
Veja a previsão de desempenho da economia nos países em 2015 e 2016:
Mundo: 3,1% e 3,6%
Economias avançadas: 2% e 2,2%
Estados Unidos: 2,6% e 2,8%
Zona do euro: 1,5% e 1,6%
Alemanha: 1,5% e 1,6%
Rússia: -3,8% e 0,6%
Japão: 0,6% e 1%
China: 6,8% e 6,3%
Índia: 7,3% e 7,5%
Brasil: -3% e -1%
Fonte: G1