A festa, que este ano passou por Curitiba, Salvador e São Paulo, vai revelar 40 autores que terão textos publicados. Com a edição na Maré e mais uma etapa na comunidade Mangueira, no segundo semestre, a ideia é editar dois livros com novos autores. De acordo com um dos criadores da Flupp, Julio Ludenir, a literatura brasileira precisa de diversidade. Na avaliação dele, as narrativas atuais são baseadas em único ponto de vista.
“Estamos procurando o que não é mais do mesmo. A literatura brasileira, há 200 anos, é do branco, homem, macho, de classe média”, afirmou. Segundo Ludenir, há um “monopólio de narrativas” que deve ser superado. “Temos que ir além do Manoel Carlos [escritor de novelas ambientadas no Leblon, bairro carioca de classe alta] e dialogar com o país”, completou. Ele disse que, na Flupp, são identificados poetas, contistas e romancistas das comunidades.
“Descobrimos uma senhora mineira de 84 anos na Maré que está escrevendo”, contou. “Tem muita gente produzindo literatura de um novo ponto de vista nas áreas periféricas da cidade e que não foram descobertas. O potencial é grande, nós que não tivemos condições de captar tudo”.
A festa literária começou ontem (5) com um jogo de futebol entre 18 escritores alemães e um time de ativistas de direitos humanos, funkeiros, moradores e escritores da Maré. “A palavra 'alemão' é usado no jargão da guerra do tráfico para designar 'inimigo'. Mostramos que aqui ninguém é inimigo. Tem diversidade, mas não adversidade”, disse Ludenir. A comunidade da Maré foi escolhida, segundo ele, para mostrar “que nem toda pacificação precisa ser feita com fuzis”.
“O processo de pacificação não precisa ser refém do Exército ou de uma política militar que não dialogue com a sociedade. É possível lidar com a diversidade, sem que para isso seja preciso estar com um carro blindado e um fuzil. Um livro pode ser uma 'arma'”, reforçou o escritor.
Agência Brasil