Política

Faz 22 anos que Brasil não tem nenhum presidente com experiência

Com o afastamento definitivo de Dilma Rousseff (PT) da Presidência da República, o Brasil terá, pela quarta vez seguida, um presidente que nunca havia sido eleito nem para comandar uma prefeitura ou um governo estadual.

Agora efetivado no principal cargo do Poder Executivo, Michel Temer (PMDB) é o 37º presidente brasileiro. Desde o início de sua trajetória política, ele jamais chegou a disputar uma eleição para prefeito ou governador, situação idêntica à de sua antecessora na Presidência.

Os últimos quatro presidentes do Brasil:
Fernando Henrique Cardoso (PSDB): 1995 a 2002
Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 2003 a 2010
Dilma Rousseff (PT): 2011 a 31 de agosto de 2016 (foi afastada do cargo em 12 de maio)
Michel Temer (PMDB): desde 31 de agosto
O mais perto que Temer chegou de um pleito majoritário foi nas eleições de 2002 e de 2004. Na primeira oportunidade, foi pré-candidato do PMDB ao governo paulista. Porém, na convenção do partido, em 2001, foi decidido que a candidatura seria de Orestes Quércia, que já havia governado São Paulo entre 1987 e 1991.

Dois anos depois, Temer quase disputou a Prefeitura de São Paulo pelo PMDB. O partido, porém, acabou fazendo uma aliança com o PSB, que tinha Luiza Erundina como candidata. Temer ocupou a vice da chapa, que terminou a disputa em quarto lugar, com 244.090 votos.

Estreia
A primeira eleição que o atual presidente disputou foi em 1986, para deputado federal. Com 43.747 votos, ele não foi eleito. Temer só chegou à Câmara porque se tornou suplente de Antônio Tidei de Lima, que assumiu a Secretaria de Agricultura de São Paulo. 

Na segunda tentativa de ser deputado federal, em 1990, ele, novamente, conseguiu apenas obter a vaga de suplente, já que teve o apoio de 32.024 eleitores, segundo dados do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo.

Temer foi realmente eleito deputado federal pela primeira vez em 1994, com 70.969 votos. Dois anos depois, em 1996, ele se tornou presidente da Casa.

Na eleição geral seguinte, em 1998, com 206.154 votos, foi reeleito e conseguiu manter-se no comando da Câmara por mais dois anos.

Temer obteve novos mandatos em 2002 (252.229 votos) e 2006 (99.046 votos) e assumiu, mais uma vez, a presidência da Casa, em 2009. Nas eleições de 2010 e 2014, ele foi o vice na chapa encabeçada por Dilma Rousseff.

Antecessores
Dilma disputou apenas duas eleições até hoje: a de 2010 e a de 2014, ambas para a Presidência da República.

Seu antecessor no cargo e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ficou conhecido pelas várias vezes que esteve em eleições presidenciais. Ele perdeu três (1989, 1994 e 1998) e venceu duas (2002 e 2006).

Antes, porém, de tentar ser presidente, Lula quis ser governador de São Paulo, em 1982. Com 1.144.648 de votos, ficou em quarto lugar. Quatro anos depois, foi eleito pela primeira vez: tornou-se deputado federal com o apoio de 651.763 eleitores.

Suplente
A primeira eleição disputada por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi durante o regime militar, em 1978, para o cargo de senador por São Paulo, pelo MDB. Com 1.272.416 de votos, ele ficou em segundo, como suplente de Franco Montoro (também do MDB), que, com o apoio de 4.517.456 de eleitores, obteve a maioria.

Como Montoro foi eleito governador paulista em 1982, FHC chegou ao Senado pela primeira vez em 1983. Foi nessa condição que ele se tornou candidato à Prefeitura de São Paulo, em 1985, disputa que perdeu para Jânio Quadros (PTB). O então senador recebeu 1.431.300 de votos.

Na eleição de 1986, FHC foi mantido como senador pelos paulistas para mais um mandato. Ele conseguiu 6.223.995 de votos.

Depois, já pelo PSDB, só disputou duas eleições para presidente da República. Venceu tanto em 1994 como em 1998 no primeiro turno.

Prefeitura antes da Presidência
Diferentemente de seus quatro sucessores, Itamar Franco (PMDB) já havia sido eleito para um cargo executivo antes de assumir a Presidência da República. Ele se elegeu prefeito de Juiz de Fora (MG) por duas vezes, para mandatos entre 1967 e 1971 e entre 1973 e 1974.

No primeiro pleito, em 1966, ele recebeu 25.908 votos; no segundo, em 1972, foram 42.066, segundo o TRE de Minas Gerais. Este último mandato foi abandonado para que Itamar disputasse a eleição para o Senado pelo MDB. Ele foi eleito com 1.443.443 de votos.

Reeleito como representante mineiro no Senado em 1982 com 2.398.361 de votos, ele só deixou esse cargo legislativo em 1990, para ser vice do presidente Fernando Collor (PRN). Com o impeachment dele, o mineiro tornou-se o 33º presidente brasileiro, pelo PMDB.

Após a Presidência, Itamar foi eleito governador de Minas Gerais, em 1998, com 3.080.896 de votos no primeiro turno e 4.808.652 no segundo. Em 2010, já no PPS, ele voltou ao Senado com o apoio de 5.125.455 de mineiros. Itamar, porém, morreu cinco meses após assumir o mandato, no dia 2 de julho de 2011.

Sem prejuízo
O professor de sociologia do Mackenzie Rogério Baptistini tem "convicção de que não há nenhum prejuízo" em alguém assumir a Presidência ser ter passado por uma prefeitura ou por um governo estadual. "Esse cargo tem uma característica particular. Ele pressupõe um arco de alianças que dá sustentação até ao mais inexperiente." Para ele, só não dá certo com o presidente que se coloca acima dos partidos. "Isso inviabiliza a governabilidade", diz.

No caso de Dilma, o professor observou uma incapacidade da ex-presidente em fazer política. "Ela não demonstrou traços para o dia a dia da política. Dilma tem traços imperiais de comportamento e não respeitou as Casas [Câmara e Senado]", afirmou Baptistini.

Sobre os antecessores da petista –Luiz Inácio da Silva e Fernando Henrique Cardoso–, o acadêmico vê qualidades políticas. "Lula pode ter suas deficiências, mas tem compreensão aguçada da política: sabe ouvir, costurar acordos. E FHC tem uma sofisticação intelectual e teve uma perspicácia para construir uma transição brasileira: de um governo decaído, de Collor, para um popular, de Lula", comenta.

São dois casos que demonstram que a democracia brasileira aponta soluções virtuosas, que os brasileiros não devem ficar céticos quanto à democracia

Rogério Baptistini, professor de sociologia

Com a permanência de Temer no Planalto, Baptistini espera uma resposta rápida para a seguinte pergunta: "Qual é o projeto para enfrentar essa conjuntura?". O professor faz essa avaliação tendo em vista informações de cortes e, ao mesmo tempo, sobre um "pacote de bondades" na gestão Temer. "Uma posição quase esquizofrênica. Tem que se cobrar a apresentação de um projeto claro quanto a como conduzir o país nesta crise."

Fonte: UOL

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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