BRASÍLIA,DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criticou nesta quarta-feira (25) o que chamou de "demagogia vacinal" e disse que, caso estados não sigam as orientações do Programa Nacional de Imunizações para a campanha de vacinação contra a Covid, podem faltar doses.
Para ele, é preciso defender a "soberania" do programa.
"Somos uma grande nação, temos 26 estados e Distrito Federal, mais de 5.570 municípios e secretários de muita qualificação técnica. Mas se cada um quiser criar um regime próprio, o Ministério da Saúde lamentavelmente não terá condições de entregar doses de vacinas", disse.
"Se cada um quiser fazer seu próprio regime, não vai dar. Não adianta ficar noticiando na imprensa que ministério atrasou e faltou dose. Se for diferente, vai faltar dose mesmo, e não vale ir para a Justiça. O direito de ir para a Justiça é um direito universal, mas o juiz não vai assegurar dose que não existe", afirmou.
As declarações ocorreram em entrevista coletiva para comentar a decisão de ofertar uma dose de reforço para idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos (como pacientes transplantados). Em nota divulgada mais cedo, a pasta informou que a previsão é que isso ocorra na segunda quinzena de setembro.
Horas depois, o governador paulista, João Doria (PSDB), anunciou que a oferta de um reforço no estado ocorrerá para a população acima de 60 anos a partir de 6 de setembro.
Na entrevista, Queiroga não citou um estado específico, mas criticou o que chamou de "demagogia vacinal".
"Não adianta um estado estar vacinando com 18 anos e outro 30. Se a gente decide aqui que os trabalhadores de saúde não serão contemplados com dose de reforço, não vale uma demagogia vacinal de estado A ou B dizer que vai aplicar doses em trabalhadores de saúde. Isso foi discutido amplamente."
Segundo Queiroga, a decisão sobre a oferta de doses de reforço para pessoas acima de 70 anos e imunossuprimidos foi tomada pela câmara técnica que assessora o Programa Nacional de Imunizações e considerou, entre outros pontos, a necessidade de maior proteção deste grupo contra a variante delta.
A estratégia deve usar prioritariamente doses da Pfizer. A medida considera estudos de intercambialidade e a previsão de que a pasta tenha mais mais doses desse imunizante nos próximos meses, informa. Caso as doses da Pfizer não estejam disponíveis, a recomendação é de utilizar doses da Janssen e AstraZeneca.
No caso dos idosos, a oferta do reforço deve ocorrer para aqueles que receberam a segunda dose há mais de seis meses. Para os imunossuprimidos, o intervalo deve ser de 28 dias após terem recebido a segunda dose ou dose única (para vacinados com a Janssen).
O ministro disse esperar ter até o fim de outubro ou início de novembro dados de um estudo contratado pela pasta para avaliar a oferta de uma terceira dose em pessoas que receberam a Coronavac, o que deve auxiliar em decisões futuras sobre novos grupos a receberem doses extras, aponta.
A pasta também anunciou nesta quarta a previsão de antecipar o intervalo de aplicação de uma segunda dose da Pfizer e Astrazeneca de 12 para 8 semanas também a partir da segunda quinzena de setembro.
De acordo com o ministro, a antecipação deve fazer com que toda a população adulta esteja completamente vacinada até o fim de outubro. Até então, a meta do ministério era vacinar toda a população adulta com duas doses até dezembro deste ano.
Segundo a secretária de enfrentamento à Covid, Rosana Melo, a estratégia de antecipar a segunda dose e ofertar um reforço para alguns grupos não deve afetar a imunização de adolescentes sem comorbidades, que já estava prevista para setembro.
"Mesmo iniciando a partir de setembro adolescentes sem comorbidades, temos o quantitativo necessário desses imunizantes", disse.
Mais cedo, em evento da XP, Queiroga classificou como "remoto" o risco de falta de doses da AstraZeneca com a antecipação da segunda dose. A posição foi repetida em coletiva horas depois.
Segundo ele, caso isso ocorrer, porém, a ideia é utilizar o intervalo de 12 semanas ou fazer intercâmbio de doses.