Eis que chega um dos dias mais aguardados do ano pelo consumidor mundial. Todas as lojas e empresas, sejam de produtos, fastfood ou serviços, costumam receber a pergunta ‘qual será a promoção do dia?’. Qual deve ser a resposta de uma clínica veterinária que segue à risca a ética da profissão durante a Black Friday? Nossos entrevistados respondem.
O professor titular na Universidade Federal Fluminense (UFF) e presidente do Grupo de Trabalho Técnico Jurídico (GTTJ), do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Ismar Araujo de Moraes, diz que os médicos-veterinários devem ter a consciência de que seu trabalho não trata de oferecimento de mercadorias ou produtos, mas de serviços: “E que exigiu muitas horas de estudos teóricos e práticos em estágios, às vezes com grandes sacrifícios e com muitos custos financeiros envolvidos”, lembra.
Para ele, a Sexta-Feira Negra é um momento de os comerciantes desfazerem estoques de mercadorias para renová-los, sendo assim, serviços veterinários são algo muito maior e jamais poderiam ser equiparados, sob pena de vulgarizá-lo e desvalorizá-lo. “Os médicos-veterinários sabem que estão proibidos pelo seu Código de Ética (Resolução 1138, de 16 de dezembro de 2016) de oferecer serviços profissionais de modo promocional ou com descontos. E já têm ciência de que o princípio dessa regra é manter os serviços profissionais sempre valorizados pela sociedade”, reforça.
Escolha certa. Moraes argumenta que os tutores de animais de companhia devem olhar o médico-veterinário que assiste seus pets como o pediatra que assiste seus filhos. “Assim, não é o preço baixo que deve servir de atrativo, mas a qualidade e eficiência do serviço profissional. É uma relação de confiança que deve ser estabelecida e não uma relação comercial. Ademais, sempre deve valer o dito popular: santo, quando vir com muita esmola, deve desconfiar. Se o clínico não deu valor ao seu serviço, deve ser porque, de fato, ele não tem valor. E, assim sendo, é o animal que está em risco e não a carteira do tutor. A propósito, a saúde do pet não tem preço”, opina.
Sobre isso, a médica-veterinária especializada em oftalmologia veterinária, Silvia Bello, complementa afirmando que a saúde não pode ser comprada, nem vendida. “Não é um bem pago em moeda, jamais foi. Nossos filhos e pets são nossos bens maiores. Para eles, queremos sempre o melhor e, que qualquer problema, possa ser resolvido de forma certeira, o mais rápido possível. Um especialista qualificado é o caminho mais curto para minimizar o sofrimento e resolver a questão”, observa.
Profissionalismo. Na visão do professor, pautar o comportamento na ética profissional é a base para a valorização profissional e sucesso na carreira: “A sociedade espera poder confiar no médico-veterinário e entregar seus filhos de quatro patas com a segurança de que estará em boas mãos, recebendo os melhores cuidados. Para que essa sociedade confie e valorize o médico-veterinário, antes de mais nada, é preciso que o próprio profissional se valorize”, recomenda. Para Silvia, a palavra ética diz respeito à propriedade do caráter: “É a conduta esperada de um profissional, que não prejudica nem o colega nem seu paciente, acima de qualquer outra questão”, insere.
Segundo Moraes, publicidade em Medicina Veterinária é um assunto que vem sendo trabalhado no GTTJ-CFMV e, em breve, a sociedade poderá conhecer as regras que passarão a somar àquelas previstas no Código de Ética e que trarão um padrão a todo tipo de publicidade relacionada aos serviços profissionais.
Mas, na opinião de Silvia, a melhor maneira de divulgar o trabalho é sendo um dos melhores dentro daquilo que se propõe. “Um bom médico-veterinário não precisa apelar para entrar no mercado, seu nome é conhecido e indicado por mérito de seus serviços. Liquidar-se no mercado é um atestado de desespero e despreparo”, avalia e declara que sempre há uma clientela farta, para aquele que se propõe a fazer o seu melhor. “No entanto, este não é um caminho fácil e rápido: começa desde a escolha da profissão e depende da prioridade que este trabalho tem em sua vida. Os clientes sabem avaliar isto, pela maneira como o profissional age nos atendimentos”, finaliza.