Economia

Estrangeiro aumenta participação em investimentos feitos no Brasil

Folhapress

Se as incertezas sobre a economia brasileira têm colocado em modo de espera todo o tipo de investimento produtivo, é certamente sobre os investidores locais que recaem as maiores dúvidas sobre o momento certo para voltar a investir.

Embora a taxa de investimento da economia esteja em queda há três anos consecutivos, com retração acumulada de 30% desde 2013, o investimento externo tem ganhado participação nesse bolo há pelo menos dois anos.

A fatia estrangeira no investimento agregado da economia brasileira -a chamada FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo)- chegou a 18,6% no fim do primeiro trimestre deste ano, o maior nível desde dezembro de 2002, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização (Sobeet), feito para a Folha de S.Paulo.

O gigantismo do mercado interno, a visão de mais longo prazo, o câmbio mais favorável, que acaba reduzindo custos em dólar, e até mesmo a distância em relação aos problemas locais são, segundo especialistas, alguns dos atrativos a explicar a resiliência do investimento externo nos últimos anos.

Luís Afonso Lima, e diretor-presidente da Sobeet, ressalta ainda que os estrangeiros não enfrentam atualmente as restrições de crédito bancário e também do mercado de capitais encaradas pelas empresas brasileiras.

Outro ponto a favor dos estrangeiros é que eles se concentram em projetos em expansão, enquanto o grosso dos investimentos brasileiros tem ido para novas plantas, caso em que as turbulências se tornam um fator determinante a pesar na decisão.

Segundo a Sobeet, 60,3% dos recursos estrangeiros vindos para o país desde 2015 foram para investimentos em expansão (sem contar aquisições), enquanto apenas 24% foram direcionados para novas plantas.

Já entre os brasileiros, 48% das inversões feitas no período foram para novas plantas e uma fatia menor, de 26,7%, se voltou para investimentos em expansão. O restante, nos dois casos, foi para modernização de projetos.

"Por ser mais global, o estrangeiro pensa diferente", diz Lima. Em alguns casos, afirma, a economia de um certo país pode até se mostra enfraquecida, mas pode ser vista pelo investidor externo como plataforma de exportação para um terceiro país.

"O investimento estrangeiro também sofre, mas menos do que o local", diz Lima.

Hesitação

Essa maior hesitação também do estrangeiro com relação ao Brasil fica clara nos números divulgados ontem pela Unctad, braço da Organização das Nações Unidas para assuntos de comércio e desenvolvimento.
O dados sobre fluxo estrangeiro mostram que o Brasil recebeu menos investimentos no ano passado.

Embora o país tenha subido da oitava para a sétima posição no ranking das economias a receber investimento externo, o fluxo caiu 8% entre 2015 e 2016, de US$ 64 bilhões para US$ 59 bilhões.

Os números divulgados pelo Banco Central são bem mais fortes apontam investimentos diretos no país ao redor de US$ 85 bilhões em 12 meses, mas não são comparáveis com outros países.

Num exercício para aproximar os dados e que exclui alguns itens como repatriação de recursos de filiais de empresas brasileiras e reinvestimento de lucros de estrangeiras, Lima estima que os investimentos diretos no país estão crescendo.

Mas os US$ 60 bilhões atuais estão ainda abaixo dos US$ 65 bilhões registrados no pico entre 2011 e 2012.

"Ainda que menos sensíveis do que o investimento local, os fluxos de investimento estrangeiro não estão imunes ao quadro de estagnação econômica e de forte indefinição política."

Redação

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