Política

“Era necessário uma voz dissonante”, afirma Pedro Taques

Circuito MT – O senhor concorreu à presidência do Senado e acabou perdendo para o senador Renan Calheiros. Mesmo derrotado, o senhor se sente mais fortalecido politicamente após essas eleições?
Pedro Taques – Resolvi ser candidato à presidência do Senado para que a sociedade veja que as coisas podem ser diferentes, que existem novos e melhores modos de se fazer política. Lutei o bom combate. Era necessária uma voz dissonante à candidatura de Renan Calheiros para que ele não chegasse ao comando do Senado como uma unanimidade, sem contestação. Não trato essa candidatura como fortalecimento político individual, mas sim um fortalecimento de um grupo independente. Foram apenas 18 votos, mas serviram para demonstrar que há os que resistem e não aceitam determinadas práticas. Esses 18 votos representaram as 300 mil assinaturas na petição online do Avaaz, pela Ficha Limpa na presidência do Senado.
 
 
CMT – A disputa pela presidência do Senado foi tão mais difícil do que a eleição que o senhor disputou em 2010? Quais foram as principais dificuldades? Quem o apoiou?
Pedro Taques – São eleições diferentes, numa eu precisava conquistar o voto do povo; na outra, o voto dos meus pares, dos senadores. Certamente uma eleição para o Senado tem outra dimensão, mais trabalho, tempo de campanha para mostrar propostas. A eleição do Senado obedece outra lógica. Eu já tinha ideia de quantos votos teria e de como seria o comportamento de cada senador. Mesmo sabendo que perderia, fui candidato para mostrar que existe alternativa. Infelizmente, depois de eleito, a maioria dos parlamentares segue apenas a lógica do poder, do que é melhor para si mesmo e para seu partido, e não o melhor para o povo.
 
CMT – O senhor acredita que os senadores por Mato Grosso Blairo Maggi e Jayme Campos votaram no senhor? Se não votaram, não se sente de certa forma desprestigiado pelos seus próprios colegas de Mato Grosso no Parlamento?
Pedro Taques – Infelizmente, o voto é secreto. Sendo assim, somente os senadores poderão afirmar se votaram ou não em mim. Caso não tenham votado, não me sinto de maneira nenhuma desprestigiado, isso faz parte do jogo político. A minha parte eu fiz: coloquei-me como uma candidatura alternativa e pedi votos a todos. Voltando ao assunto da votação secreta, gostaria de registrar que continuarei cobrando do Senado a apreciação da proposta que prevê o voto aberto nesses casos. O cidadão tem o direito de saber como vota o seu representante.
 
CMT – O senhor teceu críticas quanto à omissão do Senado em relação ao Poder Executivo,  atuando mais como um ‘puxadinho’ do que fiscalizador das ações do Executivo. O que o senhor pode contribuir para mudar essa realidade? Como Mato Grosso seria beneficiado caso fosse eleito presidente do Senado?
Pedro Taques – O presidente do Senado deve se relacionar com o Planalto de forma respeitosa e institucional. O Brasil precisa superar as disputas político-partidárias e pensar em um projeto estratégico. O Legislativo pode e deve contribuir para que isso ocorra. Na presidência do Senado, a intenção era deixar o Congresso mais próximo da sociedade. O objetivo seria criar novos mecanismos regimentais que permitam respostas legislativas mais rápidas aos anseios da sociedade, em um mundo moderno e globalizado, pois do jeito que está, acabamos sendo suprimidos pelo Judiciário e Executivo. Ainda para aproximar a população do Congresso, precisamos democratizar o poder de agenda legislativa, abrindo espaço para a iniciativa popular pautar projetos, os cidadãos, de qualquer lugar do Brasil, devem poder realizar petição requerendo a colocação de uma matéria legislativa na pauta ou na ordem do dia.
 
CMT – O senhor acha que a liberação de emendas parlamentares pode ser um termômetro de avaliação dos trabalhos de senadores e deputados de Mato Grosso no Congresso?
Pedro Taques –  Certamente não. Sempre fui um crítico das emendas parlamentares. Elas estão no DNA dos grandes escândalos do Brasil, veja Anões do Orçamento, Máfia das Sanguessugas. Defendo o orçamento impositivo, para que, depois de aprovada a emenda, os parlamentares e os prefeitos não precisem ficar com o pires na mão atrás do governo federal para a liberação do dinheiro. Além disso, com a certeza de que o recurso será liberado, os esquemas de propina diminuiriam, pois os acordos para os amigos do rei serem beneficiados acabaria. Podemos observar que a liberação de emendas para Mato Grosso é pífia. Assim que entrei no Senado, minha assessoria fez um levantamento do percentual de valores liberados. Em oito anos, de 2003 a 2011,  apenas 4,7% das emendas de bancada de Mato Grosso foram efetivamente liberadas e pagas. De R$ 2,5 bilhões aprovados em Orçamento para nosso Estado, apenas R$ 118 milhões foram liberados. Isso mostra que o atual sistema de emendas não funciona. A relação completa dos municípios contemplados nesses dois anos está disponível no nosso site.

CMT – Mesmo condenado como mensaleiro pelo STF, denunciado nos esquemas da Máfia das Ambulâncias, o PP do deputado Pedro Henry ainda tem a influência e o comando da Secretaria de Estado de Saúde, inclusive indicando o atual titular da pasta. Como cidadão e senador, o senhor não se sente incomodado quanto à forma em que distribuem cargos não só em nosso estado mas em todo o Brasil, contemplando as legendas sem olhar seus antecedentes, quem indica e quem ocupa os cargos?  
Pedro Taques – Situações como esta mostram que alguns caminhos do governo de Mato Grosso estão errados. A máquina pública deve servir ao cidadão e deve ser constituída, a priori, por servidores concursados, para que, nas mudanças de governo, o serviço não sofra prejuízo de continuidade.
Apresentei uma PEC no Senado que proíbe a nomeação para cargos de confiança de pessoas que estejam em situação de inelegibilidade, é a aplicação da ficha limpa para ministros e cargos de confiança. O Brasil está clamando por mudança, por mais seriedade com a coisa pública. Temos que acompanhar esse movimento para aprovar, sob essa pressão, projetos do interesse da sociedade. A Ficha Limpa é um exemplo disso. Essa lei só foi aprovada com o apoio do povo, por causa da pressão sobre os parlamentares.
 
CMT – O senhor acha possível acabar com o fisiologismo na gestão pública?
Pedro Taques – O fisiologismo é um dos principais males da nossa política. Ele transforma a coisa pública num negócio próprio, promovendo o clientelismo, beneficiando e distribuindo cargos e contratos para seu grupo. Com o tempo é possível, sim, acabar com essa prática, com a mudança de consciência do próprio eleitor e o uso de tecnologia, permitindo mais transparência e participação popular nas instituições públicas.
 
CMT – Como o senhor avalia o primeiro mês de gestão de Mauro Mendes em Cuiabá? Acha que ele está se saindo bem?
Pedro Taques –
Acredito que Mauro Mendes será um bom prefeito para Cuiabá. Ele foi eleito com o desejo de melhorar nossa cidade e está trabalhando para isso.
 
CMT – O grupo do qual o senhor faz parte, o MT Muito Mais, é visto como o bloco alternativo para a disputa de 2014. O senhor acha que, como governador, poderia dar uma contribuição maior a Mato Grosso do que como senador?
Pedro Taques –
Dois mil e quatorze tem que ser discutido em 2014.
 
CMT – Dos prefeitos do seu arco de alianças, qual o senhor avalia que tem mais condições de se candidatar em 2014 ao governo de Mato Grosso?
Pedro Taques
– Volto a dizer que este não é o momento para discutirmos candidatura.
 
CMT – Como o senhor avalia o destino da CPI do Cachoeira? Pode-se dizer que o final dos trabalhos reflete como Brasília investiga e pune criminosos?
Pedro Taques –
A CPI do Cachoeira terminou em pizza. Foram oito meses de investigação para, no final, o relatório não propor a responsabilização de nenhum dos investigados que têm ou tiveram relação com o bicheiro. A base aliada do governo conseguiu passar o rolo compressor e promover um acordo, aprovando o relatório por 21 votos a 7. Por isso defendo o melhor aparelhamento do Conselho de Ética, para que situações como essas, que acabam por contribuir na desmoralização do Congresso, não aconteçam.
 
CMT – O senhor tem algum outro tópico que gostaria de acrescentar?
Pedro Taques –
Não, apenas agradecer ao povo de Mato Grosso, que torceu durante minha candidatura à presidência do Senado. Senti esse acolhimento nas ruas, no Twitter e no
Facebook. Quero dizer que a torcida não foi em vão,  significou democracia e republicanismo. Nós, os que perdemos, continuaremos caminhando juntos com a dignidade intacta e o coração cheio de esperança.

Débora Siqueira – Da Redação

Foto: Reprodução

 

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