O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passará a ser aplicado de forma digital a partir do próximo ano. O projeto, apresentado nesta quarta-feira, 3, pelo ministro da Educação, Abrahan Weintraub, prevê que 50 mil candidatos, em 15 capitais brasileiras, façam o modelo digital em 2020. A expectativa é de que o número seja ampliado progressivamente até 2026, quando a prova impressa será extinta.
Para Weintraub, o novo modelo aumentará a concorrência. "A gente se livra de uma grande corporação. Duas ou três grandes empresas conseguem hoje se credenciar." Ele acredita ainda que o novo formato permitirá mais oportunidades para estudantes fazerem a prova, incluindo os que têm mobilidade reduzida.
O plano prevê que toda a prova seja realizada de forma digital, incluindo a Redação. Para o projeto piloto, devem ser desembolsados R$ 20 milhões – no formato atual, o custo é de aplicação para este ano, com cerca de 5 milhões de participantes, é de R$ 500 milhões. Não estão ainda definidas as empresas que participarão dessa primeira fase. Segundo o MEC, os custos iniciais com a versão digital serão expressivamente maiores do que da versão atual, mas a expectativa é de reduzi-los ao longo dos anos.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, afirmou que está em análise a logística necessária para a contratação das empresas. "Mas vai ser nos mesmos moldes", disse. A ideia é ter um aplicador e computadores, que serão fornecidos pela empresa escolhida ou por parceiros onde o exame será realizado. Diferentemente do que ocorre hoje, o exame não precisará ser aplicado em escolas. "Bastará uma sala com estrutura." Pelo cronograma apresentado para 2020, as provas digitais serão realizadas em 11 e 18 e as escritas, nos dias 1 e 8 de novembro
A ideia é que, ao longo dos anos, as provas digitais sejam feitas em mais de uma data, o que, na avaliação do ministro retiraria "a agonia" de fazer o exame de tamanha relevância em apenas um dia. "Estamos chegando tarde. Não como governo, mas como nação", afirmou Weintraub sobre a mudança do modelo. Ele comparou os testes ao exame Toefl, feito para avaliar a pró-eficiência da língua inglesa.
Durante a campanha para a presidência da República no ano passado, o presidente Jair Bolsonaro levantou dúvidas sobre a segurança do sistema de votação por meio de urnas eletrônicas. Questionado se o mesmo questionamento não poderia ser feito também para a prova digita, o ministro respondeu: "Não é o caso. Está envolvendo um outro tipo de risco".
Weintraub argumenta que, com a prova digital, o candidato poderá receber, logo após a conclusão das questões, a prova corrigida. O ministro procurou ainda reduzir os riscos de fraudes. Comparou a realização dos exames ao sistema bancário brasileiro, todo eletrônico. "O Brasil tem tecnologia para isso, o sistema bancário é todo eletrônico", disse, para mais tarde emendar: "Mas bandido é criativo."
Ele argumentou que hoje boa parte do processo do Enem já é digital. Nas versões atuais, um dos problemas de segurança é o ponto eletrônico. Questionado se um hacker não poderia invadir o sistema para fazer a prova do candidato, o ministro afirmou que seria mais fácil uma invasão apenas na nota da prova, um risco que, em tese, hoje já existiria.
A exemplo da versão atual, os exames seriam feitos em salas monitoradas por fiscais e a identificação do aluno será feita de forma digital. O projeto prevê que, com projeto totalmente implementado, o Enem seja feito em até quatro datas anuais, estabelecidas pelo Inep. Em 2021, será realizada em duas datas distintas, agendadas previamente.As taxas para a realização da prova digital serão as mesmas que para provas escritas.
Para a equipe do MEC, a versão eletrônica poderá também facilitar a realização de provas por itinerários, que será implementada a partir da reforma do ensino médio. Com a mudança, os candidatos deverão fazer uma parte da prova específica, o que exigirá um aumento das questões. Para o presidente do Inep, na versão digital, será possível embaralhar as questões. O importante, de acordo com a equipe, é ampliar o banco de questões.
Ideia é discutida desde 2012
A ideia de aplicar o Enem de forma digital não é nova e começou a ser discutida em 2012. Os últimos presidentes do Inep e principais quadros do MEC já defendiam nos últimos anos que a transição para a prova online deveria ser uma prioridade para os próximos anos, já que esse modelo é mais seguro que o atual.
No ano ano passado, em entrevista ao Estado, a então presidente do Inep, Maria Inês Fini, explicou, mesmo com o investimento em tecnologia, a aplicação online seria mais barata e segura. Em 2017, a prova custou R$ 505,5 milhões – apenas 25% dos gastos são cobertos pelo valor da taxa de inscrição, de R$ 82 – e envolveu mais de 600 mil pessoas na elaboração, distribuição, aplicação e correção do exame.
Com 5,5 milhões de inscritos para a edição deste ano, o Enem é a segunda maior prova de acesso ao ensino superior do mundo, atrás apenas do Gaokao, o vestibular chinês, que tem anualmente cerca de 9 milhões de inscrições.
Enem 2019
O ministro afirmou que o Enem deste ano já foi enviado para a gráfica. Garantiu que nem ele, nem o presidente do Inep nem o presidente Jair Bolsonaro tiveram acesso às questões. "Não li a prova, o presidente não leu." Questionado se ninguém iria ler a prova ele respondeu. "Ninguém vai ler salvo uma hecatombe nuclear. Zero probabilidade digo que é só para a morte ou para impostos."
Weintraub afirmou, no entanto, achar difícil que o presidente pare suas atribuições para ler o conteúdo. No ano passado, Bolsonaro criticou questões do Enem, com dialeto da comunidade LBGT. Weintraub afirmou haver uma recomendação para que não sejam incluídas questões de cunho político e que, se a medida for desrespeitada, o responsável será afastado do cargo.
O maior vestibular do Brasil
O Enem é a maior prova do Brasil e dá acesso a uma centena de universidades federais, estaduais e privadas que usam o exame como forma de seleção. No fim do processo, quem fez o exame pleiteia uma vaga por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), pelo qual as universidades de todo o País oferecem suas vagas. Com sua pontuação em mãos, o aluno escolhe o curso e a universidade; se tiver o total necessário, está dentro.
Atenção: O que muda no Enem 2019?
Segundo o site do Enem, os alunos contaram neste ano com um novo sistema de inscrição que permitiu incluir uma foto. Os deficientes auditivos e visuais tiveram a opção de indicar no ato da inscrição o uso de um aparelho auditivo ou de implante coclear. Além disso, todos os alunos terão os lanches revistados no dia da prova, e no final dos cadernos de questões haverá espaço para rascunho da redação e cálculos.
Quando serão realizadas as provas?
Os testes serão aplicados nos dias 3 e 10 de novembro.
Quantas questões terão as provas no Enem 2019?
Haverá quatro provas objetivas com 45 questões cada uma sobre os seguintes temas: linguagens e códigos, ciências humanas, ciências da natureza e matemática. Além disso, os alunos deverão fazer uma redação argumentativa de, no máximo, 30 linhas sobre o tema que será proposto.
No dia 3 de novembro, serão aplicados os testes de linguagens e códigos, ciências humanas e a redação, com 5h30 de duração. No dia 10 de novembro, serão aplicados os testes de ciências da natureza e matemática, com 5h de duração.
Quando conseguirei acessar meu cartão de confirmação de inscrição?
Ele será disponibilizado em outubro e deve conter o número de inscrição do aluno, data, hora e local das provas, atendimento especializado (deficientes visuais, por exemplo) e/ou específico (como gestantes e lactantes), caso solicitado, e a opção de língua estrangeira. / Colaborou Isabela Palhares