Foto: Ahmad Jarrah/CMT
Com Valquiria Castil
O empresário José Carlos Pena da Silva, dono da BRP Construtora Ltda., afirmou que foi ameaçado após a deflagração da Operação Rêmora, que investiga suposto esquema de fraude em licitações e cobrança de propinas de empresários que mantinham contrato com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc).
A declaração foi dada na tarde desta quinta-feira (01), durante depoimento à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.
“Bem no começo [da operação] sofremos com ameaças, depredação no meu escritório. Já jogaram nosso carro pra fora da estrada. Temos que pagar do próprio bolso pra ter segurança", desabafou o empresário.
José Carlos foi o responsável por realizar as gravações em que vários sócios de empreiteiras aparecem discutindo como “repartir” os contratos com a Seduc.
Tais gravações foram feitas com o auxílio e acompanhamento do Gaeco.
Além da reunião dos empreiteiros, José Carlos gravou o momento em que foi até o escritório do empresário Giovani Guizardi, na Dínamo Construtora, e entregou R$ 4 mil em dinheiro ao membro da suposta organização criminosa.
Em seu depoimento, o empresário ainda pediu a ajuda da magistrada.
“A situação tá ficando cada vez mais difícil. Peço o apoio da juíza para olhar com mais carinho a situação”, disse.
Selma questionou se José havia registrado alguma solicitação de proteção. A testemunha, no entanto, afirmou ter realizado apenas ocorrências no Ministério Público.
O promotor de Justiça, Rodrigo Arruda, também se manifestou informando que iria apurar as afirmações de José. "Como estou há pouco tempo no caso, assim que eu chegar ao Gaeco vou apurar o que foi feito em relação ao que a testemunha declarou", afirmou à magistrada.
Ainda durante a audiência, José Carlos revelou que não consegue receber valores de medições de obras feitas em escolas. De acordo com o empresário, ele possui R$ 700 mil a receber da Seduc.
"Depois que começou essa relação com o MPE minha vida virou um infernou. Tudo é barrado dentro da Seduc. Até hoje ele sempre acham motivos para não pagar o que nós temos para receber", disse.
Ao fim da audiência, Rodrigo Arruda, afirmou que em Mato Grosso não há o trabalho de proteção e que o responsável por tal segurança seria o Executivo. “Não sei se o Estado faz isso de forma isolada, mas o programa em si pelo que eu saiba não está funcionando”, relata.
A Operação
A denúncia derivada da 1ª fase da Operação Rêmora foi aceita pelo juiz Bruno D’Oliveira Marques, substituto da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, em maio deste ano. O Gaeco apontou crimes de constituição de organização criminosa, formação de cartel, corrupção passiva e fraude a licitação.
Na 1ª fase, foram presos o empresário Giovani Guizardi; os ex-servidores públicos Fábio Frigeri e Wander Luiz; e o servidor afastado Moisés Dias da Silva. Apenas Frigeri continua preso.
Nesta fase, são réus na ação penal: Giovani Belato Guizardi, Luiz Fernando da Costa Rondon, Leonardo Guimarães Rodrigues, Moises Feltrin, Joel de Barros Fagundes Filho, Esper Haddad Neto, Jose Eduardo Nascimento da Silva, Luiz Carlos Ioris, Celso Cunha Ferraz, Clarice Maria da Rocha, Eder Alberto Francisco Meciano, Dilermano Sergio Chaves, Flavio Geraldo de Azevedo, Julio Hirochi Yamamoto filho, Sylvio Piva, Mário Lourenço Salem, Leonardo Botelho Leite, Benedito Sérgio Assunção Santos, Alexandre da Costa Rondon, Wander Luiz dos Reis, Fábio Frigeri e Moisés Dias da Silva.
Em julho, o Gaeco deflagrou a 2ª fase da operação, prendendo o ex-secretário da Seduc, Permínio Pinto. Posteriormente ele foi denunciado junto com o ex-servidor Juliano Haddad.
A Rêmora 3 foi deflagrada em dezembro, após a delação premiada firmada pelo empresário Giovani Guizardi. Denominada “Grão Vizir”, a operação culminou na prisão preventivamente do empresário Alan Malouf, sócio do Buffet Leila Malouf, apontado pelo delator como doador de R$ 10 milhões para a campanha de Pedro Taques no governo e tentado recuperar os valores por meio do esquema.
A terceira fase resultou em outras duas denúncias. Uma tendo como alvos o próprio Alan Malouf, considerado um dos líderes do esquema, e o engenheiro Edézio Ferreira.
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