Josiane Dalmagro – Foto: Ednei Rosa
Oito mil multas por mês e uma arrecadação de cerca de R$ 350 mil a cada 30 dias. Essa é a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes de Cuiabá (SMTU) que, com um efetivo de 180 agentes de trânsito, aplica por dia quase 300 multas.
A arrecadação terá um aumento significativo de mais de 250% com o novo sistema de monitoramento através de radares, móveis e fixos, além das lombadas eletrônicas. Segundo o secretário responsável pela pasta, Antenor Figueiredo, a expectativa é de R$ 1 milhão por mês, se somadas fiscalização física e eletrônica.
Apesar dos números gritantes, Figueiredo garante que a atual arrecadação está muito aquém do que normalmente ocorre em uma cidade do mesmo porte de Cuiabá.
O secretário diz garantir que não é seu desejo que os valores cheguem a tanto, logo, que não ocorram tantas infrações, mas justifica dizendo que “quem faz as multas não são os agentes de trânsito ou a secretaria, mas sim as pessoas”. Para ele o grande problema do trânsito em Cuiabá ainda é a falta de educação e respeito na direção.
Falta de cinto de segurança, uso de telefones celulares, ultrapassagens perigosas, conversão pela esquerda em locais proibidos, e o grande vilão das multas: o estacionamento. Esses são exemplos de como o cuiabano se porta normalmente no trânsito. “Eu ainda entro no carro e tenho dificuldade de pôr o cinto de segurança”, exemplifica Antenor, alertando que é necessário plantar a mudança desse tipo de comportamento do qual ele próprio diz ainda sofrer.
O agente de trânsito Pedro César Gonçalves reitera a fala do secretário e diz acreditar que o principal problema realmente é a falta de educação. “As pessoas não aceitam que não podem parar em certos lugares e eu já cheguei a quase apanhar de uma mulher que insistiu em parar em uma vaga para idoso dizendo que seria ‘rapidinho’. Fiscalizar a questão de estacionamento em local proibido no centro é como enxugar gelo: se saímos de perto alguns minutos, as pessoas já param onde não pode”, afirma.
Apesar de todas as obras realizadas para receber a Copa do Mundo, Antenor Figueiredo pontua que mobilidade urbana, ou a falta dela, ainda é o grande gargalo da cidade. “Algumas obras já nasceram mortas, como a do trevo da UFMT, que está pior do que era antes”, critica.
Outro grande problema é a falta de estacionamentos, públicos e privados, na região central de Cuiabá. Nas ruas não há espaço para estacionar e quem se arrisca fica passível de multa, os estacionamentos particulares, além de praticarem preços abusivos e taxarem por hora, ainda não têm quantidade suficiente de vagas para atender à demanda. “Não há nenhum estacionamento aqui que suporte grande quantidade de carros”, diz Maximiano Nalon, que é supervisor de uma rede de drogarias e precisa necessariamente estacionar no centro algumas vezes por semana. “Eu deixo de parar aqui muitas vezes, pois não há vagas e já levei multas por parar na vaga da própria farmácia, até menos de 15 minutos”.
O amarelinho Gonçalves é ainda mais pontual e afirma categoricamente que não vai ao centro com seu carro, pois não há vaga. “Só venho a pé”, diz.
Maximiano, assim como a comerciante Cidinéia Pupin, diz acreditar que o centro está ficando esquecido. “O centro está acabado, o cliente quer vir aqui e não pode por falta de vaga. Eu tenho cinco multas por parar alguns minutos para descarregar mercadoria”, explica.
A comerciante compara ainda o centro com um shopping, onde o cliente, além de toda a comodidade proveniente da reunião de lojas e climatização, tem a certeza de poder estacionar com segurança e ser taxado ainda de forma mais justa.
Na região da Praça Clóvis Cardoso a situação é exatamente a mesma. Carros parados nas esquinas por falta de estacionamento e, não obstante, alguns cometem ainda a falta de respeito de parar nas entradas e saídas de cadeirantes nas calçadas.
De quem realmente é a culpa? De um lado governantes criam medidas paliativas e de outro há pessoas que poderiam ser consideradas pouco civilizadas com suas atitudes.
Elys Costa tem problemas constantes na região por conta da falta de vagas. “Tem dias que você dá voltas e mais voltas e desiste, pois não tem onde parar. No centro, por exemplo, só vou a pé e nesse calor, honestamente, é complicado e ainda corremos o risco de um assalto”, reclama a vendedora. Ela ressalta que em Cuiabá não é possível depender do transporte público.
O secretário Antenor Figueiredo discorda e dá a dica: “A solução é andar de táxi, esperar o VLT ou andar de ônibus”.
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