Economia

Em crise, frigoríficos fecham as portas em Mato Grosso

A industrialização mato-grossense representa um déficit histórico em relação a outros Estados. Dados da Confederação Nacional da Indústria apontam que Mato Grosso responde por apenas 1,2% do PIB industrial brasileiro, atrás de Goiás (2,7%) e do Amazonas (2,3%). Com população estimada em 2014 de 3.224.357 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de trabalhadores na indústria é de 166.966 e vai diminuir ainda mais com a crise do setor frigorífico no Estado. 

A bovinocultura dá sinais de arrefecimento em suas atividades. Segundo o IBGE, a produção total brasileira de carne bovina no 1º trimestre de 2015 foi de 1,83 bilhão de kg de carcaça, volume 6% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado. Em Mato Grosso essa redução foi ainda mais acentuada, pois os 284 milhões de kg de carcaça produzidos de janeiro a março deste ano no Estado representam um índice 12% menor na comparação com 2014.

A baixa de oferta de carne bovina no Estado pode ser ruim para os empresários, que veem seus investimentos serem ameaçados pela retração da produção, mas é catastrófica para os trabalhadores. Só nos últimos dois anos, 18 unidades frigoríficas em Mato Grosso fecharam suas portas. Em 2015, mais de 4,7 mil empregos diretos foram perdidos pela fuga dessas organizações, que assistiu ao fechamento de seis plantas industriais neste ano – duas em Rondonópolis e uma em Cuiabá, Sinop, São José dos Quatro Marcos e Mirassol D’Oeste.

Segundo a associação brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), de um total de 8,5 milhões de km², mais de 20% dessa área (cerca de 174 milhões) são de pastagens. Como a maior parte deles encontra-se justamente nessas áreas abertas – de acordo com a associação, apenas 3% deles estão no confinamento – a seca que atinge o país nos últimos dois anos e o aumento das tarifas de energia podem ser fatores que pesaram na decisão dos empresários e produtores.

Num mercado em recrudescimento quem mais sofre são os trabalhadores. Apenas na última planta frigorífica que fechou as portas na cidade de Mirassol d’Oeste (300 km de Cuiabá), em torno de 700 colaboradores ficaram sem ocupação. O grupo em questão é o Minerva Foods, uma gigante no mercado que atua em mais de 100 países e que mesmo assim não foi capaz de manter a unidade fabril em Mato Grosso, paralisando as atividade no dia 6 de julho deste ano.

Julho tem sido um mês especialmente negativo para a indústria frigorífica. Outra gigante do setor, a JBS, também suspendeu suas atividades no dia 2 de julho. Localizada em Cuiabá, a unidade mantinha 494 colaboradores e abriu possibilidade para os trabalhadores se transferirem para outras plantas da organização.

Carne subiu quase 20%

Quando a oferta diminui, o preço aumenta. Essa verdade cristalizada dos negócios também se aplica ao rebanho bovino em Mato Grosso, uma vez que sua oferta escassa mantém a arroba do boi em alta para os produtores. Mas não são só os trabalhadores da indústria frigorífica que sentem o peso do fechamento das organizações, ou os empresários que assistem seus investimentos irem por água abaixo quando decidem paralisar as atividades. O consumidor também sente no bolso essa baixa de oferta, com um aumento expressivo no preço da carne.

Dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) apontam que a carne vendida no varejo teve aumento médio de 18,34% entre junho de 2014 e o mesmo mês de 2015. Há cortes com preços reajustados abaixo dessa porcentagem, como o músculo (11,85%) e a maminha (13,42%). No entanto, outros tipos de carne bovina tiveram acréscimo bem mais expressivo, como a costela (28,54%) e a paleta (24,59%).

No atacado, o preço da carne também subiu no último ano. O preço médio ficou ligeiramente acima do preço no varejo (19,66%). O corte que mais subiu para os açougues e o comércio foi o dianteiro com osso, que de junho de 2014 ao mesmo mês de 2015 teve alta de 24,37%. Outro corte que também teve aumento acentuado no preço foi a carcaça casada, subindo 19,13% nesse período.

As razões para esse aumento podem ter explicação na queda do abate total de cabeças de boi. Segundo o levantamento do Imea, o abate total mensal por região caiu 17,45%. A área do Estado onde houve maior diminuição foi o Médio-Norte, que despencou 44,57% no último ano.

Confira a reportagem na integra

Diego Fredericci

About Author

Você também pode se interessar

Economia

Projeto estabelece teto para pagamento de dívida previdenciária

Em 2005, a Lei 11.196/05, que estabeleceu condições especiais (isenção de multas e redução de 50% dos juros de mora)
Economia

Representação Brasileira vota criação do Banco do Sul

Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela, além do Brasil, assinaram o Convênio Constitutivo do Banco do Sul em 26