Fotos: Ednei Rosa
“É difícil achar uma palavra para descrever o que passamos. Os momentos em que ficamos sem saber o que iria acontecer no final. Agora, nem tenho muitas condições pra responder com uma palavra”. Essas foram as primeiras palavras do co-piloto Rodrigo Frais Agnell à imprensa, na tarde desta quinta-feira (30), minutos após sua chegada ao Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande.
Rodrigo e o piloto da aeronave King Air, Evandro Rodrigues Abreu, eram mantidos reféns de sequestradores, desde o dia 20 de setembro. Na ocasião, eles estavam no aeroporto de Pontes em Lacerda e trabalhavam na campanha da então candidata ao Governo do Estado, Janete Riva (PSD).
Ambos foram liberados na madrugada da última quarta (29), na cidade Guajará-Mirim (RO), na divisa do Brasil com a Bolívia. Na madrugada de hoje, eles fizeram o primeiro contato com familiares, ainda por meio de telefone.
Na chegada em Várzea Grande, foram recebidos também por amigos que aguardavam ansiosamente por esse momento. “Cheguei a pensar que iria morrer. Única coisa que pensávamos naquela situação, era em nossa família e amigos”, afirmou Evandro, visivelmente emocionado.
Sequestro
Segundo relatos das vítimas, o sequestro foi realizado por dois homens, ambos brasileiros. “Eles fizeram a abordagem e aí então, nós decolamos e fizemos aproximadamente uma hora de voo”, narrou Evandro.
Ainda de acordo com ele, o primeiro pouso foi já em solo boliviano, em um local que ele não soube precisar. Daí fizeram um novo voo de cerca de duas horas para outro destino desconhecido, onde permaneceram por cerca de dez dias.
Houve ainda um terceiro voo, de aproximadamente meia hora. “Fizemos apenas esses três voos e neste período ficamos em casas, no mato, ranchos”, alegou o piloto.
Desentendimento
A liberação dos reféns foi possível após um desentendimento entre os dois sequestradores e um homem que estaria tentando comprar a aeronave. “Eles se desentenderam, ele (sequestrador) acabou pegando como reféns os mecânicos que trabalhavam para esse comprador. Foi aí que nos conseguimos sair”, afirmou Evandro.
O piloto explicou que, ao perceber que o ‘clima estava ficando perigoso’, ele e Rodrigo conversaram com os sequestradores e pediram que fossem libertados. “A gente pediu que nos deixássemos sair e ele (sequestrador) nos respondeu: siga seu coração, façam o que vocês quiserem”.
A partir de então, as vítimas caminharam muitos quilômetros pela mata, seguiram uma trilha e conseguiram pegar uma carona. “Tínhamos medo de pedir informação, porque ali era uma região que não conhecíamos e poderia ser perigosa para nós. Até que conseguimos uma carona”.
Como tiveram os aparelhos celulares devolvidos pelos bandidos, os pilotos conseguiram estabelecer contato com seus familiares no dia seguinte após terem sido liberados.
Sem violência
Ainda um pouco confusos com toda a situação, os pilotos relataram que os dois sequestradores não agiram de forma violenta. O único momento em que as vítimas tiveram, por exemplo, armas apontadas em suas cabeças, foi apenas no momento da abordagem, ainda no aeroporto de Pontes e Lacerda.
“Eles não foram rudes. Só apontaram a arma no primeiro dia. Em nenhum momento fomos maltratados, nem mesmo verbalmente”, relatou Evandro.
Veja momento do reencontro dos pilotos com familiares: