Economia

É mito que crédito não está expandindo, diz Campos Neto

Apesar de admitir que ainda é preciso avançar no segmento, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, diz que é um mito a crítica de que o crédito não está expandindo a ponto de chegar às pequenas e médias empresas.

“A parte de linha de crédito temos que acelerar, mas o balanço do banco mostra que há um crescimento acima de 2019 no crédito. Um mito superdisseminado é que os bancos estão empoçando tudo, não estão emprestando. Isso não é verdade. Conseguimos mapear onde a liquidez está sendo alocada”, disse a autoridade nesta quinta-feira, 28, em entrevista com André Esteves, sócio sênior do banco de investimentos BTG Pactual (parte do grupo que controla a Exame).

Campos completa dizendo que, em termos de novas concessões, o BC registra mais pessoas físicas pegando dinheiro no período de 16 de abril a 15 de maio: “Ha R$ 441 bilhões em novas operações neste ano, muito acima do registrado no mesmo período do ano passado”, diz.

Outro mito, segundo ele, é o de que os bancos privados estão retendo liquidez: “Desses RS 441 bi, 80% é do setor privado e 20% do setor público”, diz.

Um terceiro mito, segundo ele, é o de que as pequenas empresas estão mais retraídas: “Não está acontecendo isso, ao contrário, a demanda dos menores, segundo pesquisa do Sebrae, é várias vezes a demanda de uma época normal. Dependendo do setor, a demanda nesse mesmo intervalor está 200%, 300% acima do que era em 2019”, diz.

“A gente tem que entender que a precificação do crédito é proporcional à assimetria de informação. Então, se eu conheço mais meu cliente, naquele momento de maior pânico, tenho maior possibilidade de avaliar a capacidade de reação dele”. Campos exemplifica seu raciocínio dizendo que, enquanto os bancos privados emprestaram 12% do que foi demandado pelas PMEs, os públicos concederam 9% e as cooperativas, 31%.

Sobre o assunto, Esteves pondera que uma parte relevante da demanda por crédito não tem vindo da necessidade imediata em função da crise e da desaceleração da economia, mas de empresas maiores e com mais acesso ao mercado formando seus colchões de liquidez: “Isso vai ter um impacto futuro interessante de baixa demanda por crédito. As empresas estão “all time high” de caixa, se preparando para um cenário mais adverso”, diz.

Campos lidera o BC durante um dos períodos mais desafiadores de sua história diante de um cenário que não era esperado por ninguém. A pandemia do coronavírus exigiu uso de novos instrumentos, em uma nova escala e numa magnitude nunca antes vista antes no Brasil.

Para Campos, porém, é preciso ter cuidado com para usar ferramentas mais arriscadas: “As conquistas feitas pelos meus antecessores não foram feitas sem um grande esforço de convencimento e, muitas vezes, com o sacrifício de ter gerado anos de crescimento mais baixo. Entendemos que a política monetária não está exaurida”, diz.

No início de maio, o BC cortou a Selic em 0,75 ponto porcentual, de 3,75% para 3,00% ao ano e sinalizou que pode anunciar outro corte de mesma magnitude em junho.

 

Redação

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