O dólar fechou em queda sobre o real nesta terça-feira (31), mas terminou o mês de outubro com forte valorização em relação à moeda brasileira, puxado especialmente pelo movimento externo. Foi a maior alta desde o mês da eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, em novembro de 2016, segundo a agência Reuters.
A moeda norte-americana caiu 0,28%, vendida a R$ 3,2728. Na máxima do dia, chegou a R$ 3,3022. No mês, a alta foi de 3,32%.
Analistas ouvidos pelo G1 apontam que a principal razão para a forte alta do dólar sobre várias moedas em outubro foi o aumento das especulações sobre o rumo dos juros dos Estados Unidos. Isso porque, com taxas mais altas, o país se tornaria mais atraente para investidores que têm recursos aplicados atualmente em outros mercados, como o Brasil. Por isso, uma expectativa de alta dos juros motiva uma tendência de alta do dólar em relação ao real.
Entre os fatores que fizeram com que o mercado aumentasse suas apostas de uma alta dos juros de maneira mais rápida que o esperado até agora está a troca de comando do Federal (Fed), o banco central norte-americano. O mandato da atual presidente, Janet Yellen, termina em fevereiro. Neste mês, o mercado passou a especular sobre quem assumirá o posto.
Os dois nomes apontados como os mais prováveis são o diretor do Fed Jerome Powell e o economista da Universidade de Stanford John Taylor. “A Yellen é mais dovish (mais favorável a altas de juros mais lentas), portanto mais favorável a juros baixos”, aponta Everton Carneiro, analista econômico da RC Consultores. “Powell seria uma mudança um pouco menor, a gente sabe o que ele pensa. De vez em quando ele acha que vale a pena elevar os juros um pouquinho mais rápido”.
Já Taylor é visto como o presidente que elevaria os juros bem mais rapidamente. “Ele é muito conhecido por ter criado uma regra para que o BC calibrasse o aumento dos juros, a regra de Taylor. Portanto, seria uma mudança de rumo considerável”, explica Carneiro.
Outro elemento que fortaleceu apostas em alta dos juros mais rápida que o esperado é a reforma tributária prometida por Donald Trump. “O mercado estava desacreditado, mas ele voltou a bater nessa tecla”, comenta Alessandra Ribeiro, diretora da área de macroeconomia da Tendências Consultoria.
“Se de fato sair uma reforma como estão anunciando, seria uma redução tremenda de impostos. Isso tenderia a puxar o crescimento norte-americano, a inflação deveria reagir mais rapidamente e o Fed seria obrigado a ajustar mais rápido a taxa de juros”, explica a economista.
Cenário interno pesa menos
Neste mês, o cenário político continuou sob as atenções do mercado, especialmente com a segunda votação de denúncia contra Michel Temer na Câmara dos Deputados. O resultado da votação rejeitou a denúncia, com 251 votos favoráveis ao presidente e 233 contra – placar considerado apertado e que, para alguns analistas, mostra que reformas como a da Previdência teriam dificuldade para passar pelo Congresso.
“O governo perdeu um pouco de força em relação à primeira denúncia”, considera Carneiro. No entanto, os analistas apontam que são minoria os que acreditam que a Reforma da Previdência possa ser aprovada ainda neste ano (como garante o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles). “O mercado já estava bem cético”, conta Ribeiro.
Com isso, o mercado estaria com as atenções voltadas para 2018, incluindo o rumo das contas públicas e da disputa eleitoral. “Daqui para o final do ano vai ter um pouquinho de discussão sobre o Orçamento de 2018”, diz Carneiro, apontando a possibilidade de brigas políticas para aumentar as receitas públicas – o que causaria mais incertezas no mercado de câmbio.
O governo anunciou duas medidas provisórias com ações que vão permitir ajustes na proposta de orçamento de 2018. Uma das MPs amplia a contribuição dos servidores para o sistema previdenciário e adia um reajuste salarial. A outra altera a tributação sobre fundos de investimentos fechados.
De qualquer forma, a avaliação é de que o peso desses fatores internos sobre a forte elevação em outubro, especificamente, é menor. “O grosso mesmo desse movimento de alta é o cenário externo”, afirma Ribeiro.