O dólar fechou em forte alta frente ao real nesta sexta-feira (6), com os mercados atentos aos desdobramentos da ordem de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o novo habeas corpus de Lula para evitar sua detenção, que deveria ser efetivada até as 17h. No exterior, a tensão comercial entre EUA e China e a declaração do Fed de que deve continuar a elevar os juros também afetou o câmbio.
A moeda norte-americana subiu 0,76%, vendida a R$ 3,3669, renovando a maior cotação desde o dia 18 de maio de 2017, quando o dólar encerrou o dia a R$ 3,3836. Mais cedo, chegou a bater R$ 3,37. Na semana, o dólar avança 1,93%; no mês, valoriza 4,92% e, no acumulado do ano, 7%.
O dólar também sofreu influência da tensão no exterior após novas ameaças de tarifas do presidente Donald Trump contra a China. Na véspera, o governo dos EUA anunciou que estuda impor US$ 100 bilhões em tarifas sobre a China, adicionais aos US$ 50 bilhões já anunciados a centenas de produtos chineses após retaliação de Pequim.
O mercado reagiu ainda aos dados de empregos dos Estados Unidos, que mostra criação de 103 mil vagas, abaixo das expectativas. Nesta tarde, o Federal Reserve indicou que provavelmente precisará continuar elevando a taxa de juros para manter a inflação sob controle.
O dólar turismo chegava a ser negociado acima de R$ 3,70 em casas de câmbio de São Paulo, para compras com o cartão pré-pago, após o fechamento do mercado.
Cenário político e eleitoral
De acordo com o Valor On Line, a postura mais defensiva do mercado prevaleceu, diante da percepção de que o cenário eleitoral a partir de agora trará mais preocupação do que alento. Algumas análises indicam que, com Lula preso ou não, o próximo foco de preocupação do mercado seria o vigor – ou falta de – de candidaturas de centro-direita.
“Mais fundamentalmente, quando a poeira baixar, investidores provavelmente vão se concentrar mais no fato de que os candidatos pró-mercado ainda patinam nas pesquisas”, diz em nota Edward Glossop, economista para a América Latina da Capital Economics. Segundo ele, o resultado disso é que a perspectiva para a reforma fiscal parece “sombria”.
Estrategistas do banco Brown Brothers Harriman consideram que o principal determinante para o cenário eleitoral a partir de agora é como o apoio do petista será redistribuído entre os demais candidatos de esquerda.
“Os mercados estão subestimando o risco político no Brasil”, resumem os profissionais, que veem o dólar em patamares acima de R$ 3,40 no curto prazo.
Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, diz que o risco agora está mais voltado para a fragmentação da corrida eleitoral, uma vez que diminuíram as chances de Lula concorrer ao pleito. “À medida que você deixa de polarizar, cria-se espaço para ‘outsiders’”, afirma.
Por ora, ele diz que o cenário-base ainda é de vitória de um candidato de centro-direita. Ainda assim, a estimativa do economista é de dólar mais próximo de R$ 3,36 ao fim do ano. “Se esse cenário não se concretizar e um ‘outsider’ vencer, não vejo ataque contra o câmbio, mas certamente o patamar de equilíbrio estará mais para R$ 3,50.”
Véspera
Na véspera, a moeda dos EUA teve leva alta de 0,03% frente ao real, a R$ 3,3414, após ter recuado abaixo de R$ 3,30 na abertura do dia, renovando a maior cotação desde 18 de maio de 2017 (R$ 3,3836).
O Banco Central brasileiro não anunciou qualquer intervenção no mercado de câmbio, por ora. Em maio, vencem US$ 2,565 bilhões em swap cambial tradicional, equivalente à venda futura de dólares.