O que você faria se só tivesse um dia para curtir Cuiabá? Esta é a pergunta de muitos turistas que chegam à cidade com objetivos profissionais e acabam conseguindo um tempo para relaxar entre os compromissos ou daqueles que estão de passagem para outros destinos e fazem aqui um pit stop.
Pensando neste perfil de visitante, o técnico da Secretaria-Adjunta de Turismo de Mato Grosso, Geraldo Donizeti Lúcio, fez um roteiro especial para quem não quer ir embora sem saber o que significa ser de “chapa e cruz”.
Já nas primeiras horas do dia, a pedida é ir à missa em uma das igrejas da área central. Caso a escolha seja na catedral, dá para apreciar o prédio do Palácio da Instrução e ainda as praças da República e Alencastro.
Depois, a pedida é um tour a pé pelo centro histórico da cidade. Geraldo inicia o trajeto na sede da secretaria-adjunta, localizada na Rua Voluntários da Pátria. O prédio é um sobrado do século XVIII, construído como pedra canga e paredes em taipa de pilão e adobe. A primeira identificação da construção em documentos históricos foi no mapa da Vila de Cuiabá, datado de 1786. Vale lembrar que durante a semana, é possível uma visita guiada.
Na programação, também está o Museu da Imagem e do Som Lazaro Papazian (Misc). Para chegar, basta atravessar a rua. Ele está na esquina, em frente à Igreja Nosso Senhor dos Passos, que também é um ponto de visita.
O Misc recebeu o nome de um famoso fotógrafo, apelidado de Chau e abriga um rico acervo de imagens, das quais mais de 7 mil estão catalogadas. O local está aberto durante a semana e finais de semana quando existem eventos agendados.
Subindo a Voluntários da Pátria, no entroncamento com a Rua Barão de Melgaço, na esquina, à esquerda, está a Casa Barão de Melgaço, que hoje abriga a Academia Mato-grossense de Letras.
Construída entre os anos, de 1975 e 1977, a edificação foi a residência do almirante da Marinha e intelectual Augusto João Manoel Leverger, o Barão de Melgaço. Ele nasceu em Saint Malo, na França, em 1802, e faleceu em Cuiabá, em 1880.
Dando continuidade a caminhada pela Rua Barão de Melgaço é possível ver, do lado esquerdo, uma quadra antes do cruzamento com a avenida Getúlio Vargas, a Residência dos Governadores. A casa funcionou por 45 anos e acolheu 14 chefes do executivo entre os anos de 1939 e 1941 e atualmente é um museu.
Cerca de 700 metros à frente, está o Centro Geodésico da América do Sul, ponto em que os oceanos Pacífico e Atlântico estão equidistantes. O marco está na Praça Moreira Cabral, onde funciona a atual Câmara dos Vereadores de Cuiabá e no passado foi conhecida como Campo do O’urique, local de castigo de escravo, enforcamento de condenados da Justiça e posteriormente touradas.
O último ponto deste tour a pé é o Museu da Caixa D’água, que subindo pela Rua Desembargador Ferreira Mendes, está a menos de 200 metros. O local era o antigo reservatório da cidade e virou um espaço para exposições.
Hora do almoço
Geraldo Donizete lembra que comer é uma coisa que o cuiabano sabe apreciar e a culinária tradicional tem várias paradas. Pode ser no Mercado do Porto, onde a feira é variada, colorida e existe um espaço especial para os peixes. Espécies diferentes e prontas para ir para panela.
Duas coisas são muito interessantes no local, acompanhar a limpeza e retirada de espinhos pelos peixeiros profissionais e comer o pescado na praça de alimentação. As porções são bem generosas e a cerveja sempre está gelada para afastar o calor.
Ainda na região do Porto, tem o Restaurante Regionalíssimo que fica na Orla e funciona nas instalações do antigo Mercado do Porto. Para quem sai do atual mercado em direção a ponte, fica do lado direito.
Outra recomendação do especialista é o São Gonçalo Beira Rio. A comunidade tem dois grupos de siriri e cururu, sendo que uma das moradoras, a Dona Domingas, é referência na cultura cuiabana.
Geraldo lembra que no quintal dela, onde funciona um restaurante, existe um pequeno espaço com as roupas, apetrechos e instrumentos da dança.
O estabelecimento é apenas um entre outras centenas instalados na avenida principal. A variedade mostra que a alimentação se tornou a principal atividade econômica dos nativos, que antes garantiam o sustento com a cerâmica e a pesca. “Porém, as ceramistas mantêm os fornos, ferramentas e sempre têm peças para mostrar e vender, caso o turista se interesse”.
Quem optar pelo São Gonçalo pode ainda dar uma parada no mirante, que fica na beira da rua principal e tem uma vista maravilhosa para o Rio Cuiabá. Lá, funciona uma reserva de pescadores e eles costumam trabalhar durante a manhã. Isto dá ao visitante a oportunidade de ver as canoas de madeira, típicas do ofício. “E é uma cena bonita vê-los no rio”.
Fechando o dia
No final da tarde, uma boa sugestão é movimentar o corpo em um dos parques da cidade. Normalmente, eles ficam lotados e merece destaque o Mãe Bonifácia, que fica em uma localização privilegiada, tem um amplo estacionamento e ainda é uma reserva ecológica.
Em menos de duas horas, é possível fazer uma das trilhas e certamente haverá surpresas como a companhia de animais silvestres. Além do contato com a natureza, o ambiente sempre oferece algum tipo de atração e quando o objetivo é fazer nada, basta levar uma esteira e se juntar aos que vão ao local fazer piquenique.
Também está no rol de opções a Orla do Porto, que foi recentemente construída, tem bares, restaurantes, espaço para caminhada e um simulacro dos casarões da área histórica. Como está na beira do rio, a noite costuma ter vento o que deixa a região mais fresquinha.
Outro ponto que agrada muito os visitantes é o Parque das Águas, construído no entorno de uma lagoa. A área tem espaço para práticas esportivas, piqueniques e é palco de algumas atrações quase todos os dias.
Os bares estão entre as paradas obrigatórias para quem gosta de um happy hour. Estão lotados de segunda a segunda e dois deles têm vista privilegiada para lagoa, onde acontece o balé das águas, um show coreográfico feito com jatos de água em ritmo musical.
Porém, se a pegada for algo mais cultural, vale a pena verificar qual a programação do Cine Teatro, que fica na área Central, na Getúlio Vargas. Normalmente, as atividades compensam pela qualidade e pelo valor, que certamente agradará o seu bolso.
Depois do espetáculo ou cinema, dá para ficar na região mesmo e quem sabe comer algo na região do bairro Goiabeiras, considerada uma das mais badaladas da cidade.
E para quem leu até o final deste texto, cuiabano de “chapa e cruz”, significa nativo. O termo tem origem no fato dos antigos receberem uma chapa amarrada no pulso na maternidade da cidade. Já a cruz, faz referência a morte no Cemitério da Piedade, um dos mais antigos da Capital.