O comportamento coordenado dos bandos é chamado de “murmurações” e são mais comuns entre estorninhos e gralhas
Gabrielle Tavares
As aves que voam em bando, como os estorninhos, encantam com seus movimentos coordenados e organização simétrica no céu. A ciência já respondeu por que essas espécies andam juntas, mas a “dança”, que é um espetáculo para quem vê de longe, ainda não havia sido interpretada.
O mistério entrou no radar do cientista Andy Reynolds, da instituição de pesquisa agrícola Rothamsted, que decidiu estudar a formação das bordas nítidas e a movimentação coordenada das aves rodopiantes para replicar a ideia no controle de pragas agrícolas.
Apesar de parecerem complexos e cheio de significado, esses padrões podem ser consequência de regras simples de interação, aponta Reynolds, e não de estratégias evolutivas deliberadas.
Por que as aves que voam em bandos têm movimentos tão coordenados?
Esse comportamento coordenado dos bandos é chamado de “murmurações” e são comuns entre estorninhos e gralhas.
Geralmente, as murmurações chamam atenção por duas características específicas: a precisão das bordas do grupo e a permanência prolongada das aves nas extremidades.
Até agora, a hipótese predominante era que essas posições oferecessem vantagens, como melhor visibilidade para detectar predadores e resposta mais rápida a ameaças.
No entanto, simulações realizadas com algoritmos matemáticos mostraram que as murmurações seguem regras topológicas e cada animal coordena seu voo com base um número fixo de “vizinhos”, independente da distância física entre eles.
Em outras palavras, Reynolds descobriu que, se cada ave prestar atenção apenas em um número específico de outras aves ao seu redor, e não na distância que elas estão, o grupo acaba formando as bordas definidas e voa de um jeito coordenado naturalmente.
As aves seguem regras muito simples de voo, o efeito visual é apenas uma bela consequência – Foto: Reprodução/ND
Ou seja, não é que os pássaros “combinem” uma coreografia, eles só seguem regras muito simples de voo e como uma mágica, a dança acontece.
Quando os pesquisadores aplicaram regras métricas, nas quais a interação depende da proximidade física, esses padrões de borda não apareceram. A análise também foi comparada a dados reais de GPS coletados em bandos de gralhas, e as observações confirmaram a consistência da hipótese de Reynolds.
“Formações tão estruturadas, que parecem ter um objetivo claro, podem ser simplesmente o resultado de regras muito básicas”, destacou o pesquisador.
“A nitidez da borda e a permanência dos pássaros nas extremidades não precisam ser estratégias conscientes; são consequências naturais do modo como o grupo interage”, completou.
Os movimentos coordenados dessas aves é chamado de “murmurações” – Foto: Reprodução/ND
Embora o trabalho não descarte a possibilidade de benefícios adaptativos, ele indica que o padrão observado nas bordas das murmurações pode ser um “acidente funcional” do algoritmo natural que mantém o grupo coeso.
Como o comportamento das aves que voam em bando pode ajudar na agricultura?
A Rothamsted financiou a pesquisa porque ao compreender como funcionam as formações de animais é possível aprimorar modelos que preveem o deslocamento de pragas agrícolas.
Esse conhecimento auxilia no monitoramento e no controle de insetos que ameaçam lavouras, usando princípios semelhantes aos observados nas aves.
Por que as aves voam em bandos?
As aves voam em bandos para facilitar a migração, economizar energia e terem maior proteção contra predadores e outras ameaças.
As aves voam em bando por uma questão de sobrevivência – Foto: Reprodução/ND
São várias as espécies possuem esse comportamento e o motivo de cada uma varia. Elas podem apenas fazer voos diários em busca de comida e local para dormir, ou até grandes migrações durante as mudanças nas estações do ano.
A direção do voo é indicada pela ave que está na ponta, liderando o bando. Não é apenas um animal que ocupa essa posição, elas vão variando conforme cansam.
Economizar energia é outro motivo importante que faz essas aves se unirem, pois voar em conjunto diminui o atrito com o ar e consequentemente, deixa a viagem menos cansativa.
Foto Capa: Reprodução/ND
Fonte: https://ndmais.com.br