Cálculos feitos pelo segmento mostram que de uma estimativa de custo equivalente a 42 sacas, e agora com mais de 50% da área colhida, a conta engordou e pode abocanhar de três a oito sacas a mais e totalizar algo em torno de 48 sacas, ou seja, para produzir um hectare o produtor vai gastar 48 e não mais 42 sacas, conforme estimativa feita em meados do ano passado.
Os grandes vilões do momento, o frete e o clima, juntos podem liquidar a perspectiva de mais um ano seguido de rentabilidade. A produção recorde de mais de 24 milhões de toneladas não está ameaçada até o momento, mas o lucro, nem de longe terá a proporção gigantesca do recorde na produção do grão. Quem colher abaixo da média estadual, 50 a 52 sacas, corre o risco de não ter o que comemorar em mais um recorde de produção no Estado.
Pelo menos no médio norte do Estado, que concentra 40% da produção da oleaginosa, as invernadas de meados de janeiro já eliminaram cerca de 10 sacas por hectare. Os talhões que passaram a ser colhidos no mês de fevereiro, não sofreram tanto com as chuvas prolongadas, mas em função da falta de luminosidade às plantas, perderam potencial produtivo.
O vice-presidente Norte da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), Naildo Lopes, frisa que em renda essa safra não terá recorde e será pior do que no ano passado. “Quem produzir 52 sacas, vai ter quatro sacas de lucro por hectare. Quem produzir menos que isso, ficará no vermelho e para um ciclo tão cheio de problemas e estresse, quatro sacas de lucro é muito pouco”.
Como argumenta, o clima seco no plantio e de chuvas intensas na colheita, aumentou a demanda por aplicações de inseticidas e fungicidas, sendo pelo menos duas aplicações a mais do primeiro e uma a mais do segundo. Juntos, os químicos e a mão-de-obra acrescentaram um custo de R$ 150 a mais por hectare. “Considerando o transporte, cujo frete da tonelada está até R$ 240 mais caro e o adicional de R$ 150 com os químicos, temos apenas nestes dois itens, um custo de produção até R$ 390 mais caro”.
FRETE – A demanda de uma safra maior e com colheita concentrada – as chuvas seguraram os trabalhos e quando o tempo abriu todos correram ao mesmo tempo para colher – só estrangularam ainda mais o escoamento da produção. “Todo mundo, produtor e trading, querendo caminhões ao mesmo tempo. O efeito foi um só: alta expressiva sobre o custo do serviço”, frisa. O frete de Santa Rita do Trivelatto (445 quilômetros ao norte de Cuiabá) até o porto de Santos (SP) chega a R$ 340 por tonelada e a R$ 320 como padrão. “Esse valor, quando convertido para sacas revela que o produtor estadual está ganhando até R$ 20 a menos pela saca. Se ela vale R$ 64 no porto e vale aqui cerca de R$ 44 ao produtor, é porque a diferença foi abocanhada pelo frete”.
Outro problema enfrentado, é que me razão da escalada do frete, as tradings que têm contratos com o produtor estão ampliando as margens de descontos sobre os grãos – por ocorrência de umidade, impurezas e avarias – para compensar o adicional que têm de pagar para levar a soja até o porto. “Eu mesmo perdi cerca de R$ 9 mil reais em uma carga pelo excesso de descontos aplicados na hora da classificação”.
O analista da cadeia de Grãos do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleber Noronha, conta que os transtornos em decorrência da disputa por caminhões, onde em momentos faltam veículos para transportar a soja, só estão começando. “Tudo que temos reportado até o momento são problemas de transporte de curta distância, da fazenda para trading. A grande concorrência começa com a movimentação de exportação”. E com os grandes volumes de segunda safra produzidos pelo Estado a pressão pelo frete deve ser mantida. “Ainda se escoa milho da safra passada, tem a soja que começa a tomar espaços nos armazéns e logo teremos a nova safra de milho e algodão vindo por ai”, completa.
“Considerando a saca no Estado a R$ 45 e a pouco mais de R$ 60 no porto, cotações da última quinta-feira, podemos dizer que o frete atual, com custo de R$ 17,40 sobre cada 60 quilos, abocanha 28% do valor da saca”. No Estado, não há uma série histórica que contabilize o peso do frete sobre a saca, mas os produtores afirmam o escoamento da safra nunca esteve tão caro no Estado como agora.
Lopes frisa que a preocupação com renda é forte neste momento para o segmento porque o clima e a concentração da colheita estão ampliando os custos para todos e reduzindo a produtividade para boa parte dos sojicultores. “No entanto, independentemente do produtividade do produtor, a mordida do frete é igual para todo mundo e quanto menos se colhe, mais pesada ela se torna”.
Fonte: Aprosoja | Diário de Cuiabá