A paralisação das competições deve custar muito caro ao mundo do esporte, que também está parado por conta da pandemia de Covid-19 que assola o planeta. De acordo com um estudo conduzido pela Sports Value, empresa especializada em marketing e finanças esportivas, a indústria do esporte pode perder até US$ 15 bilhões, cerca de R$ 80 bilhões.
O valor representa algo em torno de 2% do valor movimentado pelo mercado do esporte do mundo, que é estimado em US$ 756 bilhões por ano. Isso porque as paralisações causaram uma enorme perda de receita em bilheteria, programas de sócio-torcedor, compra de produtos oficiais.
O maior impacto está justamente no setor de varejo, responsável por 1/3 das receias ligadas ao esporte, com um faturamento de US$ 270 bilhões por ano, seguido pelo esporte profissional (US$ 171 bilhões).
Ouvida pela pesquisa, a economista brasileira Monica de Bolle acredita que o governo deverá desempenhar um papel crucial no suporte à indústria esportiva. “Os governos precisarão dar apoio direto aos setores mais afetados pela epidemia. Entre eles estão: esportes, entretenimento e turismo, lazer e negócios, seja com injeções de liquidez, crédito facilitado, subsídios e isenções fiscais”, diz.
Clubes sentem o impacto
Com receitas de bilheteria suspensas e contratos de patrocínio congelados, os clubes começam a sentir o efeito da pandemia e temem que a paralisação dos jogos cause sérios danos à saúde financeira. Por esse motivo, uma das principais medidas está sendo a redução de salários de funcionários e atletas, apesar de boa parte dos jogadores mostrarem resistência a esse movimento.
Na Europa, por exemplo, o Barcelona anunciou a redução de até 70% dos salários até a normalização do Campeonato Espanhol (o país é o segundo mais afetado pelo Covid no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos), e alguns jogadores, como Lionel Messi, se dispuseram a colaborar com funcionários que tiverem seus vencimentos reduzidos.
No Brasil, o primeiro clube a tomar uma atitude mais direta foi o Atlético-MG. Após falha nas negociações com atletas, o Galo decidiu reduzir 25% dos vencimentos pelo período em que a pandemia se estender, mas os funcionários que recebem menos de R$ 5 mil não terão alteração nos salários.
“Considerando que a referida circunstância de força maior ensejou a paralisação de competições desportivas no Brasil e no mundo, acarretando ao Clube Atlético Mineiro drástica redução de suas receitas. Considerando a excepcionalidade da atual conjuntura, que impõe ao Atlético a adoção de ajustes transitórios que lhe permitam continuar honrando os seus compromissos”, divulgou o clube em nota”, disse o clube em nota oficial.
Outros clubes buscam um acordo coletivo com atletas para amenizar a situação financeira que já é caótica na maioria das equipes do futebol brasileiro, já que praticamente todos os clubes acumulam dívidas milionárias.
O calendário brasileiro deve sofrer ajustes quando a pandemia acabar, já que os estaduais sequer foram encerrados. O Campeonato Brasileiro tinha início planejado para o dia 2 de maio. Uma alteração no número de jogos pode impactar nos contratos de direito de imagem e patrocínios, o que é uma preocupação enorme de dirigentes.
Esportes online “sobrevivem”
Alguns mercados, no entanto, parecem estar na "contramão" da crise. É o caso do poker, considerado um esporte da mente, que tem registrado grande alta no número de praticantes nas últimas semanas, com tráfego intenso em sites de disputa online, já que os torneios presenciais foram cancelados.
Segundo estimativas da Poker Industry Pro, que monitora o tráfego do poker online no mundo, houve um enorme crescimento nas mesas digitais nas últimas semanas, chegando a atingir um pico de 40 mil jogadores de forma simultânea, maior valor dos últimos cinco anos.
Nos eSports, algumas competições também não foram paralisadas, como a ESL Pro League Season 11, um dos principais torneios de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO). No entanto, o setor online também deve ter significativas perdas, como todos os outros.
De acordo com o site especializado Business Insider, é provável que haja uma queda de receita anual por conta de todos os cancelamentos que estão ocorrendo nos torneios que são realizados presencialmente, com torcedores. A expectativa do mercado de e-Sports para 2020 era atingir um lucro de pelo menos US$ 1 bilhão, mas a tendência é que essa marca não seja alcançada neste ano por conta da pandemia.