Por Mauro Ferreira
♪ A instituição do Dia Nacional do Brega – criado ontem, 21 de maio, com a sanção de lei proposta pelo deputado Pedro Campos – é ato político do presidente Luís Inácio Lula da Silva.
A criação do Dia Nacional do Brega – a ser comemorado a partir de 2026 em 14 de fevereiro, data do nascimento do cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi (1943 – 2013) – ameniza o estigma de um gênero musical depreciado pelas elites culturais do Brasil, mas amado pelo chamado povão.
A existência do Dia Nacional do Brega é aceno para a população que mais consome esse tipo de música enraizada no Nordeste e no Norte do Brasil, sobretudo em cidades como Recife (PE) e Belém (PA). E convém diferenciar o sentido do brega como substantivo do significado do brega como adjetivo, embora um e outro estejam relacionados.
Como adjetivo, brega é termo usado na imprensa musical a partir da década de 1980. Foi uma atualização do termo cafona, até então empregado para rotular o repertório de cantores que davam vozes a boleros, canções e sambas-canção sentimentais, de tom exacerbado, caso de Waldick Soriano (1933 – 2008).
O adjetivo brega se estendeu por vezes aos próprios cantores, gerando mágoas e ressentimentos no meio musical, em ação que opôs artistas e críticos. Reginaldo Rossi é exceção por, além de nunca ter se incomodado com o rótulo, ter incorporado o epíteto de Rei do brega. Já Wando (1945 – 2012) e Moacyr Franco, entre outros cantores, sempre manifestaram repulsa ao adjetivo.
O brega como substantivo é a música em si. Só que é difícil estabelecer um conceito claro do que seja música brega, uma vez que o termo é genérico e abarca vários gêneros musicais (assim como o forró é largo chapéu que abriga baiões, xotes e xaxados).
No entanto, é consenso que o uso do adjetivo reflete a existência de uma hierarquia social e/ou cultural. Caracterizar a música do gosto alheio como sendo de baixa qualidade é questão de gosto, de referência de alguém que se considera mais culto. O termo brega sempre esteve envolvido em estigma e preconceito. Alguém que se considera dono de um gosto mais refinado desqualifica o gosto musical alheio, apontado como ruim.
Há quem descreva o brega como música trivial, escrita com sentimentalismo e clichês melódicos e poéticos. Mas essa é a ótica de quem desgosta desse estilo de música mais despudorado por defender uma canção em tese mais sofisticada. Ou seja, é tudo questão de gosto, ainda que a estética da música de um compositor como Chico Buarque seja indiscutivelmente (?) bem mais requintada.
Toda a questão reflete uma posição na pirâmide social. Geralmente quem enche a boca para rotular uma música ou cantor de brega é alguém rico ou no mínimo de classe média que se acha culturalmente superior ao povão pobre que consome o som tido como brega. É assim desde que o samba-canção é samba-canção.
Dentro dessa conceituação confusa e por vezes sem fundamento que não o gosto pessoal de cada um, o brega segue vivo na música brasileira como patrimônio cultural, gerando subgêneros como o tecnobrega paraense e o arrocha baiano, e já com um dia para chamar de seu, embora, na maior parte do Brasil, todo dia seja dia de brega.
Foto Capa: Reprodução/Divulgação
Fonte: https://g1.globo.com