Cidades

Corpo do jornalista Geneton Moraes Neto é velado nesta quarta

Geneton Moraes Neto brilhou por 40 anos no jornalismo (Foto: Globo/Divulgação)

O corpo do jornalista e escritor Geneton Moraes Neto é velado desde o início da manhã desta quarta-feira (24), no Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária do Rio. Ele morreu no fim da tarde de segunda-feira (22), aos 60 anos, vítima de um aneurisma dissecante na aorta. Geneton estava internado desde maio na Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul da cidade. O corpo do jornalista será cremado.

O diretor geral da Rede Globo, Carlos Henrique Schroder, esteve presente no velório e descreveu o jornalista como um profissional que tinha a preocupação de sempre buscar algo novo. Para Schroder, Geneton deixa sua marca e seu modo de fazer jornalismo como ensinamentos para as próximas gerações.

"É muito triste, muito duro. Talvez perder o Geneton no momento mais criativo da carreira dele. O Geneton era um jornalista vigoroso, forte, ético. O Geneton tinha uma preocupação permanente e nos encantava nas redações, que era buscar algo sempre diferente, algo novo, com um jeito diferente de contar uma história. Ele surpreendia a cada reunião, a cada discussão, trazendo algo novo e algo diferente. Ele deixa, certamente, isso plantado para as gerações futuras, esse jeito de pensar, esse jeito de fazer que busca explicar melhor para o espectador uma história, que pode ser muito difícil, mas que ele facilitava e simplificava o jeito de contar", disse Schroder.

Amigos e parentes do jornalista começaram a chegar ao local às 8h. O caixão estava coberto com uma bandeira do Sport Recife, time de coração de Geneton.

"A gente trabalhou algumas vezes na Globo. Eu tenho uma admiração enorme pelo Geneton, era uma pessoa muito íntegra. Profissionalmente, era um cara que não queria saber de sucesso, não queria saber de dinheiro, só queria ser um bom jornalista e ele conseguiu fazer isso muito bem", disse o cineasta Guel Arraes.

O diretor de fotografia Walter Carvalho disse ter sido o último a visitar Geneton. Os dois tinham o projeto de fazer um documentário sobre Carlos Drummond de Andrade.

"A gente tinha uma aproximação e havia uma comarcão nossa que ele tinha umas entrevistas com o Drummond e ele queria transformar isso em um filme que teria uma parte ficcional. Eu iria fotografar com ele. Iríamos fazer esse ano, mas por questões de agenda não foi possível ser feito agora e a gente estava esperando exatamente um espaço na vida dele junto com o meu pra fazer e não ia passar desse ano. Eu fui a última visita que ele teve no hospital. Eu saí de lá às sete horas e ele operou no dia seguinte. A combinação era quando ele saísse do hospital a gente ia fazer esse filme. A gente ia filmar dois dias", disse Walter Carvalho.

Outros amigos e colegas comentaram sobre as qualidades profissionais de Geneton. "Pernambucano dos bons, de grande conversa, sabia se colocar. De televisão, entendia pra caramba. Tinha hora que você fazia uma conversa e você fica esperando o quê que o Geneton ia dizer. Se o Geneton concordasse com você era muito legal, se o Geneton não concordasse com você era melhor você ver onde você tava errado, provavelmente ele estaria certo", disse o jornalista Claudio Manoel.

O jornalista deixou a viúva, Elizabeth, três filhos, Joana, Clara e Daniel, e quatro netos, Beatriz, Dora, João Philippe e Francisco. Com mais de 40 anos de carreira no jornalismo, Geneton era um apaixonado pelo exercício da reportagem, função que ele afirmava ser a "realmente importante" no jornalismo.

Começou no jornalismo impresso, no Diário de Pernambuco, depois foi para a sucursal Nordeste do Estado de S. Paulo,  sempre como repórter. Passou uma temporada em Paris, onde trabalhou como camareiro, motorista e estudou cinema na Universidade Sorbonne.

De volta ao Brasil, foi editor e repórter da Rede Globo Nordeste e depois na Rede Globo Rio. Foi editor executivo do Jornal da Globo e do Jornal Nacional, correspondente da GloboNews e do jornal O Globo em Londres, repórter e editor-chefe do Fantástico.

Na GloboNews desde 2006, estava à frente do programa Dossiê. Em agosto de 2009, estreou um blog no G1, que manteve atualizado até abril de 2016.

Geneton também era escritor: publicou oito livros de reportagem e entrevistas. E seguiu o caminho dos documentários, o mais recente sobre Glauber Rocha.

Pernambucano, nasceu, como gostava de enfatizar, "numa sexta-feira 13 [de julho], num beco sem saída, numa cidade pobre da América do Sul: Recife". Saiu do referido beco sem saída para ganhar o mundo fazendo jornalismo. Seus primeiros passos na profissão foram aos 13 anos de idade, escrevendo artigos amadores para o "Diário de Pernambuco" onde, poucos anos depois, conseguiu seu primeiro emprego.

Geneton entrevistou seis presidentes da República, três astronautas que pisaram na Lua, os prêmios Nobel Desmond Tutu e Jimmy Carter, os dois militares que dispararam as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, a mais jovem passageira do Titanic e o assassino de Martin Luther King, entre muitos outros personagens históricos.

Entre os entrevistados que enfrentaram a “metralhadora jornalística” de Geneton estão os generais Newton Cruz e Leônidas Pires Gonçalves, que ocuparam importantes postos de comando durante o regime militar e cujas entrevistas renderam ao repórter o Prêmio Embratel de Telejornalismo de 2010.

Guardava as fitas brutas de todas as suas entrevistas. Parte delas ele enviava para o Centro de Documentação da Globo, outra guardava em casa.

"Todo profissional precisa de uma bandeira. Escolhi uma: fazer jornalismo é produzir memória. De certa forma, é o que me move", afirmou o jornalista em depoimento ao Memória Globo.

Em 2010, ao receber o prêmio Embratel de jornalismo, Geneton publicou em seu blog "pequena carta aos que gastam sola de sapato fazendo Jornalismo". Escreveu que "fazer Jornalismo é saber que existirá sempre uma maneira atraente de contar o que se viu e ouviu" e outros lemas.

Além de reportagens, Geneton Moraes Neto publicou diversos livros, dentre eles “Hitler/Satalin: o Pacto Maldito”, “Nitroglicerina Pura”, “O Dossiê Drummond: a Última Entrevista do Poeta”, “Dossiê Brasil”, “Dossiê 50: os Onze Jogadores Revelam os Segredos da Maior Tragédia do Futebol Brasileiro”, “Dossiê Moscou, “Dossiê História: um repórter encontra personagens e testemunhas de grandes tragédias da história mundial” e “Dossiê Gabeira”.

O jornalista também produziu documentários como o “Canções do Exílio”, exibido no Canal Brasil, com depoimentos de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Mautner e Jards Macalé, sobre o período em que moraram em Londres, e “Garrafas ao Mar: a Víbora Manda Lembranças”, que reúne entrevistas que ele gravou nos 20 anos de convivência com o jornalista Joel Silveira, um dos maiores repórteres brasileiros.

Em 2012, Geneton recebeu a Medalha João Ribeiro concedida anualmente pela Academia Brasileira de Letras (ABL) a personalidades que se destacam na área de cultura.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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