A terapeuta Maria Elisa Gothardi Soares, 71, tem apostado em compras uma vez por mês para tentar reduzir o impacto das altas em seu orçamento doméstico. "Quando acaba algum item, eu até apelo para o mercadinho do bairro, mas tento agora comprar tudo de uma vez", afirma.
Outra tática da terapeuta é comprar alguns itens em atacadistas, que geralmente cobram mais barato pelo volume de produtos iguais adquiridos pelos clientes. De olho nos preços, ela também varia o cardápio quando percebe que um produto está ficando mais caro. "Se a carne está cara, vou para o peixe ou o frango", diz.
A aposentada Ivanir Sonner, 66, que fazia compras semanais com o marido, também passou a ir apenas uma vez ao mês ao supermercado. "Faço agora compras mais pesadas para economizar", afirma a aposentada, que sentiu principalmente o aumento do preço dos laticínios.
Além disso, Ivanir resolveu substituir algumas marcas por similares mais baratas. "Não me arrependo. Às vezes você está tão acostumada com uma marca que nem percebe que há outras melhores", diz.
Ana Lúcia Pais, 51, é outra que apostou na substituição de alguns produtos. "Com a inflação, fiquei mais atenta aos preços. Troquei algumas marcas, como a do sal e do óleo de cozinha, e me surpreendi, pois a qualidade era bem próxima à dos produtos mais caros", diz a dona de casa, que vai ao supermercado semanalmente.
"Assim ajusto a lista de compras de acordo com as necessidades de cada semana e evito desperdícios em casa", diz.
MENOS ITENS NO CARRINHO
De setembro para cá, a representante comercial Regina Aparecida Martins Minha, 49, também viu suas compras ficarem mais caras. "Os produtos de limpeza e de higiene pessoal subiram muito em pouco tempo, mais até do que os artigos de primeira necessidade", afirma. Para não se enrolar financeiramente, Regina resolveu reduzir a quantidade de itens comprados.
"Se eu comprava cinco litros de leite para durar uma semana, agora compro quatro. Mas não abro mão de marca de qualidade", afirma a representante comercial, adepta das compras mensais.
Foi a mesma decisão tomada pelo aposentado Tarcísio Dorotheu Silva, 61. "Todo mês eu via um aumento de 5% no total das compras. Então decidi cortar supérfluos e estou comprando apenas coisas básicas. Estamos comprando menos para não inflacionar o orçamento", diz.
Essa tendência é confirmada por Paulo Marcos Gomes dos Santos, responsável pela área administrativa da loja do supermercado Extra em Perdizes. "Eles estão segurando mais o dinheiro, tentando economizar. Estão focando mais nos produtos essenciais", diz.
Pesquisar é outra das armas dos consumidores para enfrentar a alta dos preços. A diarista Elenilda Almeida da Silva, 41, costuma checar o preço em vários supermercados antes de ir às compras.
"Faço uma pesquisa para saber onde os produtos estão mais baratos. No final do mês a diferença compensa", diz.
ORIENTAÇÕES
Para Celso Grisi, coordenador de projetos da FIA, entidade privada ligada à USP, a redução do número de idas ao supermercado é uma das principais estratégias contra a inflação. "Se a pessoa comprava quatro vezes ao mês, deve considerar comprar duas, uma no início e outra no meio do mês. É uma forma de tentar não ser vítima da inflação, pois os preços estão subindo rapidamente", diz.
Mas vale lembrar que essa regra não vale para todos os produtos. "É preciso fazer uma compra consciente. Há produtos com data de validade bem curta. Não adianta ir ao mercado e comprar alface para o mês inteiro. Não vai dar certo", afirma o planejador financeiro Valdir Valdir Carlos Jr.
Para ele, pesquisar é sempre válido, mas o consumidor deve evitar compras muito "pingadas". "Veja os preços nos supermercados, mas, antes de comprar um item em um e outro item em outro, coloque na ponta do lápis gastos com gasolina, ônibus ou táxi. Até porque ir a muitos locais consome um tempo desnecessário", diz.
Além disso, a substituição de produtos mais caros por similares mais em conta também é indicada.
O planejador financeiro também lembra que, embora os atacadistas geralmente ofereçam preços mais competitivos, é preciso ter espaço para estocar os produtos e saber se eles serão consumidos antes de expirar seu prazo de validade.
"O momento de inflação que a gente vive não requer atitudes desesperadas. O risco de uma inflação maior sempre vai existir, mas é pouco provável que vejamos aquele cenário de inflação da década de 1980. Vejo um cenário inflacionário, mas não de superinflação", diz.
Segundo Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper, instituto de ensino e pesquisa, é interessante que cada um calcule sua própria inflação para que saiba quais itens podem ser cortados.
Para isso, basta anotar todos os gastos e os da família em uma planilha ou caderno e verificar a variação de preços de cada item ao longo dos meses.
Dessa forma, fica mais fácil reorganizar as finanças por meio de substituições simples de produtos e hábitos que não afetam radicalmente a rotina.
Manter uma reserva de emergência na poupança ganha mais importância em época de escalada de preços. "Não são recursos para comprar algo, mas para administrar o orçamento do ano em caso de surpresas, como um conserto em casa ou um tratamento médico", diz Rocha, do Insper.
Folha de S. Paulo