No ano passado, o banco recebeu uma injeção de R$ 400 milhões de sua antiga controladora, Kátia Rabello. A Folha apurou que esse aporte deu fôlego para que o banco não entrasse na zona de insolvência.
Kátia foi condenada a 16 anos e oito meses de prisão e ao pagamento de R$ 1,5 milhão em multa por permitir que seu banco ajudasse a lavar o dinheiro do mensalão.
Outros dois executivos, José Roberto Salgado e Vinícius Samarane, também foram condenados e juntos terão de pagar R$ 1,5 milhão. O banco recebeu ainda multa de R$ 1,6 milhão do Banco Central por causa das operações de lavagem de dinheiro.
O grupo Rural agora terá de pagar credores de duas falências, a da Vasp e a da distribuidora de combustível Petroforte. O grupo nega irregularidades (leia abaixo).
Na Vasp, o Banco Rural e uma empresa do grupo, a Rural Agroinvest, perderam um recurso na semana passada no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e foram condenados a pagar cerca de R$ 110 milhões a ex-funcionários.
A companhia aérea teve sua falência decretada em 2008 e deve R$ 1 bilhão a 4.200 funcionários. Neste caso, o banco Rural já fez o provisionamento, sinal de que honrará o compromisso. O Rural, segundo a Justiça, ajudou o ex-dono da Vasp, Wagner Canhedo, a tirar R$ 38 milhões do grupo em 2004. À época, já havia uma decisão judicial de que todos os bens dele deveriam ser usados para pagar dívidas trabalhistas.
No caso da Petroforte, o valor é mais elevado. Neste mês, a Justiça determinou que bens e empresas do Rural ficassem bloqueados em garantia pelo pagamento de R$ 1,2 bilhão, valor da dívida da Petroforte. A distribuidora pertencia a Ari Natalino da Silva, morto em 2008, e tornou-se insolvente em 2003. Antes da recuperação judicial, o empresário pediu um financiamento à Rural Leasing, dando uma usina de R$ 200 milhões como garantia.
Sem o pagamento, o Rural tomou o bem, que foi repassado a outra empresa, a Securinvest. Os credores suspeitaram da transação e conseguiram autorização judicial para investigar a Securinvest no exterior. Descobriram que Kátia Rabello era a dona da Securinvest, o que ela nega.
A Justiça, então, entendeu que Rural e Petroforte formavam um mesmo grupo econômico e estendeu a falência da Petroforte a diversas empresas do Rural. Até a participação de Kátia no banco, cerca de 15%, foi empenhada.
No final de 2012, o grupo conseguiu convencer o juiz a aceitar uma proposta de acordo. A usina ficou com a massa falida e os demais bens do grupo Rural foram liberados.
Há 13 dias, houve uma reviravolta. Com a saída do juiz, promovido a desembargador, a decisão foi cancelada e os bens do Rural voltaram a ficar empenhados. Agora, os credores tentam reaver até os R$ 400 milhões injetados por Kátia Rabello no banco.
OUTRO LADO
O grupo Rural diz que os questionamentos sobre a licitude da operação com a usina de açúcar estão circunscritos a uma operação feita pela Rural Leasing em 2000 e homologada pela Justiça, em 2003.
O banco, segundo essa posição, não tem relação com a falência da Petroforte.
Para o Rural, a operação com a usina foi lícita, apesar de a Justiça ter incorporado esse bem à massa falida e ter estendido a falência a Kátia Rabello, acionista do banco, em 2010.
O grupo informa que a operação de leasing foi de R$ 16 milhões e que o valor atual de mercado da usina, de R$ 200 milhões, "ultrapassa em muitas vezes o valor inicial da operação, mesmo adicionando-se as correções monetárias do período".
A assessoria do grupo afirma que "em nenhum momento desse processo foi possibilitado às partes a produção de provas para demonstrar a lisura da operação".
Ainda segundo assessores, "Kátia Rabello, que é acionista minoritária do Banco Rural, ainda espera ter a oportunidade de demonstrar que não é proprietária da empresa Securinvest".
O Rural diz ser credor da massa falida e espera receber R$ 8,8 milhões.
Fonte: FOLHA.COM