Economia

Compensa sair do emprego para operar na Bolsa de Valores?

O policial militar Denílson Lucas Vieira comemora toda vez que é escalado para trabalhar à noite. Sempre que vira madrugadas patrulhando a cidade de Votuporanga, interior de São Paulo, Vieira ganha dois dias de folga. E é aí que ele exerce sua segunda profissão: a de daytrader, aquele operador do mercado financeiro que compra e vende ativos no mesmo dia.

— Deixo em torno de R$ 2.000 na minha conta corrente para trabalhar com o daytrade, trabalhando com contratos de dólar e índices. Faço, em média, R$ 1.000 por dia. Se o mês tem 20 dias úteis, faço em torno de R$ 20 mil.

Parece fácil, mas não é: para se tornar trader, é preciso estudar muito. Vieira, por exemplo, disse que revirou livrarias e leu a literatura relacionada ao mercado financeiro durante um ano antes de dar o primeiro clique para uma ordem de compra.

— Eu entrei com essa expectativa de ganhar muito dinheiro, mas a gente percebe que não é tão simples assim como aparece na mídia. Não pode pensar que você vai comprar uma ação de uma empresa boa, deixar render e daqui a seis meses vai retirar muito dinheiro. Foi por isso que pensei em fazer o daytrade, porque você não fica sujeito às notícias da noite que passou.

A profissão de daytrader é relativamente nova no Brasil e interesssa especialmente à parcela da população brasileira sem emprego — cerca de 23 milhões de pessoas. As vantagens da carreira incluem a possibilidade não ter chefe, traçar sua própria jornada de trabalho, definir quanto tempo por dia operar e atuar de qualquer lugar do mundo — você só vai precisar de uma internet de qualidade e contar com o serviço de uma operadora para isso.

Desde dezembro de 2015, porém, os investidores que compram e vendem no mesmo dia ganharam um reforço no caixa: a possibilidade de operar como daytrader com o dinheiro dos outros. A Atom (ATOM3) permite que você opere no mercado financeiro com o capital dela, mas antes você tem que estudar bastante e passar numa espécie de “vestibular”.

Para ganhar mais dinheiro aplicando a grana da empresa, o trader depende dele próprio. “É totalmente meritocracia e o trader terá parte dos lucros revertidos em ações da empresa, o que fará ele ganhar com a valorização e dividendos da companhia”, explica a diretora de relações com investidores da Atom, Carol Paiffer.

— O risco é nosso. Não do trader. Ele não coloca dinheiro na empresa, nem mesmo depois de ganhar ele pode investir. O trader tira sua parte, de 40% a 60% dos ganhos dependendo do nível em que está, todo mês e investe onde achar melhor. Nunca na ATOM. Portanto fizemos os cálculos de quanto ele pode representar de perda para companhia, mas não afetará o capital da companhia.

A ATOM oferece cursos e treinamentos online pagos, o que gera caixa para a empresa. É com esse dinheiro que os traders operam e não comprometem os ganhos da companhia, explica Carol. Antes de chamar seu chefe numa sala e pedir demissão, porém, o empregado tem que se precaver financeiramente, explica a diretora.

— Para sair da atual profissão e se tornar um trader, a pessoa precisa ter um pé de meia para se garantir. A profissão dá muito dinheiro, mas, se você precisa ganhar o dinheiro no dia seguinte, acaba perdendo e afetando o psicológico. Outro ponto importante é gostar. Se a pessoa gostar dessa profissão, será extremamente bem-sucedida.

Armadilhas

Não pense, porém, que a carreira de daytrader é “só alegria”. Assim como qualquer outra profissão, operar todo dia no mercado financeiro tem as suas armadilhas. Antes de mais nada, o operador tem que saber que vai pagar 20% de IR (Imposto de Renda) sobre os ganhos líquidos. O próprio Denílson, o investidor que abre essa reportagem, destaca esse detalhe.

— Os R$ 1.000 que ganho não são líquidos. Tem 20% de imposto, mais as taxas operacionais da Bovespa e a taxa de corretagem. Entre impostos e taxas, vai dar em torno 25%. 

Além disso, existem as questões emocionais da profissão. A diretora da Atom explica que o “trader sempre é pego pelo psicológico” e, por isso, grandes investidores procuram a empresa para ter “disciplina”.

— Se não tem um limitador, o trader tende a crescer o ego e começar a errar várias vezes, em seguida, e nesse momento ele se perde. Nos preocupamos em montar uma forma que nunca chegue a esse ponto. Além disso ao entrar para equipe o trader pode escolher um mentor, que irá ajuda-lo nesse processo de aprendizado e ajudar a enxergar falhas e momentos ruins.

Trader há mais de 15 anos, o professor de finanças e economista da NeoValue Investimentos, Alexandre Cabral, vai além nas críticas da profissão e adverte que, “ter a obrigação de daytrade, não é vida para ninguém”.

— A carreira é uma loucura. Conheço gente que perdeu bastante dinheiro porque operou sem critério. A grande armadilha é a obrigação de zerar no mesmo dia. Às vezes, a pessoa acertou a tendência, mas errou o ‘time’. Se zerasse no dia seguinte teria lucro. Mas operar olhando relógio é loucura.

Caso queira mesmo assim se tornar um operador da Bolsa do dia a dia (daytrader), o interessado precisa “estudar muito”, diz Cabral.

— Não recomendo a ninguém operar sem antes estudar por uns 6 meses. [Também deve] fazer várias operações no caderno, para ver se entendeu a dinâmica do mercado.

Fonte: R7

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Economia

Projeto estabelece teto para pagamento de dívida previdenciária

Em 2005, a Lei 11.196/05, que estabeleceu condições especiais (isenção de multas e redução de 50% dos juros de mora)
Economia

Representação Brasileira vota criação do Banco do Sul

Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela, além do Brasil, assinaram o Convênio Constitutivo do Banco do Sul em 26