"Não há triagem nenhuma, não há avaliação sanitária. A imigração no Brasil está sendo feita de forma indiscriminada. Com a confirmação do vírus ebola no Senegal e, em virtude de estarem entrando muitos senegaleses pelas fronteiras do Acre, nosso temor ficou ainda maior", diz Albuquerque.Segundo ele, todos os agentes estão preocupados e pedem uma equipe permanente nos locais. "É responsabilidade do Ministério da Saúde fazer essa triagem e avaliar as condições dos imigrantes que entram no Brasil. A reclamação é generalizada, todos os policiais da imigração estão preocupados. Nós sabemos que o risco é pequeno, mas queremos uma solução", completa.
Procurado pelo G1, o Ministério da Saúde ressaltou que não há risco de contaminação do vírus ebola no Brasil, mas informou, que diante do temor da doença, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) enviou uma equipe ao estado.O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, disse ao G1 que a equipe enviada ao Acre é composta por duas pessoas que vão avaliar quais as dificuldades que o governo vem enfrentando na fronteira. A equipe deve ficar no estado até sexta-feira (12)."Recebemos um ofício do governador, mas como não tinha nenhum pedido concreto sobre controle sanitário na fronteira, resolvemos mandar essa equipe para fazer uma avaliação e identificar quais as necessidades em relação a entrada de imigrantes no estado. Depois de um diagnóstico concreto veremos se o Acre está precisando, por exemplo, de mais uma ambulância do Samu, ou se é necessário treinar os servidores", diz.
Ele explica que a triagem de imigrantes não é feita na fronteira, mas no abrigo em Rio Branco. "Na fronteira não tem como atendê-los e fazer uma triagem, a não ser que seja detectado que o imigrante esteja visivelmente doente", explica.Jarbas esclarece ainda as medidas aplicadas aos imigrantes no Acre são as mesmas feitas nos aeroportos e que não se pode separar os imigrantes por país de origem. "A medida para ser efetiva não pode ser discriminatória para um país ou para outro. No Acre, não está acontecendo nenhuma situação diferente da que ocorre nos aeroportos. Não é feito atendimento de saúde no próprio local. Se a pessoa entra no país e está visivelmente doente, ela precisa ser colocada em uma área afastada", afirma.
Ele informa também que orientações sobre o ebola foram repassadas à Polícia Federal. "Mandamos para eles informações sobre o ebola, que talvez os agentes não saibam. Esse vírus não se transmite pelo ar, só quem tiver contato direto com sangue e secreções, se não tiver, não tem risco. Não faz parte do recebimento de imigrantes ter contato com secreção", diz.O Ministério da Saúde esclarece ainda que 'é pouco provável a possibilidade de transmissão do vírus Ebola em decorrência da entrada de haitianos e africanos – especialmente de países como Senegal, República Dominicana – no Acre pela fronteira com o Peru. A epidemia de Ebola está concentrada na África Ocidental, atingindo os países da Guiné, Serra Leoa, Libéria e Nigéria (cidade de Lagos)'.
E ressalta que o fato ocorrido recentemente, de um paciente da Guiné que se deslocou para o Senegal em busca de atendimento médico, 'não representou, até o momento, a transmissão naquele país'.A Polícia Federal também esclareceu, em nota, que o atendimento de controle migratório no Estado do Acre é normal e não há nenhuma orientação de restringir o acesso de africanos ao território nacional. "Deve-se ressaltar que o Ministério da Saúde afastou o risco de contaminação do vírus Ebola no Brasil. Caso forem constatadas irregularidades cometidas por servidores da PF serão tomadas as medidas disciplinares cabíveis".
Dos 450 imigrantes instalados até esta quarta-feira (10) no abrigo em Rio Branco, 80 são senegaleses, 22 dominicanos, 1 nigeriano, 1 colombiano e os demais haitianos. Segundo a Secretaria Estadual de Direitos Humanos do Acre (Sejudh), os estrangeiros saem de Dacar, capital do Senegal, fazem escala em Madri, na Espanha, e depois seguem direto para Quito, no Equador. Quando chegam em Quito, se juntam aos haitianos e usam a rota pelo Peru para entrar no Acre.Desde 2011, o Ministério da Saúde presta assistência ao Acre para atendimento aos imigrantes que chegam ao estado. Em parceria com a Sesacre e a Secretaria Municipal de Brasiléia, foi criado o Plano de Ação para o Enfrentamento da Questão da Migração de Haitianos. O plano estabeleceu diversas ações em saúde, na atenção básica, vigilância e atenção especializada.
Preocupação vai além
Segundo o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre (Sejudh), Nilson Mourão, a preocupação não se restringe apenas aos agentes da Polícia Federal, atinge também os servidores da Receita Federal, Ministério do Trabalho e Emprego, e até as secretarias que trabalham diretamente com os imigrantes senegaleses."Todos nós que entramos em contato direto com os imigrantes ficamos preocupados. Há um problema sim, grande e grave frente a esse caso. Nós já havíamos nos manifestado junto aos órgãos pertinentes pedindo o envio imediato de uma equipe técnica do Ministério da Saúde para fazer controle e monitoramento do ingresso dos imigrantes senegaleses. Isso já está lá no Ministério da Saúde há aproximadamente 40 dias e nós não obtivemos, até o presente momento, um retorno oficial dessa demanda", falou.
De acordo com a coordenação da Anvisa no Acre, o titular do órgão esteve na terça-feira (9) em uma reunião nos municípios de Brasiléia e Epitaciolândia, para definir a situação da entrada de imigrantes senegaleses e tomar providências em relação a inspeção sanitária. Nesta quarta-feira (10), está marcada outra reunião, em Assis Brasil, também para tratar sobre o mesmo assunto. A reunião será feita entre funcionários dos Centros Integrados de Vigilância Epidemiológica daqueles municípios e representantes de órgãos da Saúde no Acre.Desde dezembro de 2010, entraram no Brasil, pelas fronteiras do Acre, mais 20 mil imigrantes.
No Acre, senegalês quer trazer família ao Brasil
O marinheiro Ibramahima Diona é senegalês e veio para o Brasil há menos de um mês em busca de uma oportunidade de emprego. Ele foi convidado por um primo, também senegalês, para trabalhar na cidade mineira de Poço Fundo."Trabalhei como marinheiro na Espanha, depois voltei para Senegal. Quando meu primo, que está aqui há mais de um ano, me convidou para trabalhar com ele em Poço Fundo, deixei minha esposa e três filhas. Vim procurar emprego, novas condições de vida, mas quero mandar buscar minha família", diz.
Apesar dos rumores sobre o medo de servidores do estado de entrar em contato com os imigrantes por causa do ebola, Diona diz que não sofreu nenhum tipo de preconceito nem rejeição no Acre e afirma que nenhum caso foi confirmado em seu país."Ouvi falar que já morreram pessoas no Senegal com o vírus, mas falei com um parente que mora lá e ele disse que ainda não tem nenhum caso registrado. Espero que não tenha mesmo, porque é uma doença muito perigosa, seria muito ruim para o nosso país. Não senti nenhum tipo de preconceito quando cheguei, fui bem recebido", disse.
O delegado da Polícia Federal de Epitaciolândia, Valdir Celestino da Costa, informou ao G1 que naquele município nenhum agente se opôs a atender os imigrantes até o momento. "Nós aqui não temos problema, a fiscalização está ocorrendo normalmente. Ainda não temos nenhuma orientação sobre esse assunto. É claro que nós temos algum receio de contrair a doença, mas como o Ministério da Saúde até agora não nos deu nenhum indicativo de risco, nós continuamos trabalhando normalmente", garantiu.
G1